Chuva sobre São Paulo: o empresário Francisco de Barros tem quatro latas de 200 litros cada, nos quais coleta água da chuva (Paulo Pinto/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2015 às 10h24.
São Paulo - No imóvel onde o pequeno empresário Francisco Norberto de Barros, de 54 anos, tem um lava-rápido e salas que aluga para outros comerciantes, em Santana, zona norte da capital, a regra é a mesma para todos os que usam o banheiro. "Quem não entrar com um balde de água da chuva está proibido de fazer as necessidades. Aqui dentro, essa é a lei", contou Barros.
Ele é um dos consumidores de água da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que, mesmo sem gostar, se acostumaram à redução da pressão e estão se readequando para não ter prejuízos por causa da crise hídrica.
"Quando chove, corro com os latões para armazenar água e usar para lavar carros e também nas privadas. O banheiro é o maior vilão. São seis litros por descarga." Segundo ele, a redução da pressão começou há cerca de dois meses, das 18 às 5 horas.
Barros tem quatro latas de 200 litros cada. Com a água armazenada, consegue lavar os carros que chegam mais sujos. "Para não perder cliente e continuar trabalhando, comecei a fazer a lavagem a seco. Mas tem carro que chega com muita lama e barro que não dá para não usar a água."
Academia
Já em Perdizes, na zona oeste, os chuveiros de uma academia de artes marciais também secam após as 18 horas. Isso já acontece há cerca de dois meses, e os alunos, que pagam R$ 230 de mensalidade, reclamam.
Como os frequentadores da academia assinam um contrato dizendo que terão direito ao banho depois dos treinos, o dinheiro cobrado pela água é devolvido.
"O pessoal reclamou, e com razão. Então, estamos reembolsando os alunos em 20%", afirmou o professor de jiu-jítsu e advogado Rodrigo Montenegro, de 34 anos.
A academia consegue armazenar 1.500 litros de água. A quantidade, no entanto, é insuficiente no período das 18 horas às 22 horas, quando pelos menos 40 alunos têm aulas de artes marciais no local.
No mesmo bairro, o aposentado Celso Grecco, de 71 anos, disse não ligar para a redução de pressão que atinge sua casa das 17 às 4 horas. "Temos caixa dágua e meu consumo sempre foi pequeno."
Ele parou de lavar a garagem no começou do ano passado e encontrou uma alternativa para deixar o automóvel limpo. "Saio para passear de carro na chuva e depois passo um pano."
Investimento
Na quarta-feira, 14, o empresário Vilso Dargas, de 49 anos, instalou duas caixas dágua sobre o bar dele, na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, em Santana, zona norte.
Uma tem 5 mil litros e a outra, 2,5 mil litros. O investimento foi de R$ 12 mil, contando as reformas que teve de fazer na estrutura do bar para suportar o peso das caixas.
"É um tipo de investimento que, agora, não vai ter retorno. Fiz isso prevendo o pior", disse Dargas. No sábado, ele teve de fechar o bar à meia-noite, com clientes na fila, porque a água acabou.
"Já estou deixando garrafas de água no banheiro para as pessoas lavarem as mãos. Se tiver de fechar sempre o bar, vou ter prejuízo."
Ele pretende usar a caixa de 5 mil litros para armazenar água da chuva. Em breve, vai instalar sistema de cisternas e bombas para não depender da Sabesp. "A falta de água é culpa de todos. Ela foi usada em abundância e agora estamos pagando por isso", afirmou o comerciante.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.