Brasil

Instabilidade climática dificulta previsões sobre estiagem

Apesar das chuvas acima da média, a previsão é de retorno de dias quentes e secos nesta semana


	Cantareira: só neste mês, a capacidade do maior manancial paulista subiu 18 dias consecutivos, de 5% para 10,6%
 (Divulgação/Sabesp)

Cantareira: só neste mês, a capacidade do maior manancial paulista subiu 18 dias consecutivos, de 5% para 10,6% (Divulgação/Sabesp)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2015 às 09h06.

São Paulo - As chuvas acima da média que ajudaram a elevar o nível de água dos mananciais que abastecem a Grande São Paulo em fevereiro deixaram os gestores da crise hídrica otimistas quanto a um possível fim da estiagem extrema, que começou no fim de 2013, no Sistema Cantareira.

Especialistas em hidrologia e meteorologia alertam, contudo, que ainda é cedo para cravar uma mudança de padrão climático definitiva no Sudeste e destacam o retorno de dias quentes e secos nesta semana.

Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em fevereiro, pela primeira vez em mais de um ano, houve a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), sistema que traz chuvas para o Sudeste no verão.

"Só que ele ainda é curto e fraco e não significa que vai se manter. Até porque o sistema de alta pressão que impediu a ZCAS no ano passado e em janeiro não se dissipou completamente. Está recuado sobre o oceano e a previsão é de que ele volte nesta semana, aumentando a temperatura e diminuindo a chuva", explica Seluchi.

Dirigentes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da Agência Nacional de Águas (ANA) comemoravam a volta das chuvas em fevereiro (34% acima da média) e a vazão de entrada de água no Cantareira, que está três vezes maior do que em janeiro passado e fevereiro de 2014.

Só neste mês, a capacidade do maior manancial paulista subiu 18 dias consecutivos, de 5% para 10,6%, considerando as duas cotas do volume morto. Sequência assim não ocorria há mais de dois anos.

A hidrologista Adriana Cuartas, do Cemaden, diz, porém, que o fator determinante para início da recuperação do Cantareira, que registrava déficits mensais desde maio de 2013, foi a redução da retirada de água para abastecer cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e mais 5 milhões nas regiões de Campinas e Piracicaba.

"O grande diferencial para a recuperação do Cantareira é que, agora, estão fechando a torneira mesmo. A extração de água das represas diminuiu bastante", afirma Adriana.

A retirada foi reduzida de 17 para 10 mil litros por segundo em menos de um mês, principalmente por causa da redução da pressão e do fechamento de 40% da rede durante a maior parte do dia. Antes da crise, a captação chegou a 36 mil litros por segundo.

Sem chuva

O retorno do sistema de alta pressão para o continente no fim de semana fez com que os seis mananciais que abastecem a Grande São Paulo não registrassem um milímetro de chuva nos dois últimos dias.

Mesmo assim, o nível do Cantareira, que é o mais crítico, subiu porque os rios que alimentam as represas ainda estão com vazões mais altas.

A previsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é de que as chuvas não ultrapassem a média em março, último mês da estação chuvosa em São Paulo.

Segundo Adriana, no cenário atual, com a mesma retirada de água e chuvas dentro da média nos próximos meses, as duas cotas do volume morto do Cantareira só seriam recuperadas no fim de 2015.

"Só vai melhorar se chover de 25% a 50% acima da média. Nestes cenários, poderíamos recuperar o volume morto em abril ou junho, respectivamente."

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) vai esperar o fim da estação chuvosa para definir se implantará um rodízio oficial, que deve ser de quatro dias sem água por dois com.

Além das águas de março, a Sabesp calcula um "gatilho" do racionamento que levará em consideração as obras emergenciais para aumentar em 5 mil litros por segundo a transferência de água para o Sistema Alto Tietê e a terceira e quarta cotas do volume morto do Cantareira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ÁguaChuvasSecas

Mais de Brasil

O que muda com projeto que proíbe celulares nas escolas em São Paulo

Haddad se reúne com cúpula do Congresso e sinaliza pacote fiscal de R$ 25 bi a R$ 30 bi em 2025

Casos respiratórios graves apresentam alta no Rio e mais 9 estados