Jair Bolsonaro: parlamentar é o principal candidato da extrema direita no ano que vem (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Marília Almeida
Publicado em 2 de abril de 2017 às 17h52.
Última atualização em 3 de abril de 2017 às 12h10.
Um fantasma ronda o Palácio do Planalto. Esguio e de sorriso largo entremeado pelo cenho franzido no qual desponta um olhar desconfiado, Jair Bolsonaro é um homem de passos largos e - completam seus adversários - “ideias estreitas”. Está no sétimo mandato parlamentar e, pelo ritmo de novos adeptos que conquista no Facebook - de 3 mil a 7 mil por dia -, cada vez mais se aproxima da campanha presidencial de 2018 como o principal candidato da extrema direita.
As mídias sociais são hoje o maior motor de seu fazer político. Para seus adversários - que Bolsonaro denomina genericamente como “a esquerda”, na qual inclui PT, PCdoB, PSOL e até a Rede - em 2018 o capitão reformado do Exército “representará para a extrema direita reacionária e saudosista da ditadura militar a oportunidade de sair do armário" (palavras do deputado Chico Alencar, do PSOL-RJ).
“Com sua forma bruta e tosca, ele agrada aos desencantados com a política”, afirma Alencar. Com 11% nas intenções de voto para presidente da República segundo pesquisa CNT/MDA, de fevereiro, o deputado estava empatado em segundo lugar.
As polêmicas nas redes sociais, onde combate “o politicamente correto”, fizeram o deputado passar a falar para fora de seus clientes tradicionais do meio militar. Bolsonaro deixou de ser apenas um capitão do Exército para se tornar também o arquétipo do tio conservador que toda família do interior do País abriga. Quer ordem na escola, ordem na família, quer ordem, enfim. “Há excesso de direitos no Brasil”, diz.
Ele é, para o professor de Ciência Política José Álvaro Moisés, da USP, expressão de um fenômeno que tem um componente de crítica às instituições e aos políticos e de rejeição a temas identitários e de direitos humanos. “É uma crise das elites em um certo sentido, que perderam a capacidade de mobilizar a sociedade.” De 12% a 13% dos eleitores pensariam como o deputado. “É o que mostram as pesquisas.”
Bolsonaro tem 1,85 metro de altura e é um homem sorridente. Em uma hora de caminhada pelo Congresso atendeu a 61 pedidos de selfies e fez 12 gravações de mensagens distribuídas pelo WhatsApp ou Facebook. Um dos que posaram ao lado do deputado foi o técnico do time de basquete da Francana, Hélio Rubens Garcia Filho, o Helinho. Horas mais tarde, longe da Câmara, Helinho diria que tirou a foto só por curiosidade. “Quem mais me impressiona hoje na política é o Doria (João Doria, prefeito de São Paulo).”
Recebido em aeroportos do País por centenas de pessoas aos gritos de “mito”, Bolsonaro leva nas viagens assessores que cuidam das redes sociais. De acordo com o indicador de alcance social da consultoria Bites, que soma os fãs e seguidores do Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Google+, o deputado saltou de 44 mil seguidores, em março de 2015, para 5,04 milhões até sexta-feira, crescimento de 11.344%. Entre 1.º de fevereiro e 20 de março, seus posts no Facebook geraram 1.038.672 compartilhamentos, o que mostra como ele distribui suas ideias.
E nenhuma ideia lhe é mais cara do que os ataques à distribuição nas escolas do que ele chama de “kit gay”, o material anti-homofobia preparado pela ONG Pathfinder para o Ministério da Educação na gestão de Fernando Haddad (PT). O post Livros do PT alcançou 38,4 milhões de pessoas e o vídeo que ele trazia foi assistido por 8,2 milhões. “Para o PT, brevemente a pedofilia deixará de ser crime”, diz Bolsonaro. “O kit gay foi uma catapulta na minha carreira política”, reconhece.
A gestão de Haddad informou que “o chamado kit gay nada mais era do que material técnico para formação de professores”. Haddad ocupa um espaço especial no gabinete do deputado em Brasília. Bolsonaro pendurou na porta a foto do petista no aperto de mão de Lula com deputado federal Paulo Maluf (PP), em 2012. Sobre Bolsonaro, Haddad conclui: “O Brasil está em busca de um estadista, e não de um palhaço”.
É o deputado quem comenta os posts em seu Facebook. Ali, ele agradece o apoio e até briga com os seguidores. Em 2 de março, um deles o questionou sobre o pacote anticorrupção. Resposta de Bolsonaro: “Você é a prova viva dessa matéria. Parabéns, só falta o DIPROMA”. “Ele é fake ou é um mortadela contratado que tem cérebro de ovo cozido”, explica Bolsonaro. Outro dia, conta o deputado, uma pessoa entrou em seu perfil e escreveu: “Deputado, esse seu projeto é uma bosta”. “Eu falei: ‘Muito obrigado, tem a sua cara’.”
No Carnaval, compartilhou um vídeo do humorista Rudy Landucci, que criou o personagem Beiçonaro. Na paródia de Mamãe eu Quero, Beiçonaro canta: “Mamãe eu quero executar/os comunistas/os comunistas/ pro Brasil melhorar”. “Um dia ele (Bolsonaro) foi me procurar e me ligou como se fosse um trote. Ele entrou na brincadeira”, conta Rudy.
“O grande adversário de Bolsonaro nas redes sociais não é Aécio nem Lula. É Doria”, diz Manoel Fernandes, diretor da Bites. De um total de 47 milhões de interações dos últimos 300 posts das fanpages de Doria, Bolsonaro, Lula e Aécio, Doria teve 23,3 milhões de interações, seguido por Bolsonaro (14,7 milhões), Lula (8,1 milhões) e Aécio (985 mil).
Bolsonaro faz planos. “Ele pensa no País acima de tudo”, diz o amigo coronel Ney Müller. Se presidente, o deputado queria ter como conselheiro Delfim Netto e o general Augusto Heleno em seu ministério. Como vice na chapa em 2018, pensa no ex-governador do Piauí Mão Santa.
Contrário à independência do Banco Central, ao casamento gay, às cotas raciais e ao Estatuto do Desarmamento, o deputado citou sete vezes o presidente americano Donald Trump em quatro horas de entrevista ao falar de como lidar com a questão ambiental, a exploração de minérios em terras indígenas e perguntas embaraçosas da imprensa. “Daria uma de Trump: ‘Fake news, passa para outro’.” E alertou: “Vocês (jornalistas) vão bater tanto em mim que vão fazer a minha campanha.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.