Polícia Federal: na mira dos investigadores, estão a suposta lavagem de dinheiro por pai e filho, em benefício de Messer (Vagner Rosário/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de julho de 2019 às 10h10.
Última atualização em 9 de julho de 2019 às 13h49.
São Paulo - A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu, nesta terça (9), o operador Mário Libman, ligado ao 'doleiro dos doleiros', Dario Messer. Seu filho, Rafael Libman, ainda é procurado. Trata-se de mais uma fase da Operação Câmbio, desligo.
Na mira dos investigadores, estão a suposta lavagem de dinheiro por pai e filho, em benefício de Messer. Somente Rafael tem 18 apartamentos de luxo, segundo o Ministério Público Federal.
A Câmbio, desligo foi deflagrada em 3 de maio de 2018 contra um grandioso esquema de movimentação de recursos ilícitos no Brasil e no exterior por meio de operações dólar-cabo, entregas de dinheiro em espécie, pagamentos de boletos e compra e venda de cheques de comércio. A delação dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, resultou na operação. A ação tinha como principal alvo Dario Messer, apontado como controlador de um banco em Antígua e Barbuda. Ele era citado pelas delações de Juca e Tony.
Na etapa desta terça, 9, o Ministério Público afirma que "pretende identificar os atos de ocultação de capital operados por Dario com o auxílio de Mario Libman e seu filho Rafael Libman, genro de Messer, à época".
Segundo o juiz federal Marcelo Bretas, na decisão que determinou a cautelar, "a filha de Messer, Denise, era casada com Rafael Libman, sendo Mario Libman pai desse". "Outrossim, consoante a contabilidade do já citado sistema ST, Mario Libman recebeu aportes no montante de R$ 31.834.654,00, entre os anos de 2011 a 2016, provenientes das contas Matriz e Cagarras, tendo o MPF acostado os extratos das contas listadas".
De acordo com o magistrado, "Mario Libman, aparentemente, estava responsável pela reforma da casa de Dario Messer". "Tal fato foi confirmado pelo depoimento de Elsa secretária particular de Messer."
A decisão que impõe a prisão a Libman revela que "a fim de ratificar tal depoimento bem como a sua tese de lavagem de dinheiro, o órgão ministerial acostou as mensagens eletrônicas obtidas com a medida cautelar de afastamento dos dados telemáticos, nas quais é possível inferir que as notas fiscais da reforma do apartamento eram emitidas em nome de Mario, por determinação de Messer".
"Além de tais notas fiscais em nome de Mario, o MPF juntou outras de compras destinadas à cobertura de Messer com nome de comprador de Eduardo Loureiro, o qual vem a ser funcionário de empresa pertencente ao Mario Libman, segundo Relatório ASSAP n° 160/2019?, anota Bretas.
A Procuradoria, segundo o juiz, "assinala que foram adquiridos imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo por Rafael Libman e Denise Messer, com pagamento em espécie diretamente das contas de Dario".
Bretas destaca que "segundo apurado pelo MPF, Rafael Libman conta atualmente com dezoito apartamentos em áreas nobres do RJ e SP, além da fração ideal de dois terrenos para construção". Ao que parece, Rafael investiu na aquisição de bens imóveis com montante repassado por Dario Messer, configurando prática comum no delito de lavagem de capital.
"Dessa forma, é provável que Mario e Rafael Libman tenham auxiliado Messer na ocultação e dissimulação de capital, seja por meio da reforma na cobertura de Dario, sob responsabilidade de Mario; seja por meio da aquisição por Rafael de imóveis no RJ e em SP", anotou.
A Justiça Federal no Rio homologou, a pedido da força-tarefa do MPF na Lava Jato, a imediata devolução de R$ 270 milhões (US$ 82,3 milhões) pelo empresário Dan Wolf Messer, réu por evasão de divisas em esquema montado pela família Messer. O acordo de delação fechado com familiares do "doleiro dos doleiros" - foragido - envolve ainda a devolução do equivalente a cerca de R$ 100 milhões em dinheiro, imóveis e obras de arte, além de renúncia a bens e direitos decorrentes de herança do patriarca da família.
Ao todo, informou a Procuradoria no Rio, somam-se os valores devolvidos de R$ 370 milhões.
"A repatriação dos valores mantidos em contas em Bahamas, Mônaco e Nova York vem avançando e cerca de R$ 240 milhões já estão à disposição da Justiça para serem revertidos aos cofres públicos", destaca a força-tarefa.
Os recursos foram repatriados no âmbito do acordo de colaboração de Dan Wolf Messer, homologado pela Justiça. O filho de Dario Messer é, desde 2015, o único beneficiário direto de um fundo aberto com aporte do avô Mordko Messer, pioneiro da família no mercado de câmbio ilegal.
Os valores em instituições financeiras no exterior tinham sido depositados em 2004 e nunca foram declarados às autoridades brasileiras. Além de recursos, o colaborador forneceu documentos como provas de corroboração dos crimes, que incluem extratos das contas estrangeiras.
Como parte do acordo, o Ministério Público Federal pediu à Justiça que o processo ao qual Dan Messer responderia por evasão de divisas fique suspenso durante dois anos.
A suspensão está condicionada ao cumprimento de sete horas semanais de serviços à comunidade.