Segue o impasse quanto à liberação das obras de montagem das arquibancadas provisórias norte e sul na Arena Corinthians, interditadas desde segunda-feira (31) pela Superintendência do Ministério do Trabalho. O embargo das obras se deu após a morte do funcionário Fábio Hamilton da Cruz, de 23 anos, que caiu de uma altura de oito metros enquanto trabalhava no local.
Nesta quinta-feira, uma reunião entre representantes da empresa Fast Engenharia, responsável pela instalação das arquibancadas móveis da Arena Corinthians, e da Superintendência do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) terminou sem acordo.
Para que as obras no Itaquerão possam ser retomadas, o Ministério do Trabalho pediu à Fast Engenharia que providencie: guarda-corpo para os operários, cabo de aço transversal e longitudinal, rede de proteção coletiva ou solução alternativa, comprovação de capacitação dos trabalhadores e documento de análise de risco dos trabalhadores da obra.
“Se eles não apresentarem todos, não tem liberação”, garantiu Luiz Antonio de Medeiros, superintendente do Ministério do Trabalho em São Paulo. Ao jornal Folha de S. Paulo, Medeiros deu uma declaração polêmica: “Se esse estádio não fosse da Copa [do Mundo], os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Não vamos nem entrar nesse assunto porque vai atrasar ainda mais a obra. Falei com o ministro e ele deu o respaldo. Estamos fazendo de conta que não estamos vendo”.
Ainda na tarde desta quinta-feira, uma nova fiscalização foi realizada no estádio por representantes do Ministério do Trabalho, sob a companhia de engenheiros da Fast, na tentativa de buscarem uma solução. O principal entrave para a liberação da obra se dá em um item da lista de exigências feitas pelo ministério na terça-feira: a apresentação de um projeto de proteção coletiva aos trabalhadores.
O órgão prefere que seja instalada uma rede abaixo da área em que os operários atuam. A Fast, porém, considera esta obra complexa e difícil de ser realizada e teme que a instalação atrase ainda mais a obra. A alternativa proposta pela construtora é a instalação de torres móveis com bandejas de segurança.
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1. O custo das Arenas da Copa 2014
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1/11 (Buda Mendes/Getty Images)
Aproximadamente R$ 2,8 bilhões. Este foi o
orçamento apresentado pela candidatura do Brasil à FIFA, ainda em 2007, para construir e reformar os palcos da
Copa do Mundo. Após dois grandes aumentos na matriz de gastos (2010 e 2012) e muitos problemas, o Brasil está a quatro meses da competição com a cifra ultrapassando os R$ 8 bilhões, um aumento de 285% em relação ao plano inicial. Há estádio que custou quase o dobro do Soccer City, local da última final entre Espanha x Holanda, na Copa da África do Sul em 2010. Outro estava praticamente pronto e corre o risco de ficar fora do Mundial.
Os detalhes e curiosidades estão na lista a seguir, que traz um resumo do que rolou em cada uma das 12 sedes da Copa 2014.
