As suspeitas em torno da operação se deram porque uma empresa com sede na Nova Zelândia, a Latam Real State, atravessou o negócio do Postalis (Divulgação/Montagem Exame.com)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2015 às 08h11.
São Paulo - A Justiça Federal de São Paulo determinou o bloqueio dos bens de 20 pessoas ligadas ao Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, e a empresas do setor imobiliário que negociaram a venda de um terreno para o fundo no valor de R$ 196 milhões. As suspeitas são de que o negócio tenha sido feito de forma irregular.
A determinação do bloqueio dos bens, que será feito até atingir o valor total da compra do terreno, foi dada em um processo de improbidade administrativa movido pelo Ministério Público Federal de São Paulo.
O processo corre desde meados de junho em segredo de Justiça. O MP pede na ação que seja anulada a compra do terreno de 117 mil metros quadrados em Cajamar (SP), que abriga hoje um centro logístico dos Correios, feita pelo Postalis em 2012.
As suspeitas em torno da operação se deram porque uma empresa com sede na Nova Zelândia, a Latam Real State, atravessou o negócio do Postalis.
O fundo de pensão estava negociando a área em Cajamar diretamente com o empresário Luiz Fernando Pires. De acordo com reportagem da revista Época de novembro do ano passado, o Postalis estava disposto a pagar R$ 194 milhões pelo terreno.
Mas Pires o vendeu por R$ 150 milhões à Latam, que três meses depois o revendeu ao Postalis pelo valor inicial oferecido pelo fundo.
Entre os executivos do Postalis que tiveram os bens bloqueados está o atual presidente do fundo, Antonio Carlos Conquista, que já foi do fundo de pensão da Petrobras e foi indicado ao cargo pelo PT, a convite do presidente dos Correios, Wagner Pinheiro.
A lista ainda inclui o presidente do Conselho, Ernani Coelho, também indicado pelos Correios ao cargo, e o diretor administrativo, Roberto Macedo de Siqueira Filho. Também fazem parte da lista ex-diretores como Ricardo Oliveira Azevedo, da área financeira, que foi indicação do PMDB, e Sinécio Greve, da área de seguridade.
Obras
Os empresários que fizeram o negócio imobiliário também tiveram seus bens bloqueados. Um deles é Luiz Fernando Pires, sócio da construtora mineira Mascarenhas Barbosa Roscoe e proprietário original do terreno. Outro nome é o do advogado Marcelo Bicudo, representante da Latam Real State, e a própria Latam.
O advogado Rubens Bombini, sócio de Marcelo Bicudo, explica que a diferença entre o valor de compra do terreno e o da sua venda ao Postalis se deu porque a Latam Real State construiu o galpão hoje usado pelos Correios. Mas não soube dizer quem são os sócios da empresa da Nova Zelândia e explicou que Bicudo estava em férias e por isso não poderia responder.
Os envolvidos não foram ainda notificados pela Justiça, nem mesmo de que estão envolvidos em um processo de improbidade administrativa. Por telefone, o presidente do Postalis, Antonio Carlos Conquista, disse que a negociação da área em Cajamar começou em 2010, portanto, antes de ele assumir a presidência do fundo.
A aprovação do negócio se deu na sua gestão, mas calcada, segundo ele, em laudos que confirmavam o valor justo do negócios. "E, como ultrapassava 5% do patrimônio do fundo, foi levado à apreciação do conselho", disse ele.
O presidente do Conselho do Postalis, Ernani Carneiro, disse que o negócio tem um bom rendimento para o fundo, apesar do atraso. O fundo estimou que o centro logístico entraria em operação em 2013, mas só neste ano o complexo foi entregue. Em resposta à revista Época, em novembro do ano passado, os Correios afirmaram que o atraso se deu por causa de ajustes pedidos pela estatal.
Os ex-diretores do Postalis não foram encontrados pela reportagem para comentar o caso e o empresário Luiz Fernando Pires não respondeu às ligações.
Os presidentes da diretoria e do conselho do fundo não souberam informar se o imóvel está registrado com ganhos ou perdas no balanço de 2014, que ainda não foi divulgado.
Maus negócios
A compra do terreno é apenas mais uma das negociações colocadas sob suspeita feitas pelo fundo Postalis nos últimos anos. Também fazem parte dessa lista aplicações em bancos que seriam posteriormente liquidados, como o Cruzeiro do Sul e o BVA, e também investimentos atrelados à dívida de países com problemas, como a Argentina e a Venezuela.
Como resultado dessa equação, o Postalis registrou um rombo de R$ 5,6 bilhões no plano de benefício definido do fundo. A Previc chegou à conclusão, depois de seis meses de investigações, que os diretores e conselheiros do fundo eram responsáveis por uma parte desse rombo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.