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Influenciadores cotados para apoiar Previdência detalham oferta

Dono de agência que contatou donos de perfis populares no LinkedIn nega que ação foi demandada pelo governo federal

Michel Temer: agência nega que governo tenha contratado mapeamento de influenciadores (Adriano Machado/Reuters)

Michel Temer: agência nega que governo tenha contratado mapeamento de influenciadores (Adriano Machado/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 9 de fevereiro de 2018 às 16h28.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2018 às 09h08.

São Paulo — Ao menos quatro personalidades com perfis populares na rede social LinkedIn afirmam ter recusado propostas feitas por uma agência de conteúdo para defender a Reforma da Previdência. Todos eles fizeram posts na plataforma sobre a abordagem. Juntas, as postagens somam mais de 13,7 mil curtidas — um ponto baixo em meio à ofensiva do governo federal para tornar o assunto mais palatável para o grande público.

Um deles é o economista Ricardo Amorim, apresentador do Manhattan Connection, da GloboNews, e que tem quase um milhão de seguidores no LinkedIn. Em postagem publicada nesta quinta-feira (8) na rede social, Amorim afirma que não aceitou a proposta por uma questão de ética – embora seja favorável à Reforma da Previdência.

“Este e qualquer governo pode e deve explicar à população sobre a eventual necessidade de determinadas medidas. Porém, se a obrigação do governo é explicar o que pretende fazer, a minha é informar quem me acompanha de forma imparcial”, escreveu.

Para ao menos outros três influenciadores, a proposta teria sido feita na última terça-feira (6) por um representante de uma agência especializada em influenciadores digitais. A agência BR Media Group admitiu ao site EXAME que contatou os donos de alguns dos perfis mais populares no LinkedIn neste dia para uma ação sobre o assunto, mas não confirmou a identidade desses influenciadores.

Celso Ribeiro, sócio da agência, nega que a proposta tenha sido encomendada pelo governo federal.  Segundo ele, a requisição foi feita por duas empresas privadas. “A reforma da Previdência é um assunto público, mas nunca o governo nos procurou para fazer uma ação dessas”, afirma sem, contudo, revelar quais foram as empresas contratantes.

Segundo ele, o objetivo era mapear os mais influentes na rede para fomentar um debate sobre o tema. “O objetivo foi mapear esses top voices e entrar em contato, mas nunca falamos que precisava falar bem ou mal da reforma da Previdência. Nós queríamos saber se essas pessoas gostariam de escrever sobre o tema”, diz.

Ao site EXAME, o jornalista Murillo Leal, os empreendedores Flavia Gamonar e Matheus de Souza, que compartilharam seus relatos na rede social sobre o caso, sustentam que a proposta foi feita em nome do governo federal. “Eu questionei e recebi a resposta de que ‘sim, se tratava de uma ativação do governo’”, diz Souza, que tem 85,8 mil seguidores na plataforma. Mas ele ressalta: "ninguém tentou 'comprar' ninguém".

Flavia, que é professora e tem 675,5 mil seguidores no LinkedIn, afirma que, para ela, não ficou claro se a proposta era “algo certo e já aprovado pelo governo, se ele estava selecionando perfis para serem aprovados ou se eles estavam trabalhando proativamente para apresentar os nomes ao governo”.

Para os três, a proposta apresentada foi a mesma: escrever textos patrocinados sobre a reforma da Previdência que, após a aprovação, seriam publicados na plataforma. De acordo com o trio, uma vez firmado o contrato, eles poderiam deixar claro para seus seguidores que aquele texto era um conteúdo pago. Nenhum dos três conversou sobre orçamento com a agência.

“Todos os governos usam da publicidade e acho legítima a prática, mas, quando o país passa por uma situação delicada politicamente e economicamente falando como é o nosso caso no Brasil, aceitar esta proposta me pareceu uma agressão a meus princípios”, afirma Murillo Leal, que tem 256,6 mil seguidores no LinkedIn. “Fiz a publicação apenas para que os brasileiros soubessem onde a gestão pensa em investir o dinheiro deles. Não tem intenção politizada”.

Souza seguiu a mesma lógica em sua decisão. “Não há ilegalidade na propaganda de Estado – é mais uma questão ética. Eu não acho ético, por exemplo, um formador de opinião receber dinheiro público para escrever um texto falando bem do governo”, afirma.

“Só achei que não deveria opinar em algo que não conheço a fundo e que depois não poderia sustentar ao responder comentários. Não queria receber dinheiro público para isso também”, diz Flavia.

A repercussão negativa do caso fez a BR Media Group, que é especializada em influenciadores, desistir do projeto. “A estratégia era iniciar um debate, mas quando foi para um outro lado, decidimos não nos envolver com esse tipo de polêmica”, diz Ribeiro.

Em nota, o Palácio do Planalto nega que tenha solicitado o mapeamento desses perfis ou autorizado uma proposta nesse sentido. Mas pondera que a contratação de porta-vozes é uma prática comum no mercado de comunicação.

“Também é prática usual de empresas que oferecem esse tipo de serviço, atuarem proativamente e apresentarem propostas comerciais a marcas e governos. Para isso, consultam antecipadamente os possíveis contratados para saber de sua disponibilidade em participar ou não com tais depoimentos”, diz a nota.

No último mês, o governo federal intensificou esforços para popularizar a proposta da reforma da Previdência com entrevistas em programas populares de TV e uma nova campanha nas redes sociais.

Para analistas ouvidos nas últimas semanas pelo site EXAME, apesar de correta, a investida pode ter chegado tarde – já que o Congresso tende a ficar mais resistente a medidas impopulares conforme a eleição se aproxima.

A expectativa é que o texto seja votado ainda este mês na Câmara dos Deputados. São necessários 308 votos em dois turnos para aprovar as mudanças.

Veja os posts que geraram a polêmica:

 

 

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