População brasileira: estudo procura oferecer aos empresários e gestores públicos ferramentas para entender a sociedade (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 08h15.
São Paulo - A população brasileira é complexa e está cada vez mais exigente, mostra estudo inédito divulgado na terça-feira, 29, pela Serasa Experian, chamado de Mosaic Brasil. O estudo considera mais de 400 variáveis, sendo a renda apenas uma delas, e leva em conta somente brasileiros acima dos 18 anos. Por conta disso, o documento também é um retrato de grande parte da população que vai votar na eleição de outubro.
Em entrevista ao Broadcast,, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, Juliana Azuma, superintendente de Marketing Services da Serasa Experian, explicou que esse estudo tem como objetivo oferecer aos empresários e gestores públicos ferramentas para entender a sociedade e ajudar na tomada de decisões. "O Mosaic traz à tona diferentes anseios da população", afirmou.
O Mosaic Brasil divide a população brasileira em 11 grupos, sendo o mais relevante deles o composto por Jovens Adultos da Periferia, com uma porcentagem de 16,80% do total. Esse grupo é formado principalmente por solteiros e há uma grande presença de mulheres como chefes de família.
"Embora uma boa parte tenha acesso a emprego formal, a informalidade está muito presente nesse grupo, deixando a vida mais incerta. As transformações dos últimos anos proporcionam melhora efetiva nas condições de vida de suas famílias, o que por vezes reforça neste grupo uma expectativa mais positiva em relação ao futuro pessoal e do País", escreveu a Serasa.
Azuma acrescentou que esse grupo é cada vez mais influente dentro da sociedade, resultado de mais acesso à informação e escolaridade. "É um jovem ativo, não só economicamente, mas também no que diz respeito a padrões", afirmou.
Logo em seguida aparecem como mais representativos da sociedade brasileira os grupos Massa Trabalhadora Urbana (14,32%), Moradores de Áreas Empobrecidas do Sul e Sudeste (11,42%), Adultos Urbanos Estabelecidos (10,24%), Habitantes das Áreas Rurais (9,38%), Envelhecendo no Século 21 (9,06%), Juventude Trabalhadora Urbana (6,87%), Experientes Urbanos de Vida Confortável (6,25%), Habitantes de Zonas Precárias (5,99%), Donos de Negócio (5,87%) e Elites Brasileiras (3,79%).
A superintendente da Serasa Experian acrescentou que o brasileiro está cada vez mais inserido no contexto da sociedade da informação, além de possuir uma escolaridade mais ampla. "Isso faz com que as pessoas sejam mais exigentes", disse. "A mensagem padrão já não é mais suficiente para atingir esse público. Para atingir a sociedade em massa agora há desafios maiores."
Para Azuma, o estudo mostra a importância de levar em conta os diferentes perfis da sociedade no planejamento das estratégias de comunicação, de políticas públicas e das empresas.
O grupo com mais dificuldades é o que representa os Habitantes de Zonas Precárias, que o estudo define como "homens e mulheres que vivem próximos à linha da pobreza" e "em regiões com acesso restrito a serviços públicos". Muitos deles dependem de ajuda do governo para permanecerem acima da linha da pobreza e, em termos de consumo, poucos conseguem ir além do básico.
Esse quadro sugere que, apesar dos avanços sociais obtidos nos últimos anos, mais de um terço da população brasileira ainda vive na periferia ou em áreas pobres ou precárias, embora muitos tenham obtido uma melhora na qualidade de vida nos últimos anos e conseguido aumentar o consumo. Somando-se os grupos Jovens Adultos da Periferia, Moradores de Áreas Empobrecidas do Sul e Sudeste e Habitantes de Zonas Precárias, a porcentagem alcança 34,2%.
Mas, mesmo morando em áreas pobres, muitas dessas pessoas estão comprando mais produtos, e o estudo ressaltou a diminuição da pobreza e da desigualdade social nos últimos anos, dando origem ao que vem sendo chamado de "Nova Classe Média".
"Nesse contexto, uma grande parte da população saiu da pobreza e passou a integrar plenamente o universo de consumo, tornando-se ator importante do mercado consumidor interno e trazendo consigo novos hábitos e demandas", mostra o estudo.
Azuma afirmou que a população idosa também é representativa e está "ávida por consumir mais e por ser entendida pelos gestores e pelo empresariado". Ela explicou que essa é uma classe que não está mais somente preocupada com a saúde, mas possui perfis alternados de consumo, está mais conectada com o que ocorre no cotidiano e está preocupada com entretenimento e cultura.
O estudo Mosaic foi feito em 29 países, mas para cada sociedade há uma classificação diferente dos grupos.
Classes sociais
Não há um consenso sobre a definição das classes sociais no Brasil. A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), por exemplo, divide a sociedade brasileira em classes A, B1, B2, C1, C2, D e E, em um sistema conhecido como "Critério Brasil".
A Abep tem como proposta orientar as empresas de pesquisa e construiu um sistema de pontos com base no grau de instrução das famílias e na posse de itens como automóveis, geladeiras e banheiros.
Já a Fundação Getulio Vargas publicou em 2012 uma pesquisa chefiada por Marcelo Néri - hoje ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República -, na qual havia cincos classes sociais definidas pela renda domiciliar total, considerando todas as fontes de renda: A (acima de R$ 6.329), B (de R$ 4.854 a R$ 6.329), C (de R$ 1.126 a R$ 4.854), D (de R$ 705 a R$ 1.126) e E (de R$ 0 a R$ 705). Por essa pesquisa, mais da metade da população, 50,5%, pertencia à classe C.
No mesmo ano, uma comissão da SAE havia publicado o estudo "Vozes da Nova Classe Média", definindo a sociedade em uma série de estratos, com base na renda familiar per capita: extremamente pobres (até R$ 81), pobres (R$ 81 a R$ 162), vulneráveis (R$ 162 a R$ 291), baixa classe média (R$ 291 a R$ 441), média classe média (R$ 441 a R$ 641), alta classe média (R$ 641 e R$ 1.019), baixa classe alta (R$ 1.019 a R$ 2.480) e alta classe alta (acima de R$ 2.480).
Esses valores foram definidos com base no método da polarização na vulnerabilidade, que representa a probabilidade de retorno à condição de pobreza em algum momento dos próximos cinco anos.