Luana Araújo, ex-secretária do Ministério da Saúde, na CPI da Covid (Jefferson Rudy/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 2 de junho de 2021 às 12h18.
Última atualização em 2 de junho de 2021 às 12h23.
A médica Luana Araújo, ex-secretária do Ministério da Saúde, afirmou em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira, 2, que a imunidade de rebanho pela propagação natural da doença, tese defendida por parte dos governistas, é impossível de ser atingida com o vírus da covid-19, pelo alto nível de mutação genética. O caminho, segundo ela, é a vacinação.
Luana ressaltou que o tipo de material genético do vírus da covid-19 é o RNA, que sofre, naturalmente, muitas mutações ao longo do tempo. "Esse tipo de material genético tem uma tendência a sofrer mutações, principalmente com relação à questão viral, com muita facilidade", explicou.
A maioria dessas mutações, no entanto, não faz diferença para quem pega. O problema é quando muda, por exemplo, o grau de transmissibilidade do vírus ou a capacidade dele de tornar a doença mais grave. "São nessas variantes que a gente acaba se concentrando", disse Luana.
"Isso tudo para explicar que uma imunidade de rebanho natural dentro do Sars-CoV-2 e da doença covid-19 é impossível de ser atingida. Não é uma estratégia inteligente", afirmou a infectologista. Ela explicou que a situação é diferente do que acontece com a vacinação, que deve ser estimulada.
"Com a vacinação, a gente consegue induzir uma resposta ao mesmo tempo mais sólida aparentemente do que a infecção natural e em um período de tempo mais curto. Consegue mobilizar sistema imunológico de forma mais clara", explicou Luana.
Além disso, sem sofrimento e mortes, ressaltou a infectologista. "A gente atinge imunidade de rebanho, com vacinação, sem sofrimento. Não posso imputar sofrimento e morte a uma população simplesmente pensando em atingir imunidade de rebanho. Isso não existe. Para mim, é muito estranho que a gente discuta esse tipo de coisa", disse.
"Que a gente adotasse determinadas posturas lá no começo, quando as evidências eram muito frágeis, tinha lógica. Agora, a gente perpetuar uma abordagem não técnica, não baseada em evidências no decorrer da pandemia é obviamente o caminho menos provável ou menos decente a ser seguido", disse Luana.
Também no depoimento, a médica criticou o "tratamento precoce" da covid-19, com remédios sem eficácia comprovada, como cloroquina. Para ela, é “delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente” a discussão sobre o assunto. "É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da terra plana a gente vai pular”, disse.
Esse tipo de discussão, na opinião dela, "não tem lógica" e mostra que o país está "na vanguarda da estupidez mundial", por discutir "uma coisa que não tem cabimento". Tratamento precoce não foi sequer um assunto discutido com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nos 10 dias em que ela esteve na secretaria, afirmou.