Guindastes trabalham na construção de um navio de produção de petróleo (FPSO) da Petrobras (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2014 às 21h00.
Rio - Uma semana após a Petrobras romper o contrato com a Ecoglobal no valor de R$ 443,8 milhões, a empresa, citada nas denúncias da Operação Lava Jato, apresentou à Justiça Federal do Paraná sua defesa desmentindo a versão da estatal sobre a rescisão.
No documento, a Ecoglobal diz que recebeu aporte de fundos de investimentos de ex-funcionários da estatal que abandonaram o negócio após as denúncias, "fugindo de algo gravíssimo que lhes envolvia".
No documento, a Ecoglobal diz ainda estar em situação pré-falimentar e oferece a quebra dos sigilos fiscal e bancário. A defesa, em nome do sócio majoritário Vladmir Silveira, foi apresentada na 13ª Vara Federal do Paraná.
A empresa desmente a versão da Petrobras e diz que a estatal tinha conhecimento de toda sua estrutura de capital. A empresa sugere ainda que a estatal tenta "impingir ao Juízo e à opinião pública" seu envolvimento em situações ilegais.
A Petrobras justificou a rescisão do contrato após as suspeitas de envolvimento com o esquema de corrupção denunciado pela Polícia Federal.
Segundo a estatal, a empresa faltou com "clareza e transparência" em relação à sua composição societária e que isso acarretaria "transtornos operacionais" e prejuízos financeiros e à curva de produção da empresa.
De acordo com a versão apresentada à Justiça, após fechar o contrato com a estatal, em agosto de 2013, a Ecoglobal buscou no mercado investimentos e capitalização para executar as obrigações com a Petrobras, tendo recebido propostas de investimento de empresas e fundos estrangeiros.
Uma das propostas teria sido feita em nome das empresas Quality Holding Investimentos e Tino Real Participações que, segundo a PF, seriam controladas por Alberto Youssef.
Os sócios da Ecoglobal dizem que jamais tiveram conhecimento dos eventuais proprietários das investidoras. Após a negociação, a empresa teria recebido nova proposta dos fundos Mare Investimentos e Mantiq Investimentos.
Eles teriam oferecido aportes no valor entre R$ 74,4 milhões e R$ 80,5 milhões pela companhia "mediante aquisição de ações e debêntures, e aporte de capital, a serem efetivados pelos Fundos de Investimentos e Participações Brasil Petróleo administrados pela Caixa Econômica Federal".
Entre os executivos dos fundos citados estão Rodolfo Landim e Nelson Guitti, funcionários de carreira da Petrobras que ocuparam cargos executivos.
"Landim foi diretor da Petrobras no mesmo período de Paulo Roberto Costa", ressalta o documento. De acordo com a defesa, "por força do prestígio pessoal dos gestores (...) curiosamente tudo passou a correr bem e naturalmente".
O contrato teria sido fechado em março deste ano, cerca de 15 dias antes de ser deflagrada a operação Lava Jato que prendeu o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Após a operação, Vladmir Silveira, sócio da Ecoglobal foi levado a prestar depoimento pela PF sobre a venda de participações da empresa.
Ele também foi intimado a depor na Comissão Interna de Apuração da Petrobras sobre as denúncias envolvendo o ex-diretor de abastecimento.
Segundo sua defesa, após as denúncias, os investidores "inexplicavelmente e sem qualquer aviso, fugindo de algo gravíssimo que lhes envolvia diretamente, desapareceram da Ecoglobal e da Petrobras, descumprindo inteiramente os compromissos assumidos".
Silveira afirmou "desconhecimento" sobre o ex-diretor e suas relações com Alberto Youssef. Ele omitiu da PF a negociação com os fundos de investimento de propriedade de ex-diretores da Petrobras.
Segundo Silveira, o fato não foi revelado por que o contrato tinha cláusula de confidencialidade e também "por não lhe ter sido perguntado pela autoridade policial".U