Brasília - Em média, 100 a cada 1.000 jovens com idade entre 19 e 26 anos morreram de forma violenta no Brasil em 2012, mostra o Mapa da Violência 2014, que considera morte violenta a resultante de homicídios, suicídios ou acidentes de transporte (que incluem aviões e barcos, além dos que ocorrem nas vias terrestres de circulação).
O estudo mostra ainda que a situação não é nova.
Nos anos 1980, a taxa era 146 mortes por 100 mil jovens, e passou para 149, em 2012.
A diferença também é diagnosticada quando comparados homens e mulheres.
Entre 1980 e 2012, no total das mulheres, as taxas passam de 2,3 para 4,8 homicídios por 100 mil.
Um crescimento de 111%. Entre os homens, a taxa passa de 21,2 para 54,3. Um aumento de 156%.
No caso dos suicídios, a pesquisa revela mortalidade três a quatro vezes maior no caso dos homens, no Brasil.
Entre as décadas citadas, as taxas masculinas cresceram 84,9%. Já as femininas, 15,8%.
Uma terceira variável chama a atenção na pesquisa: a vitimização dos negros é bem maior que a de brancos.
Morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012.
Considerando a década entre 2002 e 2012, a vitimização negra, isso é, a comparação da taxa de morte desse segmento com a da população branca, mais que duplicou.
Segundo o responsável pela análise, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências, o recorte racial ajuda a explicar o fato de não ter se verificado na pesquisa grandes mudanças nas taxas globais de homicídios, embora o número registrado a cada ano tenha aumentado.
Os brancos têm morrido menos. Os negros, mais. Entre 2002 e 2012, por exemplo, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%.
De acordo com Jacobo, essa seletividade foi construída por diversos mecanismos, entre os quais o desenvolvimento de políticas públicas de enfrentamento à violência em áreas onde havia mais população branca do que negra, bem como o acesso, por parte dos brancos, à segurança privada.
Assim, os negros são excluídos duplamente - pelo Estado e por causa do poder aquisitivo.
“Isso faz com que seja mais difícil a morte de um branco do que a de um negro”, destaca o sociólogo.
Ele alerta que essa situação não pode ser encarada com naturalidade pela população brasileira.
“Não pode haver a culpabilização da vítima”, diz Jacobo, para quem o preconceito acaba justificando a violência contra setores vulneráveis.
O sociólogo, que em 2013 recebeu o Prêmio Nacional de Segurança Pública e Direitos Humanos da Presidência da República, defende o estabelecimento de políticas de proteção específicas, que respeitem os direitos dos diferentes grupos e busquem garantir a vida da população.
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1. Epidemia
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1/33 (©AFP/Getty Images/Arquivo / Spencer Platt)
São Paulo - Conceitualmente, especialistas afirmam que uma cidade vive níveis de
epidemia de
violência quando a taxa de assassinatos passa de 10 para cada 100 mil habitantes. Não é nada tranquilizador constatar, portanto, que praticamente todas as grandes
cidades brasileiras -
aquelas com mais de 500 mil habitantes - estão acima desse patamar. De um total de 39, apenas São Bernardo do Campos (SP) se salva, ainda que por uma margem bem apertada. Com a ajuda dos dados do
Mapa da Violência de 2013, EXAME.com analisou a situação de todas as maiores cidades do país - e o quanto a taxa de cada uma delas representa diante do nível mínimo epidêmico. Apesar desse quadro, é preciso lembrar que a situação das grandes cidades é ainda muito melhor que a de municípios pequenos e médios, em geral (veja a prova na lista das
300 cidades mais perigosas do Brasil). De acordo com o professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Julio Jacobo Waiselfiz, que elabora anualmente o estudo, considera-se normal que uma cidade que registre até 5 mortes a cada 100 mil habitantes. Para ele, a população nessas condições tem confiança no aparelho estatal de
segurança que, por sua vez, dá conta dos crimes. Já entre 6 a 10 homicídios/100 mil habitantes, existe uma sensação de insegurança e intraquilidade, e os moradores começam a evitar andar por certas vias em determinados horários. Surge também a necessidade de contratar segurança particular e o clima é de medo. A partir de 10 mortes registradas a cada 100 mil habitantes, já se considera que a cidade vive uma epidemia de violência. "O clima é de total intranqulidade, há regiões dominadas pelo crime e pela violência onde a polícia não entra e o exército é chamado para fazer operações especiais", explica Waiselfiz.
