Linha 4: em 2009, a Odebrecht passou a pagar propina aos políticos para conseguir tocar a obra, que tinha como prazo de conclusão fevereiro de 2016 (Mario Tama/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de abril de 2017 às 21h39.
São Paulo - Mesmo com estações não concluídas até hoje, a construção da Linha 4 do Metrô do Rio, que liga a zona sul à região da Barra da Tijuca, rendeu milhões ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e ao então secretário de Transportes fluminense, Júlio Lopes.
Em suas delações, os ex-executivos da Odebrecht Benedicto Júnior, o 'BJ', e Marcos Vidigal apontam pagamentos aos políticos, que somam mais de R$ 50 milhões a Cabral - o "Proximus" na planilha de propinas da Odebrecht -, atualmente preso no Complexo Penitenciário de Bangu, e R$ 4 milhões a Lopes, deputado federal pelo PP.
Considerada um obra essencial para a mobilidade da Olimpíada de 2016, a linha 4 do Metrô do Rio foi idealizada ainda em 1998, quando uma concessionária liderada pela empreiteira Queiroz Galvão venceu o edital.
Quando Cabral retomou o projeto, em 2009, após a escolha do Rio como sede dos Jogos, a Odebrecht comprou por R$ 11 milhões a participação da empreiteira Constran, ficando com 33,3% do contrato.
A partir daí, de acordo com 'BJ', a empresa passou a pagar propina aos políticos para conseguir tocar a obra, que tinha como prazo de conclusão fevereiro de 2016.
Com o andamento da construção da linha, que foi dividida em duas frentes de trabalho, o peemedebista começou a discutir, como de costume, um pagamento de 5% do contrato.
De acordo com 'BJ', o pedido foi discutido em reuniões com o então governador, já que a empresa se recusava a pagar um valor tão alto.
"Eu dizia: 'governador, eu paguei R$ 11 milhões só para entrar nesse negócio [...] Qualquer conta que eu venha a fazer, ajudar, não tenho problema de ajudar, mas não posso ser tratado com 5%", delatou 'BJ'.
Após a negociação, Cabral teria recebido R$ 50,5 milhões, de acordo com os lançamentos registrados na "planilha da propina" da Odebrecht.
Já Marcos Vidigal, representante da Odebrecht na obra, relatou encontros com executivos da Queiroz Galvão, então líder do consórcio, sobre a importância de pagar propina de 0,5% do valor do contrato ao então secretário Júlio Lopes.
O contato teria sido feito pelo executivo Lúcio Silvestre, que "explicou que os pagamentos tinham uma importância estratégica, pois, caso não fossem efetuados, poderíamos ter problemas na condução das obras".
Sob os codinomes de "Velho", "Lindinho" e "Pavão", Lopes teria recebido R$ 4 milhões entre 2010 e 2014.
Lopes, que tem foro privilegiado, será investigado pelo Supremo Tribunal Federal. As informações sobre Cabral foram encaminhas à Justiça Federal no Rio.
Defesa
Em nota, o advogado Luciano Saldanha Coelho, que defende o ex-governador Sérgio Cabral, afirmou: "Nossa manifestação sobre o caso será no próprio processo."
Já a assessoria do deputado Julio Lopes, afirmou: "Em relação às delações de executivos da Odebrecht que teriam citações ao deputado Julio Lopes, informo:
1 - O Deputado Julio Lopes está surpreso e indignado com ilações atribuídas ao seu nome, confia na Justiça, no trabalho realizado pelo Ministério Público e acredita que a verdade será restabelecida. Fatos desconexos, extemporâneos e completamente destoantes da realidade não podem ser utilizados como instrumento determinante para manchar reputações ou para qualquer acusação;
2 - O Deputado Julio Lopes processará civil e criminalmente àqueles que tem tentado macular a sua imagem com mentiras e falsas acusações;
3 - O Deputado Julio Lopes não teve qualquer responsabilidade ou mesmo qualquer ingerência na definição de custos, preços e pagamentos das obras da Linha 4;
4 - As atribuições pertinentes às obras da linha quatro, conforme várias vezes noticiado pela imprensa, foram de responsabilidade da Casa Civil. Apenas em 2017 o governador Pezão atribuiu a responsabilidade da Linha 4 à Secretaria de Transportes."
A Construtora Queiroz Galvão afirmou que não comenta investigações em andamento.