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2. Recife: Arena Pernambuco
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2/11 (Divulgação)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Entregue oficialmente: 14 de abril de 2013
Capacidade FIFA: 42.849 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 46.106 pessoas
Custo inicial: R$ 529,5 milhões
Custo final: R$ 532,6 milhões
Problemas: Distante 19km do centro do Recife, o estádio tem causado problemas aos torcedores que utilizam o transporte público. Na Copa das Confederações o sistema que integra metrô e ônibus ficou muito congestionado
Curiosidades: Uma usina solar instalada nas proximidades do estádio é capaz de suprir 30% do consumo da Arena. É o primeiro passo para a Cidade da Copa prevista para 2026, que visa trazer desenvolvimento à região oeste do Grande Recife
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3. Brasília: Estádio Nacional Mané Garrincha
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3/11 (Mateus Baeta/ Portal da Copa)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Entregue oficialmente: 18 de maio de 2013
Capacidade FIFA: 68.009 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 72.788 pessoas
Custo inicial: 745,3 milhões
Custo final: R$ 1,4 bilhão
Problemas: Morte de um operário em junho de 2012. O gramado ficou castigado após a sequência de jogos em 2013 e foram observadas goteiras no estádio. Brasília não tem clubes de expressão, o que deixa a sobrevivência do Mané Garrincha dependente do futebol de outras regiões e eventos não ligados ao futebol
Curiosidades: É a obra mais cara dentre os estádios para a Copa do Mundo 2014 -- custou o dobro do Soccer City, palco da final da última Copa. Foi concebido dentro do estilo arquitetônico da cidade, projetada na década de 50 por Niemayer. Recebeu a abertura da Copa das Confederações
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4. Rio de Janeiro: Maracanã
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4/11 (Divulgação/ Consórcio Maracanã 2014)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Entregue oficialmente: 2 de junho 2013
Capacidade FIFA: 73.531 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 78.838 pessoas
Custo inicial: R$ 600 milhões
Custo final: R$ 1,05 bilhão
Problemas: O gramado sofre com a grande quantidade de jogos. Filas extensas foram registradas na compra e retirada de ingressos
Curiosidades: Os torcedores mais saudosos sentiram falta da famosa “Geral do Maraca” e da rede em formato “Véu de Noiva”. Recebeu a final da Copa das Confederações e vai ser o palco da grande final da Copa do Mundo, em 2014
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5. Curitiba: Arena da Baixada
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5/11 (Divulgação)
Previsão inicial: Dezembro 2012
Previsão de entrega: Final de abril de 2014
Capacidade FIFA: 41.456 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 43 mil pessoas
Orçamento inicial: R$ 184,5 milhões
Orçamento final: R$ 326,7 milhões
Problemas: Sofreu com as greves e é o estádio mais atrasado dentre as sedes da Copa. Em janeiro, a FIFA ameaçou retirar a casa do Atlético-PR do mundial e exigiu um acréscimo na quantidade de operários que trabalham na obra. Cerca de 500 trabalhadores foram contratados para a etapa final de construção. No dia 18 de fevereiro, mais uma inspeção será feita para decidir se a Arena tem, ou não, condições de receber jogos da Copa do Mundo
Curiosidades: Foi o primeiro estádio brasileiro construído no formato de Arena e, por isso, era considerado um dos mais simples a ser reformado, o que não se concretizou
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6. Porto Alegre: Beira Rio
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6/11 (Portal da Copa)
Previsão inicial: Agosto de 2012
Previsão de entrega: Está 99% pronta 15 de fevereiro de 2014
Capacidade FIFA: 50.287 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 51.300 pessoas
Custo inicial: R$ 130 milhões.
Custo final: R$ 330 milhões
Problemas: Em 2012, impasses na assinatura do contrato entre o Internacional e a construtora Andrade Gutierrez deixaram as obras paralisadas por oito meses. Uma vistoria realizada em dezembro de 2013 constatou a presença de 63 operários estrangeiros trabalhando de maneira ilegal. A instalação da cobertura demorou a ser iniciada
Curiosidades: O estádio tem um conceito focado na sustentabilidade. As membranas da cobertura absorvem 65% menos calor. A água da chuva será reaproveitada para irrigação e limpeza. Os banheiros utilizam o sistema de descarga a seco, o que reduz o odor e o piso molhado
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7. Natal: Arena das Dunas