Segundo o professor, uma das piores consequências de quando uma cidade atinge o nível epidêmico é que a criminalidade começa a cooptar o aparelho do estado. "Eles começam a introduzir representantes dentro do estado (na polícia e nos três poderes) para garantir seus interesses", afirma. Veja nas fotos o tamanho da epidemia nas grandes cidades brasileiras.
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2. 1º Maceió (AL) - 11x índice de epidemia
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2/33 (Pedro Trindade/Creative Commons)
População: 943.110
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.951
Taxa de homicídios: 111,1 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Maceió é 11 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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3. 2ºJoão Pessoa (PB) - 8,6x índice de epidemia
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3/33 (Wikipedia / Pbendito)
População: 733.155
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.729
Taxa de homicídios: 86,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em João Pessoa é 8,6 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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4. 3º Salvador (BA) - 6,2x índice de epidemia
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4/33 (Wikimedia Commons)
População: 2.693.606
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 5.401
Taxa de homicídios: 62 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Salvador é 6,2 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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5. 4º Duque de Caxias (RJ) - 6x índice de epidemia
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5/33 (Divulgação/ Prefeitura de Duque de Caxias)
População: 861.158
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.677
Taxa de homicídios: 60,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Duque de Caxias é 6 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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6. 5º Recife (PE) - 5,7x índice de epidemia
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6/33 (Shaun Botterill/Getty Images)
População: 1.546.516
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.888
Taxa de homicídios: 57,1 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Recife é 5,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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7. 6º Manaus (AM) - 5,6x índice de epidemia
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7/33 (Wikimedia Commons)
População: 1.832.424
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.627
Taxa de homicídios: 56,2 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Manaus é 5,6 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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8. 7º São Luís (MA) - 5,5x índice de epidemia
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8/33 (Wikimedia Commons)
População: 1.027.430
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1661
Taxa de homicídios: 55,4 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em São Luís é 5,5 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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9. 8º Fortaleza (CE) - 5,4x índice de epidemia
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9/33 (Divulgação)
População: 2.476.589
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 3.507
Taxa de homicídios: 54 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Fortaleza é 5,4 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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10. 9º Feira de Santana (BA) - 5,3x índice de epidemia
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10/33 (Andrevruas/AFP)
População: 562.466
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 926
Taxa de homicídios: 53 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Feira de Santana é 5,3 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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11. 10º Goiânia (GO) - 4,9x índice de epidemia
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11/33 (Wikimedia Commons)
População: 1.318.149
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.698
Taxa de homicídios: 49,8 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Goiânia é 4,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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12. 11º Natal (RN) - 4,9x índice de epidemia
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12/33 (Beraldo Leal/Wikimedia)
População: 810.780
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1030
Taxa de homicídios: 49 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Natal é 4,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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13. 12º Aracaju (SE) - 4,7x índice de epidemia
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13/33 (Wikimedia Commons)
População: 579.563
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 766
Taxa de homicídios: 47,6 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Aracaju é 4,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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14. 14º Aparecida de Goiânia (GO) - 4,7x índice de epidemia
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14/33 (Divulgação/ Prefeitura de Aparecida de Goiânia)
População: 465.093
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 580
Taxa de homicídios: 47,9 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Aparecida de Goiânia é 4,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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15. 15º Curitiba (PR) - 4,7x índice de epidemia
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15/33 (Francisco Anzola/Wikimedia Commons)
População: 1.764.541
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.835
Taxa de homicídios: 47,2 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Curitiba é 4,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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16. 16º Nova Iguaçu (RJ) - 4,6x índice de epidemia
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16/33 (Gerson Tavares/Flickr)
População: 799.047
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.062
Taxa de homicídios: 46,8 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Nova Iguaçu é 4,6 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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17. 19º Belo Horizonte (MG) - 4x índice de epidemia
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17/33 (WikimediaCommons)
População: 2.385.640
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.712
