José Padilha, diretor de "Robocop", posa para fotos: "resolvi documentar isso depois do episódio da morte do Santiago, por conta da confusão com o Marcelo Freixo, meu amigo", disse (REUTERS/Fred Prouser)
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 11h04.
Última atualização em 26 de março de 2018 às 11h49.
Rio - Mesmo em meio à agenda agitada de entrevistas e compromissos em razão do lançamento de Robocop no Brasil, José Padilha encontrou tempo para desenvolver um novo projeto: a documentação dos atuais movimentos sociais e protestos no Brasil.
"Passei um ano longe para fazer o Robocop. Perdi contato direto com a movimentação social pela qual o País tem passado", contou ele, que se mudou para o Canadá e passou mais um período entre idas e vindas aos EUA.
Para recuperar a falta de informação, decidiu documentar as manifestações e entrevistar pessoas ligadas a diversos movimentos.
"Começamos a filmar há pouco. Resolvi documentar isso depois do episódio da morte do Santiago, por conta da confusão com o Marcelo Freixo, meu amigo. Vi como esta questão estava sendo tratada de forma muito superficial e questionável do ponto de vista jornalístico", conta.
Para acompanhá-lo na empreitada, Padilha convidou dois amigos, Walter Carvalho e Felipe Lacerda, para filmar junto. "Eles gostaram da ideia e partimos para as filmagens. Tem sido uma imersão nas questões do Brasil, entrevistando muita gente sobre as manifestações, o que me deu uma ideia boa de como vai tudo. Vi que black blocs não existem. É uma ficção", diz.
"Aqui, um pedaço deles são torcidas organizadas. Mas não existe uma ideologia como em outros países. Aliás, black bloc é uma tática, de desviar a atenção da polícia na manifestação. Aqui isso tem outra conotação. Qualquer violência por parte de quem está em uma passeada, ou tapar o rosto, já é chamada de black bloc", diz ele, que não pretende necessariamente transformar o material em filme.
"Por ora, estou documentando. A mídia tradicional não entendeu direito como funciona a mídia interativa. E fica tentando explicar o fenômeno a partir de categorias que não existem mais."
Em meio ao contexto atual, Padilha analisa a forma como a questão da polícia têm sido tratada no País. "Ainda não temos tecnologia para usar drones. O que temos é gente sendo treinada. Neste contexto, a UPP, por exemplo, está fazendo água. É essencialmente um projeto fadado ao fracasso porque não ataca o problema real. Não contempla a modificação e a reestruturação da polícia. O Tropa 1 e o 2 falam de como a estrutura corporativa da polícia tende a produzir policiais corruptos ou extremamente violentos. Isso não foi mexido nem um centímetro. Sem mudança, não haverá avanço." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.