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Com prazo para setembro de 2026, Via Appia quer antecipar entrega final do Rodoanel Norte

Em entrevista ao podcast EXAME INFRA, Brendon Ramos, CEO da Via Appia, afirmou que a empresa tem capital de investimento na casa dos R$ 10 bilhões

Os planos da empresa para o próximo ano foram detalhados em primeira mão pelo CEO da Via Appia, Brendon Ramos, ao podcast Exame Infra (Exame Infra/Reprodução)

Os planos da empresa para o próximo ano foram detalhados em primeira mão pelo CEO da Via Appia, Brendon Ramos, ao podcast Exame Infra (Exame Infra/Reprodução)

Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 10h00.

Última atualização em 20 de janeiro de 2025 às 10h33.

Depois de oito anos de atraso na entrega do trecho Norte do Rodoanel Mário Covas (SP-021), o primeiro trecho do complexo que liga as rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias deve ser entregue para operação em setembro de 2025. E a previsão é que, com a primeira metade da obra concluída, o Rodoanel esteja completo antes do prazo final de setembro de 2026, segundo Brendon Ramos, CEO da Via Appia, empresa concessionária responsável pelo complexo rodoviário.

"A nossa meta A, B, C, D, E, F, G, H passa pela conclusão do Rodoanel Norte dentro do prazo. O prazo final é setembro de 2026. Em setembro de 2025 entregaremos a primeira metade. Estamos trabalhando de forma incansável para antecipar setembro de 2026, é uma vontade", disse Ramos.

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Os planos para o próximo ano foram detalhados em primeira mão pelo CEO do grupo, ao podcast EXAME INFRA. O programa é uma realização da EXAME, em parceria com a empresa Suporte, e tem como proposta debater as grandes transformações e os desafios da infraestrutura brasileira.

Com 1.400 quilômetros sob administração, somando rodovias de São Paulo e Minas Gerais, a Via Appia tem o maior CAPEX no Rodoanel Norte, de cerca de R$ 3 bilhões. A obra, adquirida pelo grupo em leilão em agosto de 2023, é a principal vitrine da plataforma rodoviária e gera grandes expectativas.

O projeto contempla sete túneis duplos, 107 obras de estruturas de engenharia (pontes e viadutos), quatro paradas de cargas especiais, duas bases de atendimento ao usuário, dois postos de fiscalização e duas balanças de pesagem, além de sistemas de câmera, socorro e de apoio operacional ao longo do trecho de 44 quilômetros. Com a conclusão do trecho norte, o Rodoanel passará a contar com 175 quilômetros de extensão.

"O Rodoanel tem um estigma negativo por seu histórico, por ser uma obra que não saiu em várias tentativas e piorou com um túnel que desaba. E tem uma alça que dá acesso ao aeroporto de Guarulhos. Esses eram nossos pontos críticos. Há quatro meses [agosto de 2024] conseguimos perfurar o túnel que caiu e já entregamos e fizemos a alça. Esse trecho está operacional. Não está pavimentado, mas a terraplanagem foi feita e já conseguimos passar. Nesse momento tem obra no trecho inteiro. Estamos executando esse plano", afirmou o CEO do grupo.

A construção do trecho norte do Rodoanel foi iniciada em 2013, mas ficou paralisada por oito anos. A obra foi orçada inicialmente em R$ 4,3 bilhões, mas, até 2019, já tinha consumido cerca de R$ 6,85 bilhões, o que motivou inclusive investigação por suspeitas de superfaturamento e corrupção.

Em 2019, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT-USP) identificou 1.500 falhas de engenharia e vícios na pré-licitação. Ao tomar posse da obra, em setembro do ano passado, a Via Appia apontou que esse total de falhas passou para 5 mil com as corrosões do tempo. O grupo tem agora o desafio de entregar à população a ligação completa que vai desde a capital aos municípios de Arujá e Guarulhos.

"Já fizemos a compra do sistema, em especial o free flow, os equipamentos chegam em julho. Vamos ter que instalar e chamar o Corpo de Bombeiros, mas na parte civil não vemos risco nenhum. A obra está num avanço de cruzeiro", disse. "Nossa expectativa de chuvas de dezembro a março está dentro do esperado. Se não houver um cataclisma, tudo estará bem, e conseguiremos entregar a obra para operação."

