Os líderes de confiança continuam sendo as igrejas, o Corpo de Bombeiros e as Forças Armadas, mas as últimas duas insituições caíram muito com as maniffestações de 2013 (Fernando Frazão/Agência Brasi)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2014 às 09h47.
São Paulo - A confiança dos brasileiros em instituições como o Congresso Nacional e os partidos políticos se recuperou parcialmente em 2014, após uma forte crise de credibilidade deflagrada com as manifestações ocorridas a partir de junho do ano passado.
O Índice de Confiança Social (ICS) do Ibope oscilou positivamente de 47 para 49 pontos nesse período, e treze das dezoito instituições avaliadas no estudo tiveram avaliação melhor em relação ao ano passado.
A maior recuperação em relação ao ano passado foi a da saúde pública, que aumentou em quase um terço em relação à pontuação de 2013.
Também tiveram aumento considerável a confiança nas escolas públicas, no Congresso Nacional e nos partidos políticos, que subiram 20% neste ano. Esses dois últimos, porém, continuam ocupando a lanterna do ranking de credibilidade entre as instituições brasileiras.
"Essa recuperação não deve servir para animá-los, porque 2013 foi um ano fora da curva e eles continuam em baixa", afirma a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari.
Os líderes de confiança entre as instituições continuam sendo o Corpo de Bombeiros, as igrejas e as Forças Armadas, todos com índice acima de 60 pontos. Entretanto, nenhum deles se recuperou da queda após as manifestações de junho de 2013.
A pontuação dos Bombeiros e das Forças Armadas, por exemplo, caíram ainda mais neste ano, enquanto a das igrejas se manteve estável.
Convivência
Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a má avaliação dos brasileiros em relação às instituições políticas pode estar ligada à sua presença mais constante no debate público.
"Quanto mais as pessoas estão acostumadas a conviver com alguma coisa, mais problemas veem nelas. Assim como as Forças Armadas estão pouco na pauta, os políticos estão sempre presentes e, por isso, são mais cobrados em relação às suas ações", explica.
Outro fenômeno que ajuda a explicar essa questão é a falta de heroísmo da função política no imaginário popular, segundo Couto.
"Os policiais aparecem sempre na imprensa e podem até ser criticados por excesso de violência ou por omissão, mas a função não deixa de ter um caráter heroico ao combater o crime. Já os políticos não têm um papel desse tipo."
Manifestações
Os protestos de junho de 2013 haviam marcado a maior queda na confiança dos brasileiros nas instituições desde o início da série histórica, em 2009. A pesquisa é feita sempre em julho e, por isso, conseguiu captar o aumento no descontentamento nacional após a onda de manifestações que varreu o país no ano passado.
Apesar da crise de credibilidade constatada após os protestos, a confiança dos brasileiros nas instituições já vinha caindo nos anos anteriores. Em 2009, o índice medido pelo Ibope para as instituições foi de 58 pontos, que caiu até 54 pontos até 2012 e depois despencou para os 47 no ano seguinte.
Já o mesmo índice calculado para pessoas e grupos sociais, como vizinhos e familiares, segue estável desde o início da série: passou de 69 para 68.
Por causa da queda da confiança nas instituições, portanto, o índice geral calculado com base nessas duas dimensões caiu de 60 para 53 nesse período.
Segundo o professor da FGV, a piora constante na avaliação das instituições pode estar ligada a um descolamento entre a percepção e o funcionamento institucional.
"Pode ter até um paradoxo aí: as pessoas não acreditam nas instituições, mas, muitas vezes, elas estão até melhorando. Um exemplo seria o melhor funcionamento das instituições de controle, que começam a apontar mais problemas cuja revelação acaba sendo um elemento de frustração", afirma.
Perfil
O brasileiro que mais confia nas instituições tem perfil variado. Ele é mais velho, com mais de 50 anos, é das classes D ou E e mora no Norte/Centro-Oeste ou na Região Sul do Brasil. Já o mais crítico, de acordo com o Ibope, tem entre 25 e 29 anos, pertence à classe C - justamente a que mais cresceu durante os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT) - e vive no Nordeste ou no Sudeste.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.