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7/11 (Portal da Copa)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Entregue oficialmente: 22 de janeiro de 2014
Capacidade FIFA: 42.086 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 42.000 pessoas (10.600 temporários)
Custo inicial: R$ 350 milhões
Custo final: R$ 400 milhões
Problemas: Alguns problemas de acabamento foram identificados na abertura do estádio. Faltou condicionares de ar em algumas áreas. Em outras era possível observar tapumes remanescentes das obras
Curiosidades: Com um estilo ousado, a Arena das Dunas surpreendeu pela beleza. É considerada uma das mais bonitas das últimas Copas
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8. Cuiabá: Arena Pantanal
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8/11 (Divulgação)
Previsão inicial: Dezembro 2012
Previsão de entrega: Está 95% pronta, conclusão para o final de março/ início abril de 2014
Capacidade FIFA: 42.968 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 44.300 (18 mil temporários)
Custo inicial: R$ 454,2 milhões
Custo final: R$ 570 milhões
Problemas: Está com o cronograma atrasado. O futebol do Mato Grosso carece de clubes com tradição, portanto encher o estádio após a Copa e fazê-lo rentável é um dos grandes desafios do Comitê Organizador Local. O gramado apresentou falhas e teve der ser replantado
Curiosidades: Houve um princípio de incêndio e um protesto de professores durantes as obras
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9. Fortaleza: Arena Castelão
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9/11 (Portal da Copa)
Previsão inicial: Dezembro 2012
Entregue oficialmente: 16 de dezembro de 2012
Capacidade FIFA: 58.704 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 63.903 pessoas
Custo inicial: R$ 623 milhões
Custo final: R$ 518,6 milhões
Problemas: O entorno do estádio ainda apresenta deficiências na questão da mobilidade. Algumas das principais vias estão interditadas por conta das obras, o que prejudica o acesso ao torcedor
Curiosidades: Foi o primeiro estádio a ficar pronto e o único que custou menos do que o previsto
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10. Salvador: Arena Fonte Nova
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10/11 (Governo Federal/Portal da Copa)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Entregue oficialmente: 5 de abril de 2013
Capacidade FIFA: 52.048 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 55 mil pessoas (5 mil lugares provisórios)
Custo inicial: R$ 591,7 milhões
Custo final: R$ 689,4 milhões
Problemas: Torcedores alegaram que existem pontos cegos nas arquibancadas do estádio, que impedem a perfeita visualização da partida
Curiosidades: Na inauguração da Fonte Nova, torcedores do Bahia, revoltados com a derrota para o rival Vitória, arremessaram Caxirolas no gramado. Após várias discussões, o acarajé, símbolo da culinária da Bahia foi liberado para venda, com o tempero típico das baianas
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11. Manaus: Arena Amazônia
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11/11 (Bruno Kelly/Reuters)
Previsão inicial: Dezembro de 2012
Previsão de entrega: Está 99% pronta, deve ser inaugurada ainda em fevereiro 2014
Capacidade FIFA: 42.337 pessoas
Capacidade Portal da Copa: 44 mil pessoas
Custo inicial: R$ 515 milhões
Custo final: 669,5 milhões
Problemas: Três operários morreram nas obras da Arena Amazônia. As chuvas atrasaram a finalização do estádio. Sem times de expressão, corre o risco de se transformar em um “Elefante Branco”
Curiosidades: A distância da Arena Manaus para as demais sedes e os altos índices de umidade da região prometem ser um fator negativo para as seleções que irão jogar na Amazônia
O parecer do Ministério do Trabalho sobre esta alternativa proposta pela Fast deve ser dado nesta sexta-feira. Mesmo depois de aprovada e instalada as torres móveis, no entanto, a estrutura ainda terá que passar por uma fiscalização para a obra ser liberada.
Em outro campo de atuação, o Ministério Público de São Paulo ameaçou interditar as arquibancadas provisórias do estádio mesmo durante a Copa do Mundo. Após a divulgação de um laudo do Corpo de Bombeiros elencando 26 irregularidades encontradas no projeto técnico de prevenção contra incêndios da arena, a entidade exigirá que o Corinthians e a construtora Odebrecht cumpram quatro pontos considerados pelos bombeiros “emergenciais”.
São eles: estudo de fluxo de pessoas, cálculo de lotação, saídas de emergência e tempo de percurso; apresentação de novo projeto técnico de segurança contra incêndios; comprovação de que a ala leste possui área de ventilação, acabamentos específicos e sistemas de detecção de incêndio; comprovação desta última exigência na ala oeste.
