Aécio Neves (Jose Cruz/ABr/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de maio de 2017 às 14h10.
Última atualização em 18 de maio de 2017 às 15h09.
São Paulo – A delação de Joesley Batista, da JBS, no âmbito da Lava Jato, representou um golpe sem precedentes para o agora senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
O dono da JBS entregou à Procuradoria Geral da República, conforme revelou ontem (17) o jornal O Globo, uma gravação de Aécio Neves pedindo a ele dois milhões de reais.
No áudio, o senador dizia que precisava do dinheiro para pagar a sua defesa na Lava Jato. Depois, Aécio indicou um primo para receber o valor. A entrega do dinheiro foi filmada com detalhes pela Polícia Federal.
A delação também fala que o senador recebeu R$ 60 milhões ilegalmente em 2014 e que a JBS teria comprado partidos políticos para que apoiassem Aécio em vez de Dilma Rousseff na eleição daquele ano.
Hoje (18), a Procuradoria-Geral da República pediu a prisão do senador, mas o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, negou o pedido.
Fachin, entretanto, optou por afastar Aécio Neves de suas funções. O seu cargo de senador, assim, foi mantido por hora. Mas ele não poderá votar em uma sessão no Congresso, por exemplo.
O Senado, recebendo a notificação de Fachin, concordou com o afastamento. O PSDB também afastou Aécio da presidência do partido e colocou Carlos Sampaio no lugar, de maneira interina.
A denúncia de ontem não é a única que pesa nas costas de Aécio Neves. Confira algumas dos escândalos que envolveram o nome do tucano nos últimos anos:
Em junho de 2016, Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, disse em sua delação premiado na Lava Jato que, em 2001, ele participou de um esforço de captação de recursos ilícitos para bancar a eleição de Aécio Neves à presidência da Câmara dos Deputados.
Recursos foram levantados de maneira ilegal para ajudar na campanha de 50 deputados do PSDB, o que ajudaria na escolha de Aécio para a presidência da Câmara.
Machado disse que foram cerca de R$ 7 milhões levantados, sendo que Aécio recebeu R$ 1 milhão desse montante. Ele teria recebido o valor através de um "amigo em Brasília".
Em março de 2016, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou em sua delação premiada na Lava Jato que Aécio Neves recebera propina de Furnas. O doleiro Alberto Youssef, em sua delação, também afirmou que Aécio recebeu propina da empresa.
Delcídio disse que Dimas Toledo, ex-presidente da companhia, cuidava desses pagamentos ilegais e um dos beneficiários era Aécio. Muito próximos, Aécio quem teria indicado, ainda no governo FHC, o nome de Dimas para o cargo.
Segundo a denúncia feita em 2006, 156 políticos teriam recebido, nas eleições de 2002, dinheiro de caixa 2 da Furnas Centrais Elétricas. Aécio seria um dos beneficiários.
Cerca de R$ 5,5 milhões de reais teriam ido para a campanha de eleição para o governo de Minas.
Em março desse ano, a Revista VEJA revelou que a Odebrecht teria pagado propina ao senador. O dinheiro teria sido depositado em uma conta bancária em Nova York, operada pela irmã de Aécio, Andréa.
A denúncia veio na delação premiada de Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura. Ele teria dito que, como Aécio tinha atendido a interesses da empresa em obras como a da Cidade Administrativa, em Minas, o pagamento teria sido feito como uma "contrapartida".
Já Marcelo Odebrecht, ex-presidente da companhia, disse em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, em março desse ano, que Aécio pediu propina a ele.
O senador teria lhe pedido R$ 15 milhões no final do primeiro turno da campanha eleitoral de 2014. Marcelo Odebrecht teria dito que o valor era muito alto. Aécio teria sugerido que ele depositasse o valor aos seus aliados políticos.
Em informações dadas em depoimento para firmar um acordo de delação premiada, Pedro Corrêa, ex-deputado federal, disse que foi Aécio quem indicou Irany Varella para o seu cargo na Diretoria de Serviços da Petrobras.
Irany seria a responsável por arrecadar propinas para a Petrobras junto aos empresários.
Em 2014, estourou o escândalo do aeroporto de Cláudio. O governo de Minas Gerais teria gastado quase R$ 14 milhões para construir um aeroporto dentro de uma fazenda de um parente do senador tucano.
Naquela época, Neves estava no fim do seu segundo mandato como governador do Estado. A pista foi construída em uma fazenda no município de Cláudio e estava pronto desde o final de 2010.
Em 2015, o Conselho Superior do Ministério Público de Minas Gerais decidiu arquivar o inquérito que apurava supostas irregularidades na construção da pista.