Messer é suspeito de comandar os doleiros responsáveis por abastecer esquemas ilícitos no Rio de Janeiro (Polícia Federal/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 06h19.
A Justiça Federal do Rio de Janeiro homologou nesta quarta-feira o acordo de delação premiada de Dario Messer, conhecido como o "doleiro dos doleiros", réu de processos no âmbito da Operação Lava-Jato. Os termos, negociados desde maio, incluem o cumprimento de pena de 18 anos e nove meses de prisão para Messer e a renúncia de 99% de seu patrimônio, estimado em R$ 1 bilhão. Ele está em prisão domiciliar, em regime fechado, e deve permanecer assim por mais dois anos.
É o primeiro acordo que a equipe fluminense da operação celebra com um alvo considerado chefe de uma organização criminosa — Messer comandaria os doleiros responsáveis por abastecer esquemas ilícitos no estado. A delação, bem como a descoberta do esquema, é de responsabilidade do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF). A homologação dos termos ocorreu diante da concordância dos juízes da 2ª e 7ª Varas Federais do Rio, cujos titulares são Alexandre Libonati e Marcelo Bretas.
Ao divulgar a celebração da delação, o MPF informou que a força-tarefa da operação avalia que as informações prestadas por Messer permitirão a coleta de provas para investigações, sobretudo três delas, para as quais já prestou depoimentos como "figura-chave": as operações Câmbio-Desligo, Patrón e Marakata. As duas primeiras têm relação com esquemas de lavagem de dinheiro no Uruguai e no Paraguai — com movimentação estimada em US$ 1,6 bilhão no braço uruguaio — e a última se refere a transações cujo objetivo era lavar montantes por meio do contrabando de esmeraldas.
As investigações sobre Messer tiveram início em meio às descobertas de esquemas envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral, preso pela Lava-Jato do Rio desde 2016. A procuradoria identificou que Cabral teria utilizado os serviços de Messer no Uruguai para ocultar valores provenientes de crimes de corrupção.
Procurada para comentar a homologação da delação premiada, a defesa de Dario Messer afirmou que não pretende se manifestar sobre o acordo.
Detido em julho do ano passado após ter passado 14 meses foragido, Messer cumpre prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, uma vez que se enquadra no grupo de risco da Covid-19. Ele terá o tempo que já passou preso descontado do cumprimento da pena. Do total de 18 anos e nove meses previstos pelo acordo, passará mais dois em regime fechado domiciliar e o restante nos regimes semiaberto e aberto.
Os bens do doleiro serão revertidos em favor dos cofres públicos: eles formam um conjunto de valores, imóveis, obras de arte e um patrimônio relativo às atividades que desenvolveu nos setores agropecuário e imobiliário no Paraguai, onde manteve negócios e um refúgio durante os meses que passou foragido. Ele deixou o país vizinho para se encontrar com a namorada, a advogada Myra Athayde, em São Paulo, onde acabou sendo encontrado por agentes da PF — na ocasião, havia modificado a própria aparência, pintado os cabelos de ruivo, e estava em posse de uma identidade falsa.
Conforme O GLOBO adiantou em maio, quando avançaram as tratativas da delação, conselheiros e advogados próximos a Messer atuaram para convencê-lo a buscar um acordo enquanto ele ainda não estava preso, mas ele sempre resistiu a essa ideia. Antes do doleiro, o filho dele, Dan Wolf Messer, rompeu com o pai e fez uma delação, em 2019, acertando a devolução de R$ 270 milhões ao Estado. Myra Athaide, também delatou e e foi solta no início deste ano.