Uruguai: "Acho que não existe o gatilho legítimo para que se utilize legalmente o recurso constitucional (do processo de impeachment)" (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2016 às 16h48.
Montevidéu - O ministro do Interior do Uruguai, Eduardo Bonomi, considerou o impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff um "golpe de Estado", e disse que "o verdadeiro motivo" do processo "é a investigação judicial sobre a corrupção no Brasil".
"Acho que não existe o gatilho legítimo para que se utilize legalmente o recurso constitucional (do processo de impeachment), então, se não existe, tem característica de golpe de Estado", disse o ministro em uma entrevista à uruguaia "Radio Carve".
De acordo com Bonomi, "os que dizem que não é um golpe é porque foi utilizado um recurso constitucional. O problema é, se o crime no caso é um crime ou não, e se garante o recurso constitucional, recursos constitucionais há muitos, mas têm que ser justificados", declarou Bonomi.
"O verdadeiro motivo é a investigação judicial que estava sendo feita contra a corrupção no Brasil, uma corrupção que abrangia ainda mais os parceiros políticos do PT, mais do que o PT, e que pediram a Dilma que freasse essa investigação no Poder Executivo", opinou Bonomi.
O ministro uruguaio afirmou que "Dilma não freou nada no Poder Executivo e a tiraram para que alguém freasse essa investigação", a Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
"O que fica no lugar dela (em referência a Michel Temer) também não tem uma legitimidade, e acredito que seja algo muito grave, que fere muito profundamente a democracia brasileira", acrescentou.
Bonomi também considerou que o ocorrido no Brasil afeta a democracia do país e "a situação da região inteira".
A opinião do ministro do Interior se situa na mesma linha que a manifestada ontem pelo ex-presidente e senador uruguaio José Mujica, que disse que a América Latina fica "ferida" após a destituição de Dilma.
Ambos os políticos pertencem à coalizão de esquerda governante no Uruguai, a Frente Ampla.