Raul Jungmann: o ministro disse que "constitucionalmente [Temer] tem esse direito" (Tânia Rego/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de junho de 2017 às 15h45.
Brasília - No momento em que o ministro Herman Benjamim lia o seu voto no Tribunal Superior Eleitoral, pedindo cassação da chapa Dilma-Temer, o presidente Michel Temer participava de mais uma cerimônia.
Era a comemoração do aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, no Grupamento de Fuzileiros Navais em Brasília.
Com isso, Temer busca demonstrar que segue governando e cumprindo suas agendas, apesar dos problemas políticos enfrentados.
Na solenidade, Temer ouviu "toque da Vitória", saiu sem falar com a imprensa, deixando para o ministro da Defesa, Raul Jungmann, falar em nome do governo.
Ao ser questionado se acreditava que o peemedebista chegaria ao final do seu mandato, o ministro respondeu que, "constitucionalmente ele tem esse direito".
Na cerimônia, no entanto, o destaque foi para o discurso do comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que fez paralelos entre "a fúria do mar" enfrentado à época para vencer a batalha Naval do Riachuelo e os dias de hoje.
Ele começou a leitura da sua ordem do dia exaltando a "data magna" da Força, lembrando a fala do almirante Barroso - "sustentar o fogo que a vitória é nossa".
O almirante Leal Ferreira disse que é preciso "enfrentar as dificuldades do presente com a mesma coragem e determinação" e citou as "condições adversas" e "tempos difíceis e incertos" vividos hoje no País.
"O legado do almirante Barroso nos ensina que, diante de condições extremamente adversas, não podemos perder a serenidade e a esperança", afirmou o almirante para em seguida dizer que a "grave crise" "não será mais forte do que nós" e que, "com o mesmo espírito com que enfrentamos os inimigos de então em Riachuelo", "haveremos de vencê-la, eliminando posturas arcaicas e lutas que nos paralisam e dividem".
Mais tarde, questionado pelo jornal "O Estado de S.Paulo" sobre o paralelo feito em sua fala, declarou que não daria opinião sobre a crise política de hoje, "que não lhe compete".
Justificou, no entanto que, a mensagem que ele quis dar é a seguinte:
"Temos de ir para a frente, em nome das gerações futuras, em busca de um País mais próspero, mais unido e também sem corrupção, claro, e sem todas estas posturas arcaicas, que têm de ser superadas".
Na ordem do dia, o almirante cita a crise "profunda e multifacetada" que "assim como as tempestades dos mares em fúria traz perigo ao navio, ameaça destruir o sonho de grande nação que podemos e devemos alimentar".
Jungmann
Em entrevista, ao final da cerimônia, o ministro da Defesa, perguntando sobre se o futuro político de Temer estaria ameaçado também, por conta do anúncio do desembarque do governo pelo PSDB, previsto para a próxima segunda-feira, caso ele vença hoje no TSE, afirmou que o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, lhe "confidenciou" que isso não acontecerá.
"Ele (Imbassahy) disse que teve numerosas conversas e que a tendência do partido é continuar na base do governo", declarou. Sobre a ação que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ameaça apresentar na semana que vem, Jungmann respondeu que "há independência dos poderes", mas ressalvou que é preciso que haja "respeito ao devido processo legal, aos processos, à instância, à figura do presidente da República e, sobretudo, à Constituição".
Jungmann não quis responder, no entanto, se achava que havia perseguição de Janot a Temer.
"Não acho nada", observou. Indagado se considerava que o presidente Temer teria força para seguir governando, o ministro respondeu que Temer tem mantido a governabilidade.
"Eu sempre tive visão de que este governo, pela forma como se deu, seria um governo difícil, não seria um governo fácil. Nunca me iludi a este respeito. E essas dificuldades, vocês todos sabem, não adianta nos iludir, têm se intensificado. Mas, no meu modo de entender, o governo continua e tem tido até aqui a capacidade de se manter governando e tem mantido a governabilidade, e isso é o que importa para o Brasil. É isso que está acontecendo e torço para que assim continue".
O ministro da Defesa voltou a repetir a mensagem de absoluto respeito à Constituição pelas Forças Armadas. "Dentro da Constituição, tudo, fora da Constituição, nada", reiterou ele.
"As Forças Armadas têm missão de Estado e constitucional, por isso não nos cabe entrar neste tipo de debate (político)", emendou.
O ministro Raul Jungmann observou ainda que, "apesar do delay", a reforma do setor ficará pronta até o fim do mês de junho.
A previsão inicial era de serem finalizados os estudos em maio. Ele disse que o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, informou que a reforma estava "indo otimamente bem" e que achava que dava pra fechar em junho.
"O que quero dizer a vocês é que, mesmo que tenha tido um delay, não tenha conseguido finalizar em maio, quero dizer que caminha muitíssimo bem e creio que há condições de encerrá-la agora em junho", explicou o ministro. Jungmann ressalvou, no entanto, que não sabe quando o presidente Temer irá encaminhá-la ao Congresso.
"É uma decisão política, que não nos compete", disse. O ministro acrescentou que "a reforma do sistema de proteção social, com a revisão das carreiras em paralelo, deve estar concluída tecnicamente, espero não ser desmentido, até fim de junho".
Em sua ordem do dia, o comandante da Marinha pediu aos militares "disciplina" e que mantenham respeito à "hierarquia".
Ele avisou ainda que a Marinha junto com Exército e Aeronáutica "cumprirão rigorosamente os deveres constitucionais".
O almirante Leal Ferreira assegurou ao jornal que "não há nenhum risco" à disciplina e à quebra de hierarquia nas Forças Armadas.
"Temos um rigoroso cumprimento do nosso papel constitucional. Não há solução para este País fora da Constituição", reiterou ele.
Em sua fala, o comandante da Marinha pediu ainda que sejam mantidos os recursos para a Marinha continuar a defender o Brasil independentemente dos problemas internos, já que existem também problemas externos ameaçando a paz.
"Devemos, também, levar em conta que, a despeito de termos as nossas atenções e esforços voltados para os graves problemas internos, não podemos nos iludir com a sensação de segurança no campo externo e de perenidade da paz", observou o comandante, acrescentando que "a experiência e os exemplos de conflitos em diversas partes do planeta mostram-nos que agressões externas nem sempre são evitadas ou sequer chegam a ser previstas."
Em seguida, passou a defender a manutenção de Forças Armadas fortes.
"Precisamos manter um Poder Naval moderno e crível, capaz de dissuadir a cobiça alheia sobre as incontáveis riquezas de que dispomos, lembrando-nos de que o mar continua sendo o grande fator geopolítico a determinar o destino e a grandeza das nações", comentou ele.
Para o comandante, a Marinha precisa de uma melhor "força de superfície", que está "chegando ao final de sua vida útil" e deixa a Força "vulnerável".