O doleiro Alberto Youssef é escoltado por policial federal: dentre as suspeitas levantadas está a de que o doleiro teria contas no Líbano e Hong Kong (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2015 às 13h44.
Brasília - O relatório da empresa de espionagem Kroll encomendado pela CPI da Petrobras apontou suspeitas de que 12 alvos possam manter fora do País 56 contas bancárias, além da possibilidade de existirem seis propriedades e 33 empresas ainda desconhecidas dos investigadores da Operação Lava Jato.
Deputados que tiveram acesso ao relatório, mantido em sigilo pela CPI, disseram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que o documento levanta, por exemplo, a suspeita de que o doleiro Alberto Youssef, um dos delatores da Lava Jato, possa ter contas no Líbano e em Hong Kong.
Pedro Barusco, outro delator, também é mencionado no relatório como suspeito de ter contas em diversos paraísos fiscais.
O documento produzido pela Kroll também levanta suspeitas de que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato, possa manter contas no Uruguai.
A Kroll, contudo, não repassou aos parlamentares números de contas ou quais as propriedades e empresas em nome dos alvos selecionados pela CPI para a devassa.
Para isso, cobrava da CPI a assinatura de um novo contrato que ao final, segundo integrantes, poderia chegar a R$ 10 milhões.
Para apenas levantar as suspeitas contra os alvos, sem qualquer comprovação de veracidade, a empresa cobrou e a Câmara aceitou pagar R$ 1,18 milhão.
Sem acordo com os deputados, a Kroll anunciou nesta quinta-feira, 13, em nota, que não iria continuar os trabalhos. Dessa forma, os deputados terão apenas um conjunto de suspeitas que custaram aos cofres públicos mais de R$ 1 milhão.
A lista de devassados pela Kroll a pedido da CPI inclui outros delatores do esquema de corrupção da Petrobras, como o lobista Julio Camargo, que acusou Cunha de receber propina de US$ 5 milhões em seu depoimento, e até mesmo Stael Fernanda Janene, viúva do ex-deputado José Janene (PP-PR).
E ainda: Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobrás), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás), Augusto Mendonça (ex-dirigente da Toyo Setal), Eduardo Leite (ex-diretor vice-presidente da Camargo Corrêa), Dalton Avancini (ex-presidente da Camargo Corrêa), Julio Faerman (representante da SBM Offshore no Brasil) e Ricardo Pessoa (empreiteiro da UTC).
Segundo integrantes da CPI, a Kroll levantou suspeitas contra todos.
Os nomes dos investigados pela Kroll vinham sendo mantidos em sigilo pelo presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), seu aliado político há dois meses.
Ontem, contudo, Motta decidiu compartilhar a relação com os demais membros da CPI numa tentativa de renovar o contrato com a Kroll. Eduardo Cunha não comentou o vazamento da lista e negou ter conhecimento prévio dos alvos.
Interesses
Motta atribuiu a desistência a "falsas ilações" e "especulações" na imprensa. Para um parlamentar da CPI, a imagem "ficou ruim" para a Kroll pois "fica como se tivessem prestado serviços a meliantes", afirmou.
Deputados levantaram dúvidas sobre a postura da Kroll. "A Câmara gasta R$ 1 milhão com a empresa, que pouco acrescentou aos trabalhos de apuração do colegiado e, repentinamente, encerra as atividades, deixando o colegiado a ver navios", disse a deputada Eliziane Gama (PPS-MA).
O peemedebista disse não considerar que o trabalho tenha sido perdido, mas afirmou que ainda precisará pensar no que fazer. O material levantado pela Kroll deve ser compartilhado com o Ministério Público e com a Operação Lava Jato.