Lula, Boulos e Marta: Candidato do PSOL quer usar o presidente e a ex-prefeita como trunfo na campanha (Leandro Paiva/@leandropaivac/Divulgação)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 22 de julho de 2024 às 16h56.
Última atualização em 22 de julho de 2024 às 19h17.
No sábado, 20, milhares de militantes da esquerda paulistana se reuniram na Expo Center Norte, na zona norte da capital, para a convenção que confirmou a chapa do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) na corrida pela prefeitura de São Paulo. Entre bandeiras, adesivos e até baterias de escola de samba, o clima festivo da convenção entregou um pouco da estratégia que a campanha deve adotar até outubro.
A aposta será nacionalizar a disputa e usar a máquina federal com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ministros do governo. Além disso, tentará colar a imagem do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) à do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mostrar os feitos de gestões progressistas anteriores e reforçar a ideia de que a cidade de São Paulo precisa de mudança.
Um dos sinais vistos no evento, perceptível durante os discursos dos representantes de todos os partidos que fazem parte da coligação em torno do deputado federal, foi a tentativa de nacionalizar a disputa. De diferentes formas, todos afirmaram que a eleição de São Paulo serve como mensagem sobre o que acontecerá no restante do Brasil e que é preciso “vencer a extrema-direita”.
As críticas a Nunes foram na linha de que a cidade está abandonada e que, em caso de vitória do emedebista, Bolsonaro terá ingerência na administração municipal. Placas com as frases “BolsoNunes Não” foram vistas nas mãos de diversos militantes.
Lula, inclusive, deixou claro em sua fala que a eleição em São Paulo é extremamente importante, em uma espécie de tira-teima de 2022, quando o petista venceu Bolsonaro na cidade. O presidente disse que sente como se "ele fosse o candidato" e que quer "ser o responsável pela vitória de Boulos".
Apesar do engajamento de Lula, o seu apoio não necessariamente será garantia de mais votos para o deputado na cidade. Segundo o último Datafolha, publicado no início de julho, 23% afirmaram que votariam em um candidato apoiado pelo presidente, enquanto 45% dizem que não votariam de jeito nenhum em um nome indicado por Lula.
Outro momento do evento mostrou que a campanha deve apostar na imagem dos ex-prefeitos de esquerda que administraram a cidade para dizer que Boulos pode fazer tanto ou até melhor que eles. Marta Suplicy, a vice da chapa, é uma das ex-gestoras da cidade mais bem avaliadas pela população, segundo pesquisas eleitorais. Ela tem medidas conhecidas -- e bem avaliadas --, como o Bilhete Único e os CEUs. Na época, não conseguiu se reeleger, assim como o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O desafio, porém, será explorar somente as marcas positivas das gestões petistas anteriores, enquanto os adversários vão relembrar dos problemas de seus aliados. Marta foi criticada por parte do eleitorado por ter aumentado os impostos na cidade com a criação da TRSD (Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares), conhecida como a 'taxa do lixo', e a Cosip (Contribuição Para Custeio da Iluminação Pública). Haddad, por sua vez, enfrentou uma enxurrada de críticas por ter reduzido a velocidade nas marginais, medida que foi revertida por João Doria, candidato que o derrotou em sua tentativa de reeleição em 2016.
Com imagem de radical de esquerda para parte do eleitorado por fazer parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), Boulos deve apostar na imagem de paz e amor para tentar diminuir a rejeição, na casa de 30%, e vencer em São Paulo. A escolha do nome da coligação, “Amor por São Paulo”, não foi por acaso. Entre os jingles que tocaram durante o evento, o mais repetido foi “Faz faz o coração. Quem ama SP faz o coração”. Outra música da campanha trata da esperança e da necessidade de mudança na cidade.
Boulos valorizou ainda, em seu discurso, que formou uma frente ampla. Vale destacar, porém, que o deputado não conseguiu furar a bolha e tem apenas partidos de esquerda ao seu lado. São oito siglas: PSOL, PT, PDT, Rede, PCdoB, PCB, PV e PMB, na maior aliança progressista da história da eleição na capital paulista. Outro feito de Boulos foi ter conseguido que o PT, pela primeira vez desde a redemocratização, não lançasse candidato e apoiasse seu nome.
A tentativa de se colocar como moderado e figura de uma frente ampla esbarra na falta de entregas concretas para a cidade. Boulos, com apenas dois anos de mandato na Câmara dos Deputados, não tem resultados para mostrar para a população. Diferente de Ricardo Nunes, que com os 12 partidos na aliança terá um dos maiores tempo de TV da eleição para mostrar a mais de mil obras que tem realizado nos últimos meses pela cidade.
Neste momento, Boulos aparece empatado tecnicamente com Nunes nas pesquisas eleitorais. Segundo o agregador EXAME/IDEIA, atualizado no último dia 5 de julho, com as 20 pesquisas de opinião de voto estimulada para as eleições para a prefeitura de São Paulo em 2024, o atual prefeito tem 26% e Boulos, 25%.
"Essa eleição, até o momento, é sobre o incumbente e o seu opositor. É uma eleição sobre dois mundos e visões diferentes. Com dois candidatos colocados com muita força, um apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro e o outro, pelo presidente Lula", disse Cila Schulman no podcast Eleições 2024 da EXAME.