A Odebrecht, em nota, respondeu: “A Odebrecht Infraestrutura e o Sport Club Corinthians Paulista informam que possuem um projeto técnico de segurança contra incêndios da obra e estudo de fluxo, ambos concluídos, e em processo de assinaturas na prefeitura. Todos os documentos já foram entregues aos bombeiros, porém após a análise do órgão foram solicitados ajustes que estão em fase final. Ainda nesta semana os documentos serão reapresentados ao Corpo de Bombeiros.”
Nesta quinta-feira (3), o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke afirmou que o Brasil “não está totalmente pronto” e mostrou preocupado com dois estádios em específico, o Beira-Rio e o itaquerão. O presidente da Fifa, Joseph Blatter também criticou as obras da Arena Corinthians, afirmando que “é preciso ter responsabilidade de dar segurança aos trabalhadores, e não fizeram isso”.
Quanto à questão do financiamento das estruturas provisórias, à princípio sob responsabilidade do Corinthians, o jornalista Juca Kfouri afirmou que a Fifa deverá pagar as obras.
A FIFA já se prepara para pagar o que falta em Itaquera http://t.co/wT6FeUUCO8 @UOL
— Juca Kfouri (@BlogdoJuca) 3 abril 2014
Relembre os problemas surgidos na construção da Arena Itaquera, desde setembro de 2010:
Dutos da Transpetro:
Em setembro de 2010, reportagem da Folha de S. Paulo revelou que dois dutos da Transpetro, subsidiária da Petrobras, passavam por baixo da obra. Após acordo, os canos foram desviados para que a construção pudesse ocorrer.
Empréstimo do BNDES
Em março de 2012, o Banco do Brasil se recusou a participar da intermedição entre o BNDES e a Oderbrecht, construtora responsável pelas obras na Arena Corinthians. Posteriormente, a Caixa Econômica Federal assumiria a responsabilidade.
O acidente com o guindaste
No dia 27 de novembro de 2013, um grave acidente ocorreu nas obras do Itaquerão, causando a morte de dois operários, Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 anos. Na ocasião, o maior guindaste em operação no país, com 114 metros de alcance, caiu sobre a arquibancada. Por causa do acidente, o prazo de entrega foi postergado de dezembro de 2013 para 15 de abril de 2014.
Nesta sexta-feira (4), reportagem da Folha de S. Paulo apontou que houve um afundamento do solo que sustentava o guindaste, fato que causou o acidente.
Encarecimento do custo do estádio
Com intermédio da Caixa Econômica federal, o BNDES libera, no dia 25 de março de 2014, a primeira parcela do empréstimo à Odebrecht e ao Corinthians. Por causa da demora, a construtora e o clube contraíram empréstimo a juros de mercado, com Santander e Banco do Brasil, o que encarece o custo fnal da arena
Financiamento das estruturas provisórias
Um impasse sobre quem deveria bancar as estruturas provisórias, pré-requisito para o Itaquerão sediar a abertura da Copa, orçadas em 60 milhões, gerou polêmica na última semana. O Corinthians logo assumiu a responsabilidade, ainda que não afirmasse como arcaria com as despesas. Nesta quinta-feira (3), o secretário executivo do ministério do Esporte, Luis Fernandes, afirmou que, apesar do imbróglio, a instalação das estruturas complementares já começou a ser feita.
Reportagem assinada por Juca Kfouri na Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (4), porém, dá conta que será a Fifa quem irá bancar a obra.
A terceira vítima fatal
Em 29 de março de 2014, o operário Fabio Hamilton da Cruz, de 23 anos, que trabalhava na instalação das arquibancadas provisórias do estádio, sofre grave acidente, ao cair de uma altura de 8 metros, morrendo em seguida. Com o óbito, o terceiro nas obras do Itaquerão, aumenta para oito o número total de mortes em obras dos estádios da Copa.