Rodrigo Janot: "Não é definitivamente uma guerra contra pessoas ou contra partidos" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 19 de junho de 2017 às 21h54.
Brasília - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reagiu na noite desta segunda-feira às críticas de que o Ministério Público e a operação Lava Jato cometem abuso na sua atuação, horas após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ter se queixado das apurações conduzidas pelos dois órgãos, cobrando limites às apurações.
"Um alerta a esses senhores: a sociedade brasileira está cansada de homens públicos deste jaez; pode até levar um tempo, mas os brasileiros saberão reconhecê-los e serão fortes para repudiá-los, mesmo por detrás das fantasias cuidadosamente urdidas para enganar. Basta de hipocrisia!", disse Janot, sem citar nominalmente Gilmar Mendes, em evento de abertura de um seminário no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em Brasília.
Mendes havia reclamado pela manhã de investigações conduzidas na "calada da noite", numa referência à ação contra o presidente Michel Temer requerida por Janot e autorizada por Edson Fachin, colega de Mendes no Supremo também alvo de críticas nesta manhã.
Para Janot, só dois tipos de pessoas aceitam o discurso de que o Brasil está se tornando um Estado policial de exceção, queixa feita por Mendes mais cedo.
"Os primeiros nunca viveram em uma ditadura, não conhecem, por experiência própria, o que representa uma vida sem liberdade; militam, portanto, na ignorância. Para estes, o esclarecimento dos fatos é suficiente. Mas há também aqueles que operam no engodo; os que não têm compromisso verdadeiro com o país", disse.
O procurador-geral afirmou que a real preocupação dessas pessoas é com a "casta privilegiada da qual fazem parte".
"Empunham estrepitosamente a bandeira do Estado de Direito, mas desejam mesmo é defender os amigos poderosos com os quais se refestelam nas regalias do poder", criticou.
O procurador-geral afirmou que a instituição está em guerra contra um inimigo sem face.
"Não é definitivamente uma guerra contra pessoas ou contra partidos; mas, sim, contra a impunidade e a corrupção que dilapida o patrimônio do país", disse.
Ele avaliou não ter mais ilusões com o atual momento e, apesar do esforço pessoal, vai deixar o comando da PGR com mais dúvidas do que certezas.
"Sei que o caminho a seguir para nossa sociedade alcançar a verdadeira democracia será longo e ainda está em plena construção", disse.