Brasil

Justiça condena mercado por obrigar funcionários a vestirem uniforme com 'slogan' de Bolsonaro

Ocorrido durante as eleições de 2022, caso é julgado pela Justiça do Mato Grosso como assédio eleitoral

Bolsonaro: Ex-presidente foi declarado inelegível por oito anos pelo TSE no mês passado (Valter Campanato/Agência Brasil)

Bolsonaro: Ex-presidente foi declarado inelegível por oito anos pelo TSE no mês passado (Valter Campanato/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 16h46.

A Justiça do Trabalho em Mato Grosso condenou um supermercado a indenizar seus funcionários em R$ 150 mil por danos morais coletivos. O réu foi condenado por obrigar os colaboradores a usar camisetas verde e amarelas com os dizeres "Deus, Pátria, Família e Liberdade" como uniforme, durante o horário de trabalho, no período das eleições de 2022.

O caso, julgado como assédio eleitoral, ocorreu no município de Tangará da Serra, a 240 quilômetros da capital Cuiabá, durante as eleições presidenciais de 2022.

Na decisão, o tribunal entende que os dizeres no uniforme eram "alusivos à campanha de um dos candidatos à Presidência". O então presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) usava a frase frequentemente, tanto em campanha quanto durante seu período na chefia do Executivo.

Procurados pelo Estadão, o Hiper Mercado Gotardo disse que ainda se pronunciará sobre o caso e a advogada responsável não atendeu à ligação até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para sua manifestação.

A condenação partiu de uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho ao judiciário trabalhista. Após sentença em primeira instância, o supermercado recorreu, mas a 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho manteve a decisão em dezembro.

Os desembargadores, em unanimidade, reconheceram a conduta da empresa como abusiva e discriminatória, infringindo pelo menos sete artigos da Constituição, como a dignidade da pessoa humana, liberdade de pensamento e de opinião política, voto secreto e vida privada.

Segundo a decisão, a Justiça Eleitoral já havia notificado o supermercado sobre a prática ser propaganda eleitoral irregular em setembro de 2022. Às vésperas do segundo turno das eleições, em outubro, o órgão deferiu uma liminar para impedir a prática.

A frase estampada nas camisas era bastante repetida por Bolsonaro, mas não é de sua autoria. Os termos "Deus, Pátria e família" coincidem com o lema do movimento integralista, que surgiu no Brasil na década de 1930 e tem inspiração no fascismo de Benito Mussolini, na Itália. O ex-presidente da República adicionou à frase a palavra "liberdade".

Acompanhe tudo sobre:Jair BolsonaroEleições 2022

Mais de Brasil

Governo Lula se preocupa com o tom usado por Trump, mas adota cautela e aguarda ações práticas

Lula mantém Nísia na Saúde, mas cobra marca própria no ministério

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático