Kátia Abreu disse que não tinha "muita esperança" que o chamado blocão acertasse com Ciro (Valter Campanato/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 10h02.
Brasília - A candidata a vice-presidente pelo PDT, Kátia Abreu, afirmou acreditar que, pelo "muito grande desconhecimento", não haverá transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o provável sucessor dele na disputa, Fernando Haddad, e disse ter "convicção" de que os votos do líder petista vão migrar para o cabeça da chapa pedetista, Ciro Gomes.
"O grau de desconhecimento do Haddad, embora seja uma boa pessoa, o grau de desconhecimento é muito grande. O Brasil é grande demais. Ninguém vai votar por procuração", disse a senadora e ex-ministra, ao lembrar da dificuldade até de se mencionar o nome de Haddad, atual vice de Lula, que é de origem libanesa. "No interior é assim, se a pessoa tiver um nome estrangeiro."
"Tenho também a esperança, a convicção, de que os eleitores de Lula, não podendo votar em Lula, vão votar em Ciro", disse ela, em entrevista à Reuters no seu gabinete do Senado.
Kátia Abreu afirmou acreditar que Ciro vai começar a crescer nas pesquisas depois que os eleitores constatarem que não vai ocorrer a "ameaça" do retorno do PT, a quem o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, tem buscado combater "violentamente".
"Quando isso não for mais factível (uma candidatura petista ao Planalto), tenho a convicção de que ele vai crescer. É uma pessoa de centro-esquerda, mas não é um reacionário, pessoa atrasada, aposta no Estado de Direito, nas regras, nos contratos", disse a senadora, ex-ministra da Agricultura que ficará responsável pelo plano de governo de Ciro para todo o setor do agronegócio, incluída a agricultura familiar.
A candidata a vice foi categórica ao afirmar que Lula terá a candidatura barrada em razão da condenação confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no processo do tríplex do Guarujá (SP).
"Lula não é candidato. Ele sancionou a Lei da Ficha Limpa (em 2010), que diz que (condenado) em segunda instância não pode ser candidato, hoje é um fato legal", disse.
"Não vou discutir o mérito da sua prisão e da sua condenação. Eu também tenho dúvidas a respeito das provas, se foi mão pesada. Não vamos discutir isso. Isso é um outro detalhe. O PT tem que lutar até a morte a favor dessas ideias. Eles tem suas convicções e aplaudo quem tem convicções, mesmo que elas não sejam idênticas às minhas."
Contudo, a senadora se esquivou de dizer se Lula, --mesmo preso em Curitiba-- dificultou o acerto de Ciro com o PSB. Os socialistas ao final optaram por ficarem neutros na campanha. Para a senadora, foi o PT que atrapalhou, mas ela disse que isso faz parte do jogo político. Segundo ela, Ciro preocupa muita gente, inclusive do PT, e foi o PSB quem mais "perdeu" ao não se aliar com a campanha do PDT.
Kátia Abreu disse que não tinha "muita esperança" que o chamado blocão acertasse com Ciro. Os cinco partidos desse grupo - DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade - ensaiaram apoiar o candidato do PDT, mas fecharam posteriormente com o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin.
"Na verdade, eles fizeram aquela aproximação para se valorizar do outro lado. É o jogo político, não quero aqui falar de honestidade, desonestidade. O jogo político é bruto, gente, ele não é fácil. Então o lugar deles é lá mesmo. Eles são, sempre foram do mesmo espaço político. Então cada um se acomodou aonde já queria ir mesmo. Então, com a aquela mania higienista do PSDB, acho que o centrão quis dar uma valorizada para o PSDB buscar. O PSDB é higienista no país inteiro. E aí foram", criticou.
Kátia Abreu disse que vai fazer campanha "complementar" à de Ciro, tendo uma agenda de participação de eventos independentes ao cabeça de chapa. Uma das principais dificuldades da campanha do PDT é que, sem ter firmado alianças com o PSB e o blocão, terá pouco tempo de propaganda no rádio e na TV.
Psicóloga de formação, a candidata a vice procurou demonstrar que Ciro --ao listar os cargos por que já passou no Executivo e Legislativo-- é o mais bem preparado para comandar o país, e rechaçou qualquer impressão de que ele tem um temperamento difícil.
"O fato de ele ser brigão não significa que ele seja briguento, porque a Kátia Abreu também é brigona, mas não é briguenta. Briguenta é rinhenta, que qualquer coisinha, 'ah, essa água aqui quem tirou do lugar?' (muda um copo d'água de lugar). Briga por tudo, qualquer coisa. Pelo em ovo", disse.
Para a candidata a vice, a fama de desequilibrado de Ciro é "fake" (falsa), e ele, nos cargos que já ocupou, não tomou "nenhuma ação radical de extrema-direita e extrema-esquerda". "Não tenho nada a temer, absolutamente nada. Tenho a convicção de que Ciro terá todo o equilíbrio para fazer a virada que o Brasil precisa. Hoje estamos igual jogo da Alemanha, 7 a 1, e nós precisamos virar, ganhar esse jogo", disse.
A senadora afirmou que a chapa não vai atrás de votos da esquerda ou da direita como alvo preferencial. Para ela, os demais candidatos a presidente estão "copiando" propostas apresentadas por Ciro --citando como exemplo a proposta de zerar o déficit primário em dois anos-- e aproveitou para cutucar os adversários.
"Ciro está falando o que vai fazer, ele não está vendendo abóbora por quiabo", destacou ela, para quem o colega de chapa está "saindo da caixinha" em vez de ficar tentando a agradar a todos e não revelar as mudanças que pretende levar a cabo.
Numa estocada no presidente Michel Temer, que herdou o cargo após o impeachment de Dilma Rousseff, Kátia Abreu disse que o papel do vice, caso Ciro e ela sejam eleitos, é "conspirar jamais".
"Não tenho isso na minha índole e no meu sangue. No meu caráter, não faz parte da minha história, nem conspirar contra ninguém nem ser um Judas. O fim de todo Judas é trágico", disse ela, ao dizer ter provado em todos os momentos que não é oportunista.
"Não sou um rato para correr de navio afundando. Sou parceria, sou companheira. Não de corrupção. Fiquei do lado de Dilma porque eu tenho a convicção de que ela é uma pessoa honesta. Por isso lutei por ela", disse. "Ela podia ser minha amiga, eu gostar dela. Mas se ela não fosse correta eu não tinha essa obrigação de ficar do lado dela só porque fui ministra. Mas não é o caso", completou.