FHC: ex-presidente disse na semana passada que vazamentos eram "tempestade em copo d'àgua" (Tânia Rego/Agência Brasil)
Tamires Vitorio
Publicado em 18 de junho de 2019 às 20h14.
Última atualização em 18 de junho de 2019 às 20h20.
São Paulo — O ministro Sergio Moro, quando ainda era juiz da Operação Lava Jato, teria questionado investigações sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segundo os novos vazamentos divulgados nesta terça-feira (18), pelo site The Intercept Brasil.
"Tem alguma coisa mesmo séria do FHC?", indagou Moro ao procurador Deltan Dallagnol em uma mensagem enviada pelo aplicativo Telegram após uma reportagem do Jornal Nacional. "Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante", disse.
Moro pergunta, em outro trecho da conversa, se o crime de caixa dois, do ano 1996 — qual FHC estava sendo acusado — já não havia prescrito. "Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição. Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade", respondeu Dallagnol.
O procurador volta a citar o termo "imparcialidade" em outras partes do diálogo. Em abril de 2017, quase um ano depois daquela conversa, foi levantado o sigilo da delação de Marcelo Odebrecht, que apontava semelhança entre os esquemas de financiamento da empreiteira aos institutos FHC e Lula.
Dallagnol disse em grupo: "Creio que vale apurar com o argumento de que pode ter recebido benefícios mais recentemente, inclusive com outros contratos … Dará mais argumentos pela imparcialidade".
Em nota, a assessoria do ministro disse não reconhecer a "autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos" e que "nunca houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso".
O ex-presidente foi citado na Lava Jato ao menos nove vezes. Segundo o The Intercept, nem todos os casos estariam prescritos caso tivessem sido investigados. Fernando Henrique Cardoso completou 88 anos hoje.
Na semana passada, o ex-presidente disse ao blog de Tales Faria, no UOL, que os vazamentos eram "tempestade em copo d'água, a menos que haja novos vazamentos mais comprometedores".
"Sobre as supostas mensagens divulgadas, esclarecemos:
- O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos.
- Nunca houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi remetido diretamente pelo Supremo Tribunal Federa a outro Juízo, tendo este reconhecido a prescrição.
- A atuação do Ministro como juiz federal sempre se pautou pela aplicação correta da lei a casos de corrupção e lavagem de dinheiro.
- As conclusões da matéria veiculada pelo site Intercept sequer são autorizadas pelo próprio texto das supostas mensagens, sendo mero sensacionalismo."