São Paulo - A senadora reeleita por Tocantins Kátia Abreu, agora atuando pelo PMDB, deixou seu passado de oposição ao PT de lado para ser a primeira mulher a comandar o Ministério da Agricultura, no futuro governo Dilma Rousseff.
Não é a primeira vez que Kátia Abreu, de 52 anos, vive uma situação de protagonismo entre as mulheres brasileiras, ocupando posições públicas sempre ligadas ao setor agrícola.
Kátia Abreu, que em suas entrevistas costuma dar forte ênfase à defesa da classe dos agricultores e pecuaristas, desafiando adversários como ambientalistas e militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), foi também a primeira mulher a presidir a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
"Primeiro, é uma pessoa competente, conhece o assunto. São inquestionáveis os avanços que nós tivemos no setor quando ela assumiu a CNA. E segundo, ela entrará também, por sua relação, por seu temperamento, como uma ministra que pode fortalecer o ministério", disse à Reuters o deputado Marcos Montes (PSD-MG), que em 2015 assumirá a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária.
Formada em psicologia, Kátia Abreu assumiu trabalhos ligados ao campo em 1987, quando ficou viúva aos 25 anos, grávida e com dois filhos pequenos, segundo descrito em seu site.
Naquela época, ela foi obrigada a recomeçar a vida, passando a tocar a Fazenda Aliança, que herdara do marido, morto em um acidente de avião.
Seis anos depois, Kátia Abreu passou a atuar em entidades de classe, começando com o Sindicato Rural de Gurupi, notabilizando-se por atividades relacionadas à pecuária, o que acabou levando-a para a presidência da federação da agricultura de Tocantins.
Em 2005, elegeu-se vice-presidente de Secretaria da CNA, cargo que antecedeu a atual posição de presidente da entidade que representa agropecuaristas no Brasil. Um ano depois, ela foi eleita senadora, com mais de 330 mil votos, pelo então PFL (depois DEM), fazendo franca oposição ao PT do então reeleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem criticou no passado, entre outras coisas, por patrocinar um aumento de cargos públicos, com vistas a beneficiar petistas.
Críticas e aproximação
A aproximação de Kátia Abreu com o governo da presidente Dilma Rousseff rendeu críticas à presidente da parte dos movimentos sociais, como o MST, que defende reforma agrária, o que provoca arrepios em muitos do setor agrícola nacional.
"Kátia Abreu representa o latifúndio mais submisso ao capital internacional. Por isso, sequer representa os interesses dos grandes produtores rurais", disse Alexandre Conceição, da direção nacional do MST.
"No último período, ela fez um movimento calculado ao mudar de partidos e sair dos holofotes, se aproximando de Dilma para ser ministra. No entanto, não esquecemos como ela se construiu nem os interesses que representa", acrescentou.
A indicação da senadora para comandar a pasta da Agricultura provocou polêmica antes mesmo de sua oficialização, inclusive entre colegas de partido da agora ministra, que não a reconheceram como nome do PMDB no governo.
Uma fonte peemedebista, inclusive, disse à Reuters que a escolha da senadora também é polêmica porque, apesar de ela ser presidente da CNA, há setores do agronegócio que não nutrem boa relação com ela. “Ela não tem boas relações com o pessoal do etanol e também não tem uma relação tranquila com a JBS, por exemplo", disse o peemedebista.
A JBS, maior produtora de carnes do mundo e um dos principais financiadores da última campanha eleitoral, teria feito lobby contra a nomeação da senadora, segundo informações divulgadas na mídia, o que a empresa nega.
Por meio da assessoria de imprensa, a JBS declarou que a informação não é a verdadeira e que a companhia "não tem absolutamente nada contra a senadora Katia Abreu".
Antes do PMDB, Kátia Abreu passou pelo PSD, liderado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que se mostra afinado com o governo Dilma.
Desde sua saída do DEM, Kátia Abreu se aproximou da presidente. Um exemplo dessa proximidade ocorreu neste ano numa votação no Senado. O governo tinha grande interesse em aprovar, por meio de uma medida provisória, a ampliação do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Mas ao ouvir um pedido da senadora, agora nomeada ministra, Dilma solicitou que a relatora da MP, a ex-ministra da Casa Civil senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), retirasse a mudança do texto para privilegiar a votação de um projeto relatado pela peemedebista e que prevê uma ampla revisão da Lei de Licitações. A presidente também costura há um tempo com a senadora peemedebista um novo marco regulatório para a navegação de cabotagem e teve várias reuniões com ela sobre o tema.
