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Linha de energia na Venezuela ameaça suprimento em Roraima

Com apenas 500 mil habitantes e em meio à floresta, Roraima conta com energia venezuelana para reduzir o uso de termelétricas caras e poluentes

Roraima: "Nossa energia aqui vinha da Venezuela, e com essa crise deles gradativamente foi precarizando o suprimento" (Tiago Orihuela/ Prefeitura Boa Vista/Divulgação)

Roraima: "Nossa energia aqui vinha da Venezuela, e com essa crise deles gradativamente foi precarizando o suprimento" (Tiago Orihuela/ Prefeitura Boa Vista/Divulgação)

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Reuters

Publicado em 12 de abril de 2017 às 16h22.

São Paulo - Um linhão de energia entre Brasil e Venezuela que já foi símbolo das ambições de integração regional da América Latina se tornou motivo de preocupação para o governo brasileiro, devido a falhas frequentes que têm prejudicado o fornecimento de eletricidade em Roraima.

Com apenas 500 mil habitantes e em meio à floresta Amazônica, Roraima conta com energia venezuelana para reduzir o uso de termelétricas caras e poluentes, mas essas usinas têm sido cada vez mais acionadas e mesmo assim não conseguem evitar a queda do sistema em diversos momentos, disse à Reuters uma autoridade brasileira com conhecimento direto do assunto.

Inaugurada em 2001 pelos presidentes Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso, a linha de transmissão entre os países recebeu cerca de 200 milhões de dólares em investimentos e tinha como objetivo assegurar o suprimento de Roraima por ao menos 20 anos, mas o desempenho da estrutura já apresenta forte deterioração.

"A interligação com a Venezuela passa por momentos difíceis. Nos últimos tempos essa linha tem sofrido uma série de interrupções. O problema (agora) não é de água, é a linha, é a transmissão. Eles não têm recursos, não dão manutenção na linha, então ela cai mesmo", disse a fonte, que falou sob anonimato devido à sensibilidade do tema.

Em um debate na Assembleia Legislativa de Roraima há duas semanas, o deputado Izaias Maia (PT do B) pediu união dos políticos locais para resolver a situação da linha, que, segundo ele, operaria atualmente com menos de 2 por cento da capacidade.

"Se cruzarmos os braços, a escuridão vai tomar conta do Estado de Roraima", afirmou Maia na tribuna da assembleia, segundo registro oficial da sessão.

A coordenadora técnica da Federação das Indústrias do Estado de Roraima (FIER), Karen Telles, disse à Reuters que a má qualidade do serviço de eletricidade atrapalha o dia a dia e danifica equipamentos de comércios e das pequenas e micro indústrias locais.

"Nossa energia aqui vinha da Venezuela, e com essa crise deles gradativamente foi precarizando o suprimento", afirmou.

Ela ressaltou que os problemas foram ainda piores em 2016, quando houve uma crise hídrica na Venezuela, e disse que as falhas preocupam os empresários locais, afugentam investimentos e geram transtornos e prejuízos.

"Em um dia da semana passada tivemos três interrupções em dez minutos. Imagine isso dentro de uma planta industrial... existe receio de investir em maquinário, coisas que poderiam melhorar a produção, porque você pode perder o equipamento", disse Karen.

Questionado sobre os problemas, o Ministério de Minas e Energia brasileiro afirmou que reuniu um grupo de órgãos técnicos do setor elétrico para avaliar soluções.

"O grupo de trabalho analisará alternativas que contribuam para aumentar a confiabilidade, a segurança e a eficiência do suprimento de energia à região, no curto, médio e longo prazos", disse a pasta, em nota.De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a qualidade do serviço de eletricidade em Roraima, que já estava entre os piores índices do país, caiu fortemente no ano passado.

A duração das interrupções no suprimento elétrico no centro da capital Boa Vista cresceu 66 por cento em 2016 ante o ano anterior, enquanto a frequência das falhas subiu 57 por cento.

Ainda não há dados de 2017. Procuradas, autoridades venezuelanas não retornaram pedidos de comentário. O governo de Roraima também não retornou um pedido de comentário.

Linhão travado

O Brasil chegou a licitar ainda em 2011 a concessão para construção de uma linha que faria a conexão de Roraima ao sistema interligado do país, mas até hoje o empreendimento sequer teve obras iniciadas por falta de licença ambiental.

O linhão ficou a cargo de uma parceria entre a privada Alupar e a estatal Eletronorte, da Eletrobras, mas a Alupar já manifestou desejo de deixar o empreendimento após anos de espera pela liberação ambiental.

Recentemente, durante evento com acionistas, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., disse que o governo segue empenhado em viabilizar a linha, que irá até Boa Vista. Segundo ele, a estatal avalia inclusive traçados alternativos para que o projeto possa continuar.

"A linha é extremamente importante e o parceiro desistiu do negócio... provavelmente será feito por nós da Eletrobras", disse.A Alupar não respondeu pedidos de comentário sobre o empreendimento.Atualmente, Boa Vista é a única capital que não faz parte do sistema interligado brasileiro.

Na época em que o linhão foi licitado, o governo federal disse que a conexão de Roraima ao sistema permitirá que o Estado seja abastecido com energia de hidrelétricas e outras fontes enviada por outras regiões do Brasil, e não mais apenas com geração venezuelana e de termelétricas locais, como atualmente.

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