O objetivo inicial do projeto é que, com o trecho concluído, importantes rodovias serão interligadas. O plano é que isso reduza substancialmente os congestionamentos e o tráfego de veículos pesados nas marginais Tietê e Pinheiros.

Os planos da Via Appia para o 'ano dos leilões'

Com um capital de investimento na casa dos R$ 10 bilhões, a Via Appia tem "apetite" para mais R$ 2 bilhões e estuda ampliar seu portfólio de atuação para outros estados brasileiros.

De acordo com Ramos, o grupo está focado em pelo menos outras seis oportunidades no setor rodoviário, tanto na compra de novos ativos, alguns em negociação desde 2024, quanto em licitações de novas concessões.

"Tem continuação de rodovias paulistas em lotes federais, como a BR-116, tem rodovias em Mato Grosso do Sul relevantes para nós, tem a BR-262 que é paralela a uma rodovia nossa. O nosso pipeline de novos negócios é bastante robusto. Temos cinco a seis rodovias em curso em discussão. Será um ano bem ativo para a empresa", afirmou.

Para o setor todo, o calendário de 2025, que antecipa um ano eleitoral, já está previsto como "o ano dos leilões". Em São Paulo, por exemplo, as próximas concessões devem passar pelo trecho da Paranapanema, que liga a Raposo Tavares até Itapetininga e Ourinhos, e da Mogiana, que liga o trecho de Mogi Guaçu a Mococa e Ribeirão Preto, e regiões de Tupi, São José do Rio Pardo e Águas da Prata, todas no interior paulista. O governo estadual prevê a realização ao longo do primeiro semestre.

O governo federal também pretende conceder sete rodovias ao setor privado: BR 393 no Rio de Janeiro; BR 356 e a rodovia estadual 240 também no estado fluminense; vários lotes da BR 242 e da BR 101, ambas na Bahia; lotes de rodovias de Santa Catarina; a BR 040, em Goiás, e a BR 262 entre Minas Gerais e Espírito Santo.

No último dia 29 de novembro, o governo do Mato Grosso também lançou seis lotes de concessões rodoviárias, que deverão ser licitados no dia 7 de fevereiro, na sede da B3, em São Paulo. Ao todo, os blocos somam R$ 7,7 bilhões de investimentos previstos. Entre os projetos estaduais e federais, a estimativa de capex chega a R$ 150 bilhões.

O alto número de editais, contudo, preocupa o CEO da Via Appia. A plataforma de rodovias é conhecida por adquirir ativos "estressados", atuando em construções que foram marcados por problemas de desempenho, dificuldades regulatórias e de capex, mas com sinergia aos interesses do grupo.

No entanto, Ramos afirmou não ser viável entrar numa licitação com apenas três meses de estudo.

"Não se faz um bom projeto de engenharia em dois ou três meses", disse. Para ele, um processo com prazos atropelados é "contratar um problema futuro".

Relatório do Tribunal de Contas da União, recém-publicado, aponta para um total de 11,9 mil obras públicas paralisadas pelo país. O número corresponde a 52% dos contratos em execução. Segundo o executivo da plataforma de rodovias, nos últimos 10 anos, o número de contratos não-performados supera a quantidade de contratos performados.

"O Brasil tem uma demanda tão grande de infraestrutura, há tanto tempo, que você imaginar que vai demorar um ano para fazer uma nova licitação, para a população e a classe política parece inaceitável, porque nós temos essa urgência. Mas temos que compatibilizar com o risco de execução", afirma.

"Ou então tratamos de contratos que permitam fazer a licitação, mas que tenham alguma previsão clara que terá um tempo licitação para fazer um estudo e um projeto executivo, em que eventuais diferenças sejam reequilibradas para um lado e para o outro. É uma forma inteligente de atender, mas jogar o risco inteiro para o concessionário é contratar um problema futuro", completa Ramos, que defende os planos de infraestrutura devem ser "política de Estado". "Infraestrutura é planejamento de 30 anos, ou 50 e até 100 anos", disse.

EXAME INFRA

O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.

Veja os episódios:

Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos

Acompanhe tudo sobre:InfraestruturaLeilõesExploração de rodoviasRodoanel

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