A carreira política de Kátia Abreu também é marcada pelo mandato como deputada federal pelo então PFL, sendo líder da chamada bancada ruralista do Congresso Nacional, uma das mais fortes do Parlamento.
Mais recentemente, a senadora atuou fortemente em defesa da aprovação de um novo Código Ambiental brasileiro, o qual ela alega ser bastante rigoroso, ao contrário do que afirmam os críticos, para quem a nova lei é uma vitória dos produtores rurais.
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1. Nova equipe
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1/18 (Ben Tavener/Flickr/Creative Commons)
São Paulo – A presidente
Dilma Rousseff anunciou hoje parte da equipe ministerial de seu segundo governo. Dentre os principais nomes estão o do governador do Ceará Cid Gomes (Pros), que assumirá o
Ministério da Educação. Também farão parte da nova equipe o governador da Bahia Jacques Wagner (
PT), no Ministério da Defesa, e a senadora Kátia Abreu (
PMDB), no
Ministério da Agricultura. Além de Kátia, outros cinco nomes compõem a cota do PMDB nos ministérios. Alguns dos atuais ministros continuam no cargo. É o caso de Arthur Chioro, da Saúde. Outros nomes já haviam sido divulgados em novembro, como o de Joaquim Levy, para o Ministério da Fazenda. O Palácio do Planalto deve divulgar o restante da equipe ministerial no dia 29 de dezembro.
Dentre as pastas a serem definidas está a das Relações Exteriores. Veja nas fotos quem são os novos ministros do
governo Dilma.
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2. Kátia Abreu - Ministério da Agricultura
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2/18 (Antonio Cruz/ABr)
A senadora faz parte da cota do PMDB no governo, mas foi escolhida pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff. A ruralista se aproximou da presidente quando ainda estava no DEM, partido de oposição ao governo. Desde então, a senadora passou pelo PSD e recentemente se filiou ao PMDB. A indicação
não foi bem aceita por parte da base da presidente, inclusive uma parcela do PT. Kátia Abreu é presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
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3. Jacques Wagner - Ministério da Defesa
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3/18 (Agência Brasil)
Filiado ao PT desde 1980, Jacques Wagner está no fim de seu segundo mandato como governador da Bahia. Ele chegou a ser cotado para ocupar outras pastas no segundo governo Dilma, mas ficou com o Ministério da Defesa. Próximo ao ex-presidente Lula, Wagner foi ministro do Trabalho e das Relações Institucionais durante seu governo. O político também já foi deputado federal. Apesar de ter trilhado sua carreira política na Bahia, Jacques Wagner nasceu no Rio de Janeiro.
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4. Edinho Araújo - Secretaria de Portos
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4/18 (Divulgação)
O deputado federal Edinho Silva faz parte da cota do PMDB nos ministérios. Edinho é deputado por São Paulo, e foi eleito em outubro para seu quarto mandato. Ele também já foi prefeito de São José do Rio Preto e de Santa Fé do Sul, além de deputado estadual em São Paulo. O deputado voltou ao PMDB em 2009. Ele havia deixado o partido dez anos antes para se filiar ao PPS. Na década de 1970, Edinho Araújo integrou a Arena.
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5. Vinicius Lages - Ministério do Turismo
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5/18 (Agência Brasil)
Lages é o atual ministro do Turismo e deve permanecer na pasta por enquanto. Há a possibilidade de que o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) assuma a pasta. Porém, o Palácio do Planalto aguarda para saber se ele será um dos nomes envolvidos nas investigações da Operação Lava Jato. Vinicius Lages tem um perfil mais técnico e já atuou na área de turismo no Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa). Ele foi indicado para o cargo pelo senador Renan Calheiros (PMDB).
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6. Eliseu Padilha - Secretaria de Aviação Civil
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6/18 (Divulgação)
Filiado ao PMDB desde 1966 (quando o partido ainda se chamava MDB), Eliseu Padilha está chegando ao fim de seu quarto mandato como deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Ele não tentou a reeleição em 2014. Padilha já foi ministro no governo FHC, quando chefiou a pasta de Transportes. Agora, integra a cota do PMDB no governo Dilma, indicado pelo vice-presidente Michel Temer.
