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Incêndio no CT do Flamengo abrevia carreiras de dez jovens promissores

Os adolescentes moravam em contêineres, longe das suas famílias, mas ainda assim estavam realizados

Incêndio no CT do Flamengo: maioria das vítimas tinha 14 ou 15 anos (Ricardo Moraes/Reuters)

Incêndio no CT do Flamengo: maioria das vítimas tinha 14 ou 15 anos (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 10h53.

São Paulo - O incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo, sexta-feira, no Rio, colocou um prematuro ponto final em dez promissoras carreiras no futebol.

Jovens de 14 a 16 anos de cinco Estados do Brasil moravam em contêineres, longe das suas famílias, mas ainda assim estavam realizados - jogavam em um grande clube do futebol brasileiro e sonhavam com o estrelato profissional.

O zagueiro Arthur Vinícius completaria 15 anos neste sábado, dia que seria de folga para ele celebrar a data com a família. Recém-promovido à categoria sub-17 do Flamengo, o defensor só não deixou o alojamento antes porque resolveu participar de uma partida no Maracanã que serviu como teste para aplicação do árbitro de vídeo (VAR) no Campeonato Carioca. Assim, ele entrou em campo e depois dormiu no alojamento.

O volante Felipe Melo, do Palmeiras, nasceu em Volta Redonda, no interior do Rio, a mesma cidade de Arthur, e era amigo de infância do pai do garoto, que foi assassinado há 11 anos em um crime cometido na frente do próprio filho. "Não acredito, que triste tudo isso, e pensar que amanhã (sábado) comemoraríamos o seu aniversário", escreveu o jogador do Palmeiras.

Uma das maiores apostas das categorias de base do Flamengo era o goleiro Christian Esmerio, de 15 anos, também morto. Monitorado por clubes do exterior, ele tinha passagens pelas categorias de base da seleção brasileira. Exibia com orgulho aos colegas uma foto tirada no fim do ano passado com o técnico Tite. O encontro foi na Granja Comary. Da mesma idade que ele, o lateral-direito Samuel Rosa era de São João de Meriti, onde morava em uma comunidade mais carente com a família.

Durante a tarde de sexta-feira, o trabalho de identificação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) foi acompanhado à distância pelas famílias. Os parentes não tiveram forças para ir ao local. O primeiro familiar a aparecer foi um jogador do Vasco. O zagueiro Werley chegou ao IML no fim da tarde para cuidar dos trâmites do corpo do primo Pablo Henrique da Silva, de 14 anos, que também sonhava em ser zagueiro como ele.

O Flamengo enviou ao IML seus funcionários. Alguns levavam pastas com documentos e exames médicos para auxiliar no trabalho de reconhecimento, feito principalmente com análises das impressões digitais e arcadas dentárias.

"O Flamengo está dando todo suporte na parte psicológica e médica aos familiares", explicou o médico da equipe, João Marcelo Amorim. Os corpos foram transportados por três diferentes veículos, que chegaram ao IML às 12h20, 14h e 14h45.

A presença dos familiares será crucial para tratar da liberação dos corpos nos próximos dias. São aguardados parentes do Sergipe, Santa Catarina e interior de São Paulo para cuidar do trâmite. Eles estavam em viagem. Quem tinha a origem mais distante era o sergipano Áthila Paixão, de 14 anos. Natural da cidade de Lagarto, sonhava em ser um atacante tão bom quanto seu conterrâneo, Diego Costa, do Atlético de Madrid.

O paulista Gedson Beltrão tinha 14 anos e estava no alojamento há dois dias. O garoto havia acabado de deixar Curitiba para se apresentar ao novo clube. Junto com ele, morreram dois amigos que se conheciam há anos, tinham a mesma idade e se transferiram do Athletico-PR para o Flamengo em um curto espaço de tempo: Vitor Isaías e Bernardo Pisetta.

Para o lateral-esquerdo Jorge Eduardo, poder morar no Flamengo já era um sonho. Com 15 anos, ele havia se mudado para o Ninho do Urubu há um ano, quando completou idade permitida para poder fazer do alojamento sua casa. Mineiro da cidade de Além-Paraíba, ele se destacou no futsal e chegou ao Rio graças à indicação de olheiros.

O mais velho das vítimas tinha nome em homenagem a um craque do futebol mundial. O volante Rykelmo Viana, de 16 anos, foi batizado como referência ao ex-meia argentino Juan Román Riquelme e era de Limeira (SP). Apelidado de Bolívia, jogou na Portuguesa Santista antes de ser descoberto pelo Flamengo, onde estava há três anos. Faria aniversário no próximo dia 26, Nas redes sociais, costumava publicar fotos com atletas do elenco profissional do clube.

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