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Ligada a El Niño, seca que atinge Amazônia vai durar até dezembro

Desde maio, parte dos Estados do Amazonas e do Pará vem registrando chuvas abaixo da média

Amazonia (Michael Dantas/Getty Images)

Amazonia (Michael Dantas/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 8 de outubro de 2023 às 11h08.

Última atualização em 8 de outubro de 2023 às 12h15.

Um alerta feito na última quarta pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, aponta que a seca na Amazônia deve durar pelo menos até dezembro, quando o fenômeno El Niño atingirá a sua intensidade máxima. Até lá, as previsões de chuva do Cemadem indicam volumes abaixo da média.

Desde maio, parte dos Estados do Amazonas e do Pará vem registrando chuvas abaixo da média. De acordo com o Cemaden, a situação pode ser uma consequência do inverno mais quente provocado pelo El Niño. O déficit de chuvas registrado entre os meses de julho e setembro no interior do Amazonas e no norte do Pará foi o mais severo desde 1980, segundo o Cemaden.

“Em grande parte do Amazonas, Acre e Roraima, observa-se uma anomalia de chuvas de -100 a -150 milímetros. Devido ao déficit acumulado de precipitação, a umidade do solo alcançou níveis críticos ao longo do mês de setembro”, informou o órgão.

Aquecimento global


O fenômeno El Niño eleva as temperaturas do Oceano Pacífico e o aquecimento anormal das águas altera as correntes de ventos e as precipitações em diversas partes do planeta. Como se trata de um oceano muito grande, a elevação das temperaturas superficiais das águas tem um impacto no regime de chuvas. No Sul do País, por exemplo, o fenômeno contribuiu para a passagem de um ciclone, que deixou 49 mortos e milhares de desabrigados. No Norte, o efeito é inverso, com seca extrema.

Níveis dos rios

O Cemaden alertou também que, com previsões abaixo da média para o início da estação chuvosa na Região Amazônica, entre novembro e dezembro, alguns rios podem não atingir os níveis normais este ano.

No dia 27 de setembro, a estação de medição do Rio Negro em Caricuriari, por exemplo, registrou 3,37 metros, menos da metade da mínima histórica para o mês, que é de 7,11 metros. Já o nível do rio Solimões baixou para 2,9 metros em Coari enquanto a mínima histórica registrada para o mês de setembro é de 2,44 metros.

“Grande parte dos rios da Região Norte, entre os Estados do Amazonas e do Acre, encontra-se com níveis muito abaixo da média climatológica”, alertou o Cemaden.

Pela estiagem severa, o Estado do Amazonas registra 26 municípios em situação de emergência; 32 em alerta; dois em atenção, afetando 200 mil pessoas (50 mil famílias), aproximadamente.

Terras caídas

No dia 30 de setembro, um desabamento às margens do Rio Purus, afluente do Rio Solimões, deixou dois mortos e mais de 200 desabrigados na comunidade Arumã, no município amazonense de Beruri (a 263 quilômetros de Manaus).

Em entrevista ao Estadão, o geógrafo José Alberto Lima de Carvalho, doutor em Ordenamento Territorial e Ambiental e especialista no fenômeno das “terras caídas”, explicou que é comum que esse tipo de situação se torne mais frequente durante o período de seca dos rios. “A vazante tem papel importante nas terras caídas, pois, quanto maior for a vazante, mais alto se torna o barranco. Com isso, aumenta a chamada ‘força de cisalhamento’, associada à força da gravidade”, pontuou.

O episódio evidencia o risco a que moradores dessas áreas estão suscetíveis. De acordo com a prefeitura de Beruri, ainda há três pessoas desaparecidas.

Ainda de acordo com o geógrafo Carvalho, esses desabamentos podem chegar a atingir paredões com quilômetros de extensão.

“É um fenômeno natural responsável pela constante modificação da paisagem ribeirinha do Rio Amazonas. Resulta de processos mais simples a altamente complexos e engloba escorregamento, deslizamento, desmoronamento e desabamento que acontece às vezes em escala quase que imperceptível, indo de pontual, recorrente e não raro, até catastrófico, afetando em muitos casos distâncias quilométricas”, afirma o especialista.

Para o geógrafo, o desabamento na comunidade Arumã pode ter sido causado por pelo menos dois fatores. “Pela posição da Vila de Arumã em relação ao Rio Purus, a interpretação que faço é de que o deslizamento foi causado principalmente pela saturação do material das margens do afluente e do vale do Igarapé do Arumã.” explica.

De acordo com o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), equipes da Polícia Militar e da Defesa Civil foram enviadas à comunidade Arumã, em Beruri, para fazer o atendimento às vítimas do desabamento. Cestas básicas foram distribuídas para as famílias afetadas pela tragédia. “Nossas equipes estão em campo para fazer o que for preciso. Minha solidariedade e orações às famílias atingidas”, publicou nas redes sociais.

Já a Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas (Sema) informou que distribuiu 150 cestas básicas, 150 kits de higiene pessoal, 100 garrafões de água de 20 litros e 180 frangos aos moradores. Os itens foram adquiridos com apoio do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática. Ainda segundo a Sema, o Corpo de Bombeiros faz um trabalho de análise do solo no local e acompanhamento das famílias para retirada de pertences. A busca por desaparecidos no desbarrancamento foi outra ação tomada.

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