Meirelles: "Podem me imitar à vontade", afirmou o ex-ministro da Fazenda (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de outubro de 2018 às 10h27.
Brasília - Henrique Meirelles (MDB) disse que ficará "independente" no 2.º turno da campanha entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Candidato derrotado à Presidência, ele abriu um sorriso, no entanto, quando soube que seu slogan "Chama o Meirelles" já foi transformado em "Chama o Bolsonaro".
"Podem me imitar à vontade", afirmou o ex-ministro da Fazenda. Apesar de ter obtido apenas 1,2% dos votos, Meirelles disse que não se arrepende de nada. Seu plano, agora, é montar um canal digital para divulgar propostas para o País. Ele será uma espécie de "youtuber".
Quem o sr. vai apoiar no segundo turno da eleição presidencial?
A minha posição é de independência e de avaliação sobre o que os candidatos, de fato, pretendem fazer.
Com qual programa econômico o sr. se identifica mais?
Depende de saber qual é. O programa do Haddad é o que está no plano de governo do PT ou o que foi o Lula no primeiro mandato? Se for o Lula 1, foi um bom governo do ponto de vista econômico. Se for o que foi a Dilma, é péssimo, um desastre. Do lado do Bolsonaro, se for o que está dito pelos economistas liberais, é um bom plano. Agora, se for produto mais direto do que o candidato tem dito, algumas vezes com conteúdo estatizante, aí é mais questionável.
Isso quer dizer que, dependendo do programa, o sr. pode ir para um lado ou outro?
Como estamos em pleno curso da campanha do segundo turno, considero mais provável que isso só fique claro depois das eleições.
O publicitário Elsinho Mouco, que colaborou com sua campanha, lançou o slogan "Chama o Bolsonaro". Como o sr. viu isso?
Ótimo. Podem me imitar à vontade. Fico honrado.
Seria ministro novamente?
Decisão não é como peru que morre na véspera. Dependendo de quem for eleito, se esse alguém me convidar para alguma coisa, vou analisar qual é o programa e a proposta.
Haddad disse que, se eleito, não terá um banqueiro no governo.
É o embate político dele com Bolsonaro, por causa do Paulo Guedes (guru econômico do candidato do PSL).
O sr. parece ter gostado da política. Disputaria outra eleição?
No momento, não tenho esses planos. A minha primeira medida concreta será a criação de um canal digital no qual vamos veicular conteúdos, com uma série de especialistas de diversas áreas para falar com todo esse público. Nas pesquisas que fiz, saí com boa imagem da eleição. Isso, de fato, me dá uma possibilidade muito grande de influenciar o debate.
E o que faltou para o voto?
Vivemos um momento muito peculiar em que houve uma polarização muito grande. Houve um movimento de grande preocupação com segurança e aumento do sentimento de indignação. Houve um tsunami em direção aos extremos. Na minha campanha, eu disse com clareza: "Posso perder o seu voto, mas espero ganhar o seu respeito". Isso eu consegui. Agora, talvez a verdade não tenha ganho voto.
Foi a Operação Lava Jato que influenciou esse quadro?
Várias coisas influenciaram. Em primeiro lugar, a renda per capita, durante essa crise, caiu 9%. É brutal isso. Ao mesmo tempo, tivemos inflação alta, o que gerou um sentimento de revolta. Depois, tivemos todos esses episódios de denúncias. A eleição foi muito impulsionada pela indignação. Eu fiz até uma peça de propaganda, mostrando um motorista de ônibus dirigindo com venda nos olhos. Dizia o seguinte: "Não vote cego pela indignação, use a indignação para votar certo".
Mas por que o sr. foi abandonado pelo MDB na campanha?
Não me senti abandonado. Tive apoio muito grande das principais lideranças regionais.
Os candidatos têm como cumprir o que estão prometendo, como a capitalização da Previdência e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda?
Não há dúvida de que o regime de capitalização cria um problema. O maior problema de fazer isso é o grande déficit dos já aposentados. Se todos os que vão contribuir para o futuro deixam de pagar o custo dos aposentados que não têm a capitalização, esse recurso vai sair de onde? A Lei da Responsabilidade Fiscal obriga a definir fonte de recursos.
Qual a primeira medida que o futuro presidente deve tomar na área econômica?
Promover o equilíbrio fiscal. É insustentável a presente situação. Precisamos ter um programa de eliminação do déficit primário num espaço de tempo realista, de três anos. E o equilíbrio fiscal passa pela reforma da Previdência. Não adianta tentar fazer mágica. São duas reformas fundamentais, a da Previdência e a tributária. Depois, há toda aquela série de medidas para aumentar a produtividade da economia. Segurança, educação e saúde vêm como consequência.
O sr. se arrepende de ter gasto tanto dinheiro (R$ 53,2 milhões) na campanha?
Não me arrependo de nada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.