Lula e Tarcísio: governador e presidente trocaram afagos ao anunciarem parceria (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 12h11.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2024 às 13h16.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira, 2, que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tudo que for necessário do governo federal, em aceno ao aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. A fala ocorreu durante o anúncio da construção do túnel Santos-Guarujá, com estimativa de investimento de R$ 6 bilhões.
“Quero te dizer Tarcísio, você terá da Presidência da República tudo aquilo que for necessário, porque eu não estou beneficiando o governador, eu estou beneficiando o estado mais importante da federação, com 42 milhões de habitantes, estado que eu devo tudo o que sou”, disse o presidente ao governador.
Lula disse ainda que o evento representa a necessidade da restauração da normalidade e que a normalidade é respeitar o direito às diferenças. Durante o evento, Lula e Tarcísio ficaram lado a lado no centro do palco. O petista foi celebrado pela plateia presente com gritos de “olê, olê ole olá, Lula”, e Tarcísio foi vaiado durante o seu discurso.
"Se não, a democracia fica capenga e a democracia é o respeito à diversidade, às diferenças, é a gente aprender a conviver com quem a gente não gosta, a gente respeita o direito até da pessoa não gostar da gente. Isso não impede que a gente seja responsável para lidar com as nossas diferenças, e eu quero dizer, governador Tarcísio, eu governei com o Alckmin, com o Serra, e nunca em nenhum momento eu tratei São Paulo diferente porque ele não pertencia ao meu partido", disse.
O presidente relembrou ainda que Tarcísio participou de governos petistas e disse que estranhou ver "ele trabalhar com o Bolsonaro”. Durante a fala de Lula, uma pessoa na plateia gritou “volta pro PT, Tarcísio”.
"Tarcísio trabalhou no Denit, trabalhou fazendo o gasoduto em Manaus quando eu era presidente. Eu encontrei com o Tarcísio em Quari no meio da Amazônia trabalhando no gasoduto. Depois ele trabalhou no governo Dilma. Eu estranhei vendo ele trabalhar com o Bolsonaro, mas paciência, é uma opção dele", disse, em momento de descontração do evento.
Segundo o petista, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou R$ 1,350 bilhão para o estado de São Paulo para o eixo Norte do Rodoanel. O presidente afirmou ainda, que o governo federal fará 12 institutos federais e que Santos e a cidade vizinha São Vicente serão beneficiadas.
Lula também criticou a ideia de privatização do Porto de Santos, bandeira defendida por Tarcísio. Segundo o petista, o governo federal irá mostrar que fará mais do que qualquer empresário no complexo portuário do litoral paulista.
"Aqui no Brasil se estabeleceu uma narrativa criada pela elite brasileira de destruir a imagem do Estado. De destruir a imagem do poder público. A ideia de que o Estado não vale nada, de que o governador não tem que ter ideia, de que o presidente não tem que ter ideia, que nós seremos bonecos na mão deles que apresentam para nós aquilo que acham que tem que ser feito", disse.
Em seu discurso, o governador de São Paulo agradeceu o presidente pela parceria em investimentos no Porto de Santos e a obra do túnel Santos-Guarujá.
"Me sinto privilegiado de estar celebrando essa parceria federal para entregar para a população um sonho de cem anos. E nós vamos sair esse sonho sair do papel. A gente está falando de R$ 6 bilhões de investimento. Quando a gente soma todo o investimento do túnel, na perimetral e nas casas, a gente passa fácil dos 8 bilhões, presidente Lula, e nós vamos fazer isso juntos. Temos que fazer a diferença na vida do cidadão, vamos deixar um legado trabalhando juntos, muito obrigada pela parceria", disse.
Tarcísio disse ainda que os investimentos em parceria com o governo federal devem superar R$ 8 bilhões. O governador também informou que, além das obras de logística, estão previstas obras de habitação para a região com o programa Minha Casa, Minha Vida.
O túnel será o primeiro imerso da América Latina. Serão investidos R$ 5,8 bilhões na obra, que terá 860 metros entre as margens (incluindo embocaduras) e ficará imerso sob o fundo do canal a uma profundidade de 21 metros.
O empreendimento está incluído entre as obras do Novo PAC e será resultado de uma parceria público-privada (PPP). Cerca de R$ 2,7 bilhões serão investimentos pelo governo estadual, R$ 2,7 bilhões do governo federal e R$ 600 milhões de um sócio privado. O túnel será pedágio e atenderá veículos, pedestres e ciclistas e a licitação está prevista para novembro.
Segundo o Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, há planos para a construção de uma ligação seca entre as duas cidades ao menos desde 1927, quando se cogitava a escavação de um túnel para a passagem de um bonde elétrico. Em 1948, a proposta era fazer uma ponte levadiça no local. Já em 1970, a alternativa discutida previa uma ponte com acesso helicoidal, que permitia a passagem de navios.