Rodrigo Janot: o procurador atribuiu ao ministro "a função de liderança na organização criminosa" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 16h31.
Última atualização em 25 de agosto de 2017 às 16h42.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atribuiu ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, "a função de liderança mais proeminente na organização criminosa" delatada pelo ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB).
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito para investigar Blairo.
A solicitação tem como base a delação de Silval. O ministro da Agricultura é alvo da Operação Ararath, deflagrada em 2014, para investigar desvio de recursos públicos no Governo de Mato Grosso. Janot atribui ao ministro "tentativas de interferir" na Ararath entre 2014 e 2017.
O procurador citou o ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso José Geraldo Riva.
"Entre os agentes políticos, destaca-se a figura de Blairo Borges Maggi, o qual exercia incontestavelmente a função de liderança mais proeminente na organização criminosa, embora se possa afirmar que outros personagens tinham também sua parcela de comando no grupo, entre eles o próprio Silval Barbosa e José Geraldo Riva".
O ministro Luiz Fux determinou a retirada do sigilo da delação de Silval e autorizou a abertura de um inquérito para apurar uma organização criminosa que se instalou na alta cúpula do governo do Mato Grosso, de acordo com o relato de Janot.
A decisão de Fux foi tomada nesta quinta-feira, 24, e atende a pedido da Procuradoria-Geral da República. O ministro Fux havia homologou a delação no dia 9 de agosto, uma semana após de ter dito que ela seria "monstruosa".
Segundo Janot, Silval Barbosa "menciona fatos típicos praticados por autoridades detentoras de prerrogativa de foro, dentre elas o Deputado Federal Ezequiel Fonseca, Deputado Federal Carlos Bezerra, o Senador da República José Aparecido Santos, o Senador da República Wellington Fagundes e o Ministro de Estado e Senador da República licenciado Blairo Borges Maggi".
A PGR afirma que, segundo Silval, seu ex-chefe de gabinete Sílvio Cezar Correa Araújo, entre 2007 e 2010, praticou "inúmeros crimes contra a administração e lavagem de dinheiro".
Silvio Cézar Correa Araújo é uma das outras quatro pessoas a firmarem acordo de delação premiada, além de Silval Barbosa. Os outros delatores são Roseli de Fátima Meira Barbosa, esposa do ex-governador do Mato Grosso, Rodrigo da Cunha Barbosa e Antônio da Cunha Barbosa.
Como forma de corroboração à sua delação premiada, Silval entregou à Procuradoria-Geral da República vídeos que mostram políticos do Estado recebendo dinheiro vivo, veiculados no Jornal Nacional nesta quinta-feira, 24.
O ex-governador alega que as gravações foram feitas pelo então chefe de gabinete Silvio Cesar. De acordo com Silval, ele era o funcionário responsável por entregar os valores.
O dinheiro, segundo o ex-governador, era de esquemas de propina no Estado.
Entre os políticos flagrados nas imagens estão o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), que chegou a colocar tantas notas em seus bolsos que parte delas caiu no chão. O vídeo mostra Emanuel agachando-se para juntar as cédulas espalhadas.
O deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) aparece nas imagens às quais a Rede Globo teve acesso recebendo o dinheiro em uma caixa de papelão.
O então deputado estadual Hermínio Barreto (PR) é flagrado com os maços em uma mala. A atual prefeita de Juara (MT), Luciane Bezerra (PSB) também pode ser identificada no vídeo levando o dinheiro na bolsa.
O ex-deputado estadual Alexandre César (PT) aparece levando notas em uma mochila.
A reportagem entrou em contato com o ministro Blairo Maggi, que ainda não se pronunciou.