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Lula deseja “nome de diálogo” na presidência da Câmara, mas Lira ainda terá peso na escolha

Impactos da desistência de Marcos Pereira (Republicanos-SP) de disputar o cargo e a escolha de Hugo Motta (Republicanos-PB) para substituí-lo no pleito mudaram o tabuleiro político

Lula e Lira: presidentes da República e Câmara têm debatido intensamente nas últimas semanas sobre o processo de sucessão no Legislativo (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)

Lula e Lira: presidentes da República e Câmara têm debatido intensamente nas últimas semanas sobre o processo de sucessão no Legislativo (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 5 de setembro de 2024 às 18h38.

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Em meio à reviravolta no processo de escolha do sucessor de Arhtur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sinalizado aos auxiliares mais próximos que desejaria conviver com um “nome de diálogo” nos dois últimos anos de mandato.

Os impactos da desistência de Marcos Pereira (Republicanos-SP) de disputar o cargo e a escolha de Hugo Motta (Republicanos-PB) para substituí-lo mudaram o tabuleiro político para uma candidatura mais “amigável” ao governo, afirmaram à EXAME técnicos da ala política. Entretanto, os mesmos governistas admitem que nada está definido, diversos acordos precisam ser feitos e o aval de Lira ao escolhido também será necessário. A eleição para o novo presidente da Câmara, vale lembrar, acontece apenas em fevereiro de 2025.

Pereira, que preside o Republicanos, sofria forte resistência do PT e de membros do governo pela relação estreita que mantém com o bispo Edir Macedo, da igreja Universal. Macedo, que já foi próximo de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, fez campanha para tentar reeleger Jair Bolsonaro em 2022.

“Diante deste cenário, abri mão de minha candidatura e decidi colocar ao presidente Arthur Lira a opção do líder da bancada do Republicanos, Hugo Motta, para que ele seja o nome de consenso entre todas as alas políticas do plenário. Uma decisão em prol da Câmara, de todos os deputados e do Brasil”, informou Pereira, em nota divulgada na última terça-feira.

Já Motta, que lidera o Republicanos na Câmara, é um político jovem de 34 anos, não possui o carimbo de membro da Universal, transita entre líderes do Centrão, do bolsonarismo e do dos partidos de esquerda. Além disso, sua candidatura depende de vários acordos com diversos partidos e autoridades, o que reduziria seu poder na largada, disse um auxiliar de Lula. “O que se pretende é não ter um outro presidente da Câmara com o perfil de Lira”, disse o mesmo assessor do presidente da República.

Lucas de Aragão, sócio da empresa de análise política Arko Advice, afirmou que Motta parece ter maior capacidade de atrair apoio e simpatia dos governistas e do grupo liderado por Lira para disputar a presidência da Câmara. Segundo ele, a tendência é que o deputado alagoano será pragmático e apoiará o candidato que agregará maior apoio entre os partidos. Entretanto, Aragão disse que as tratativas ainda levarão algum tempo.

Acordos para viabilizar um sucessor

Até a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto, de restringir o pagamento de emendas parlamentares, afirmou outro técnico governista, Lira tinha forte influência sobre os deputados e mantinha uma base fiel ao ponto de escolher seu sucessor, sem grande interferência do governo. Com a suspensão dos repasses, o presidente da Câmara mudou de postura e, nas últimas semanas, se reuniu diversas vezes para tratar a sua sucessão. “Mesmo dizendo que não interferiria no processo, Lula passou a ser consultado e terá voz ativa na sucessão para a Câmara”, disse um interlocutor.

No Planalto, a avaliação é de que Lira mudou de postura, quer negociar e poderia até ser ministro do governo, se os acordos permitissem. Os ministérios da Saúde e das Comunicações seriam opções. “Ele não quer deixar a presidência da Câmara e voltar para a planície”, disse um parlamentar próximo do deputado alagoano.

Duas vagas no Tribunal de Contas da União (TCU) também devem ser moedas de troca na sucessão da Câmara já que o governo pretende convencer o ministro Aroldo Cedraz a antecipar a aposentadoria. Ele completa 75 em 2026 e deixaria o posto compulsoriamente. A outra é do ministro Augusto Nardes, que tem sinalizado a disposição de se candidatar ao governo do Rio Grande do Sul pelo PL nas próximas eleições e anteciparia a aposentadoria.

Essas vagas, afirmam auxiliares de Lula, poderiam atender alguns dos pré-candidatos. Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA), que não tem sinalizado disposição em desistir de disputar a sucessão de Lira. Elmar se reuniu nesta quarta-feira em São Paulo com Gilberto Kassab, presidente do PSD, segundo informou O Globo.

No caso do Brito, afirmaram auxiliares de Lula, o desejo é de conquistar uma vaga no TCU. Nascimento não pretende abrir mão da candidatura e o governo cogita oferecer a ele uma vaga no tribunal. Entretanto, Pereira também deseja um acento na corte de contas, confidenciaram técnicos da ala política. Esse arranjo ainda precisa ser acertado. Publicamente, Pereira nega o interesse pelo TCU, conforme afirmou à Folha de S. Paulo. Num próximo passo, Pereira mira uma vaga no STF, segundo EXAME apurou.

Enquanto Motta surge como uma alternativa para a presidência da Câmara, Nascimento tenta convencer os petistas de que será um nome de diálogo. Ele tem trabalhado para se aproximar do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e do senador Jaques Wagner (PT-BA), históricos adversários políticos na Bahia.

O deputado do União Brasil é histórico aliado de Antonio Carlos Magalhães Neto, que libera um grupo no partido que não aderiu a base governista. ACM Neto, inclusive, tem sinalizado disposição em embarcar na gestão petista caso Nascimento seja o próximo presidente da Câmara. Essa possibilidade, entretanto, sofre forte resistência de Costa e Wagner.

“Todos os jogadores no tabuleiro são profissionais. As reuniões de Lira com o presidente da República mostram que Lula passou a ser peça chave no processo. Mas nada está definido”, completou um técnico da ala política.

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