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7. Helder Barbalho - Ministério da Pesca e Aquicultura
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7/18 (Marco Santos/PMDB-PA)
Filho do senador Jader Barbalho, Helder também faz parte da cota do PMDB no governo Dilma. Ele foi prefeito de Ananindeua, no Pará, e tentou o cargo de governador do estado nas eleições de 2014, mas foi derrotado por Simão Jatene (PSDB). O nome Barbalho sofre de grande rejeição no Pará, devido às denúncias de corrupção envolvendo o senador Jader Barbalho, ex-governador do estado.
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8. Eduardo Braga - Ministério de Minas e Energia
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8/18 (Agência Brasil)
A pasta de Minas e Energia continuará sob comando do PMDB, agora com Eduardo Braga. Durante os 4 anos do primeiro mandato de Dilma a pasta foi ocupada por Edison Lobão. Braga foi duas vezes governador do Amazonas (2002-2006 e 2006-2010) e, depois, foi eleito senador em 2010. Desde março de 2012, ele é olíder do governo da presidente Dilma Rousseff na Casa.
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9. Cid Gomes - Ministério da Educação
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9/18 (Elza Fiúza/AGÊNCIA BRASIL)
Pela primeira vez em 12 anos, o MEC não ficará nas mãos de um petista. Durante todo o mandato de Lula e Dilma, a pasta da Educação ficou com políticos do partido. Desta vez, a presidente decicdiu nomear Cid Gomes (Pros) para o cargo, que acaba seu mandato como governador do Ceará neste ano. Ele assume o lugar que no primeiro mandato de Dilma ficou a cargo de José Henrique Paim. Durante o 1º mandato de Dilma a pasta já foi ocupada por Fernando Haddad (julho de 2005 a janeiro de 2012) e Aloizio Mercadante (janeiro de 2012 a fevereiro de 2014).
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10. George Hilton - Ministério do Esporte
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10/18 (Divulgação)
O deputado George Hilton, do PRB, assume o Ministério do Esporte. Hilton é Veterano no legislativo com quatro mandatos. É também o presidente regional do PRB-MG.
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11. Gilberto Kassab - Ministério das Cidades
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11/18 (Rogerio Pallatta/Contigo)
O Ministério das Cidades será comandado por Gilberto Kassab, do PSD. O ex-prefeito de São Paulo assumirá o lugar de Gilberto Occhi (PP), que está no cargo desde março de 2014. Kassab, que saiu derrotado na disputa pela cadeira de São Paulo no Senado, passou, junto com seu partido, a apoiar a presidente a partir do início da campanha eleitoral, em junho deste ano.
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12. Aldo Rebelo - Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação
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12/18 (Elza Fiúza/Agência Brasil)
Aldo Rebelo (PCdoB), atual ministro dos esportes, passa a ocupar o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação.
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13. Valdir Simão - Controladoria Geral da União
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13/18 (Divulgação / Ministério do Turismo)
Valdir Simão já foi secretário-executivo do Ministério do Turismo e hoje ocupa o posto número 2 da Casa Civil. Passará a comandar a Controladoria Geral da União.
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14. Nilma Lino Gomes - Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
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14/18 (Eliza Fiúza / Agência Brasil)
A pedagoga mineira Nilma Lino Gomes comanda a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Agora, será titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
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15. Joaquim Levy - Ministério da Fazenda
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15/18 (Thomas Lee/Bloomberg)
O novo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, foi diretor do Tesouro Nacional durante a gestão do ex-ministro Antonio Palocci no primeiro mandato de
Lula. Em 2006, ele deixou o governo para trabalhar no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Atualmente é o diretor-superintendente do Bradesco Asset Management, braço de gestão de recursos
Bradesco.
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16. Alexandre Tombini - Banco Central
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16/18 (Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
Tombini está no Banco Central desde 1998. Em 2010, assumiu a presidência do BC.
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17. Nelson Barbosa - Ministério do Planejamento
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17/18 (José Cruz/Agência Senado)
Nelson Barbosa foi o escolhido para chefiar a pasta do Planejamento, Orçamento e Gestão. Esteve no governo entre 2003 e 2013, sempre na equipe de Guido Mantega. Entre 2011 e 2013, foi secretário executivo do Ministério da Fazenda.
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18. Veja agora como foi o troca-troca de ministros no 1º mandato de Dilma Rousseff
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18/18 (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)