"Nosso desafio é como atrair esses talentos, grandes companhias não estão conseguindo atrai-los", diz Cerezo (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 09h56.
Além dos desafios que cercam a transformação digital da indústria, as empresas brasileiras também precisam se cercar de investimentos e esforços para atrair novos talentos. A análise é Jorge Cerezo, líder da Prática de Operações na América Latina da consultoria McKinsey. Segundo ele, a inovação e digitalização serão o "salto de excelência" para o país ser mais produtivo. O desafio está na mão de obra qualificada para essa transformação.
"[A inovação e a digitalização] é uma oportunidade, mas a gente não pode errar, tem que ser bem feito. E temos que ter investimentos em talento e foco nas pessoas. Nosso desafio é como atrair esses talentos, grandes companhias não estão conseguindo atraí-los. É preciso uma nova estratégia para trazer esses talentos, computadores diferentes, outros tipos de horários. Tem que haver uma transformação de cultura", afirmou nesta terça-feira, 19, no evento Exame Política Industrial.
De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria e divulgado em agosto, o país precisaria qualificar 9,6 milhões de trabalhadores para atender as demandas produtivas da indústria até o próximo ano.
Para o especialista, mais do que o peso do nome de uma grande companhia, as novas gerações gostam de dinamismo. E não são movidas não pela vontade de crescer verticalmente em uma empresa, mas por desafios. "O tempo médio de um cientista de dados em uma empresa hoje é de nove meses", destacou.
Segundo Cerezo, os setores automotivo e agroindustrial têm apresentados projetos inovadores para atrair esses profissionais.
No Senai, o foco tem sido em trabalhar próximo da indústria, de acordo com Marcelo Teixeira dos Santos, gerente de operações do instituto de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser. Os cursos são adaptados às necessidades da indústria e voltados, principalmente, aos estudantes do ensino médio.
Hoje, mais da metade dos adolescentes de 14 a 17 anos, 52%, conhece pouco ou nada sobre a formação profissional na área. O estudo do Observatório Nacional da Indústria mostrou que além da baixa mão de obra, falta conhecimento entre os jovens sobre formação e oportunidades na indústria.
"Se conhecer as tecnologias existentes e sabendo que vai aplicá-las, o estudante vai aprender, não será algo como 'fiz três anos de cálculo e nem usei'", disse Santos.
Apesar de um ensino diferente das universidades e faculdades tradicionais, o Senai tem encontrado desafios também para atrair talentos, mesmo fora do país com parcerias internacionais.
"Lá fora isso também está acontecendo. Mas esperamos que daqui a nove ou dez anos tenhamos profissionais mais bem formados e capacitados", afirmou.