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Lucinha Araujo desmente frase de ministro da Educação atribuída a Cazuza

Ricardo Vélez Rodriguez atribuiu ao cantor a frase: "liberdade é passar a mão no guarda"

Cazuza e Lucinha: "Se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade" (Sociedade Viva Cazuza/Divulgação)

Cazuza e Lucinha: "Se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade" (Sociedade Viva Cazuza/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 17h54.

São Paulo — Lucinha Araujo, mãe do cantor e compositor Cazuza, divulgou nesta segunda-feira (4), uma carta aberta ao ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, desmentindo uma frase que ele atribuiu a seu filho.

Em entrevista à revista Veja da semana passada, o chefe do MEC disse que "liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda". 

A frase, no entanto, é de autoria desconhecida, que foi popularizada pelos humoristas do Casseta e Planeta nos anos 80.

Na carta, divulgada no site da Sociedade Viva Cazuza, Lucinha diz que considera inadmissível a citação.

"Se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade", escreve.

Ameaça de processo

No final do texto, a mãe do artista, que desde de sua morte, em 1990, lidera a Sociedade Viva Cazuza, solicitou uma retratação pública de Vélez Rodriguez.

"Gostaria de deixar aberta a possibilidade de se retratar publicamente para que não seja necessário ter que tomar providencias jurídicas", afirma.

Essa não foi a única polêmica da entrevista. Ao ser perguntado sobre porque defendia que a disciplina de educação moral e cívica voltasse para o currículo, ele disse: "necessário lembrar que existem contextos sociais diferentes e que as leis dos outros devem ser respeitadas. O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo".

Leia a pergunta ao ministro:

Veja — A liberdade de cátedra inclui ensinar marxismo, fascismo e liberalismo, ou o senhor discorda? 

Ricardo Vélez Rodríguez — Liberdade não é fazer o que você deseja. Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró. Nossas crianças e adolescentes devem ser formados na educação para a cidadania, que ensina como agir de acordo com a lei e com a moral.

Leia a carta na íntegra:

"Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade.

Não venho a público para discussão política, nesse momento, por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios pelos quais trabalho à frente da Viva Cazuza há 28 anos.

Cazuza foi um artista que deixou um legado através de sua obra, e isso não é a mãe do artista quem está dizendo, mas sim pela importância de sua obra, do número de novos artistas que a regravam, do quanto é tocado nos rádios, do quanto é baixado nos streamings, mesmo depois de 28 anos longe de nós. Se achar que é pouco, gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos.

Posso vislumbrar que não seja prioridade do atual governo programas sociais que visem a igualdade de direitos, respeito as minorias, educação e saneamento básico como prioridades, mas respeito a democracia que elegeu o atual presidente e que lhe nomeou. Mas, não posso deixar que declarações levianas coloquem na boca de Cazuza o que ele nunca disse. Gostaria de deixar aberta a possibilidade de se retratar publicamente para que não seja necessário ter que tomar providencias jurídicas.

Atenciosamente,

Lucinha Araújo

Mãe de Cazuza e Presidente da Sociedade Viva Cazuza"

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