Luís Cláudio: o filho de Lula recebeu recursos da empresa de Marcondes, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, entre 2014 e 2015 (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2016 às 20h49.
Brasília - Em depoimento prestado à Justiça Federal, o lobista Mauro Marcondes Machado, réu de ação penal que avalia suposto esquema de "compra" de medidas provisórias para favorecer montadoras de veículos, silenciou sobre pagamentos de R$ 2,5 milhões feitos ao empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O caso é investigado na Operação Zelotes.
O lobista foi questionado a respeito pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, mas a defesa do réu interveio e alegou que o assunto não é citado na denúncia que deu origem à ação.
Os repasses são investigados num inquérito ainda em curso. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal suspeitam de que os valores tenham ligação com a edição das medidas provisórias e também com a compra, pelo governo, dos caças suecos Gripen.
Marcondes representou interesses da indústria automobilística e também da Saab, que produz os aviões de defesa. O lobista começou a falar, mas foi interrompido por seu advogado, Roberto Podval.
Ao juiz, então, afirmou: "Guarde isso para o senhor. Gostaria muito de esclarecer, porque há uma completa distorção disso". E não falou mais sobre o assunto.
Podval, ao fim da audiência, disse que falar do caso, não tratado na ação penal, não seria conveniente para a defesa. "Só ia politizar o processo. A politização só me atrapalha", alegou.
Luís Cláudio recebeu recursos da empresa de Marcondes, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, entre 2014 e 2015.
Ele sustenta que os pagamentos foram por serviços de consultoria prestados efetivamente por sua empresa, a LFT Marketing Esportivo, e que não têm nenhuma relação com interesses do lobista no governo.
Marcondes já disse em depoimento prestado à Polícia Federal ter pago ao filho de Lula mesmo sabendo que o preço dos "serviços" era alto. Nesta quarta, afirmou que as declarações à PF foram dadas sob "pressão".
O lobista não respondeu perguntas do Ministério Público Federal, mesma estratégia usada por outros réus. Ele reiterou denúncia feita por sua defesa há alguma semanas de que, em visita à Penitenciária da Papuda, representantes do MPF e da PF o pressionaram a fazer delação premiada.
Referindo-se ao procurador José Alfredo de Paula, da força-tarefa responsável pela Operação Zelotes, disse que a colaboração foi proposta em troca de evitar que sua esposa, também ré, fosse transferida da prisão domiciliar para o regime fechado.
"Não sei porque estavam tão preocupados com delação", alegou.
Presente à audiência, o procurador Frederico Paiva, da equipe da Zelotes, disse que algumas abordagens aos réus são "técnica de investigação". As defesas protestaram.