Taxa de homicídios: 40,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Belo Horizonte é 4 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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18. 20º Contagem (MG) - 3,9x índice de epidemia
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18/33 (Truu/Wikimedia Commons)
População: 608.715
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 705
Taxa de homicídios: 39,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Contagem é 3,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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19. 21º Brasília (DF) - 3,7x índice de epidemia
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19/33 (Dado Galdieri/Bloomberg)
População: 2.609.998
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 2.864
Taxa de homicídios: 37,4 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Brasília é 3,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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20. 22º Porto Alegre (RS) - 3,6x índice de epidemia
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20/33 (Eurivan Barbosa/ Wikimedia Commons)
População: 1.413.094
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.618
Taxa de homicídios: 36,9 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Porto Alegre é 3,6 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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21. 23º Teresina (PI) - 3,3x índice de epidemia
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21/33 (GettyImages)
População: 822.364
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 743
Taxa de homicídios: 33,4 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Teresina é 3,3 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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22. 24º Uberlândia (MG) - 2,9x índice de epidemia
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22/33 (Wikimedia Commons)
População: 611.904
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 488
Taxa de homicídios: 29,9 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Ribeirão Preto é 2,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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23. 25º São Gonçalo (RJ) - 2,9x índice de epidemia
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23/33 (Felipe Ventura dos Santos/Flickr)
População: 1.008.065
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 1.020
Taxa de homicídios: 29,0 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em São Gonçalo é 2,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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24. 27º Rio de Janeiro (RJ) - 2,3x índice de epidemia
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24/33 (REUTERS/Pilar Olivares)
População: 6.355.949
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 5.183
Taxa de homicídios: 23,1 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Rio de Janeiro é 2,3 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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25. 28º Guarulhos (SP) - 2,1x índice de epidemia
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25/33 (Wikimedia Commons)
População: 1.233.436
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 775
Taxa de homicídios: 21,8 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Guarulhos é 2,1 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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26. 29º Campo Grande (MS) - 2,1x índice de epidemia
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26/33 (Wikimedia Commons)
População: 796.252
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 557
Taxa de homicídios: 21,4 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Campo Grande é 2,1 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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27. 30º Osasco (SP) - 1,9x índice de epidemia
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27/33 (Chadner/ Wikimedia Commons)
População: 667.826
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 457
Taxa de homicídios: 19,6 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Osasco é 1,9 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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28. 31º Sorocaba (SP) - 1,7x índice de epidemia
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28/33 (Wikimedia Commons)
População: 593.776
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 306
Taxa de homicídios: 17,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Sorocaba é 1,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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29. 32º Campinas (SP) - 1,7x índice de epidemia
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29/33 (Wikimedia Commons)
População: 1.090.386
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 557
Taxa de homicídios: 17,1 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Campinas é 1,7 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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30. 33º Joinville (SC) - 1,4x índice de epidemia
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30/33 (Wikimedia Commons)
População: 520.905
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 248
Taxa de homicídios: 14,6 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Joinville é 1,4 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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31. 35º Juiz de Fora (MG) - 1,2x índice de epidemia
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31/33 (Wikimedia Commons)
População: 520.811
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 174
Taxa de homicídios: 12,7 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Juiz de Fora é 1,2 vezes maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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32. 38º Ribeirão Preto (SP) -1x índice de epidemia
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32/33 (Wikipedia)
População: 612.340
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 196
Taxa de homicídios: 10,3 (por 100 mil hab.) O índice de assassinatos em Ribeirão Preto é 1 vez maior que o índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.
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33. 39º São Bernardo do Campo (SP) - abaixo do índice
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33/33 (FABIANO ACCORSI/ Exame)
População: 770.253
Nº de homicídios (entre 2009 e 2011): 250
Taxa de homicídios: 9,5 (por 100 mil hab.) São Bernardo do Campo é a única entre as grandes cidades brasileiras que está abaixo do índice mínimo para violência ser considerada epidêmica.