Bolsonaro: presidente participou da inauguração do aeroporto Glauber Rocha, na cidade de Vitória da Conquista (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de julho de 2019 às 11h28.
Última atualização em 23 de julho de 2019 às 12h19.
Brasília — O presidente da República, Jair Bolsonaro, usou sua conta pessoal no Twitter, na manhã desta terça-feira (23) para classificar de "lamentável" a decisão do governador da Bahia, Rui Costa (PT), de não autorizar a presença da Polícia Militar para a sua segurança e a dos convidados que irão participar, às 11h de hoje, da inauguração do aeroporto Glauber Rocha, na cidade de Vitória da Conquista.
- Estou de partida para Vitória da Conquista para inauguração de aeroporto. Lamentável a decisão do governador da Bahia que não autorizou a presença da Polícia Militar para a nossa segurança. Pior ainda, passou a responsabilidade de tal negativa ao seu Comandante Geral.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) July 23, 2019
Distante cerca de 500 quilômetros de Salvador, o terminal será inaugurado por Bolsonaro, mas não contará com a presença do governador do Estado.
Em entrevista à rádio Metrópole, da Bahia, também nesta manhã, o governador rebateu o Twitter do presidente da República. "Eu não posso colocar policiais militares para espancar o povo baiano, que quer conhecer o aeroporto".
E continuou: "Quem é impopular e tem medo de ir para as ruas, fica no seu gabinete. Que as forças federais cuidem do presidente. Ele não confia no Exército? Ele foi do Exército e não confia no Exército?", questionou.
Se o Gov Federal fechou o aeroporto e excluiu o povo, colocando o exército lá dentro, pra que ainda precisa da PM? No gabinete, conversei com Levi Vasconcelos, na BandNews FM, sobre a nova falsa polêmica que estão tentando criar sobre a presença da polícia no evento em Conquista. pic.twitter.com/LKXHp9Z8Kf
— Rui Costa (@costa_rui) July 23, 2019
O embate entre os chefes do Executivo federal e baiano se dá na esteira da tensão causada pela fala de Bolsonaro sobre os nordestinos, na última sexta-feira (19) quando, sem saber que estava sendo gravado, os classificou pejorativamente de "paraíbas", termo pejorativo usado no Rio de Janeiro para se referir a nordestinos.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Rui Costa diz que tem profundo orgulho de ser nordestino. Ainda no vídeo, Costa diz que "exercitando a boa educação que aprendeu", convidou o atual governo federal a estar presente nesta grande festa de inauguração do Aeroporto Glauber Rocha.
"Infelizmente, confundiram a boa educação com covardia e, desde então, temos presenciado agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia."
Na rede social, o post do presidente foi rebatido pelo deputado federal Waldenor Pereira (PT-BA). Segundo ele, Bolsonaro "precisa conhecer o nome do aeroporto, que é Glauber Rocha, cineasta baiano, grande combatente do fascismo e populismo que você representa. As baianas e baianos não deixarão você manchar sua memória".
Já o deputado Helder Salomão (PT-ES), afirmou que Bolsonaro evitará contato com nordestinos no evento e que a filha de Glauber Rocha, homenageado com o nome do aeroporto, não comparecerá à inauguração por conta da presença do presidente.
Essa é a segunda viagem de Bolsonaro ao Nordeste, a região onde tem a menor taxa de aprovação. Em sua primeira entrevista como presidente, o presidente disse que os governadores nordestinos não deveriam pedir dinheiro a ele por o presidente deles “está lá em Curitiba”, numa referência a Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Operação Lava Jato.
De lá pra cá, como se fosse possível, as coisas só pioraram. A região Nordeste também concentra os maiores índices de fome e desnutrição do país, problema que, segundo o presidente afirmou na sexta-feira, “não existe”.
A oposição dos governadores nordestinos foi decisiva para que estados e municípios fossem retirados da reforma da Previdência, principal projeto do governo federal até aqui. Falta ainda a votação do projeto em segundo turno na Câmara e em dois turnos no Senado.
Os nove estados do Nordeste têm juntos 30 milhões de eleitores, além de compor 29% da Câmara (151 deputados) e 33% do Senado (27 senadores).