Gilmar Mendes: "O presidente não precisa se preocupar em colocar ninguém na agenda" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de agosto de 2017 às 16h39.
São Paulo - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou nesta segunda-feira, 7, que a imprensa criou uma "psicose" em torno das visitas que o presidente Michel Temer recebe no Palácio do Jaburu sem registro na agenda oficial.
"O presidente não precisa se preocupar em colocar ninguém na agenda, que esteja recebendo para um jantar. Foram várias pessoas. Vocês criaram essa psicose aí em torno do encontro com o presidente da República. Isso é uma bobagem", declarou Gilmar, em entrevista à Rádio Gaúcha.
Na noite de 7 de março, Temer recebeu no Jaburu o empresário Joesley Batista, da JBS, que o delatou à Procuradoria-Geral da República, mergulhando seu governo na pior crise política.
O próprio Gilmar foi recebido na noite deste domingo, 6, mas seu nome não apareceu na agenda de Temer.
Ao falar de seu relacionamento com o senador Aécio Neves (PSDB/MG), alvo da Operação Lava Jato, o ministro disse que está na vida pública desde os anos 1980.
"Veja que nós estamos hoje com cerca de 300 ou 400 parlamentares investigados no Congresso Nacional. E a toda hora nos encontramos com eles aqui em Brasília, e é inevitável."
Gilmar atacou o desafeto, Rodrigo Janot, procurador-geral da República. "Não tem preparo jurídico nem emocional para presidir um órgão dessa importância", afirmou, em entrevista ao programa Timeline, da rádio Gaúcha.
"Eu o considero o procurador-geral mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria", disse o ministro.
Em nota, José Robalinho Cavalcanti, procurador regional da República e presidente da ANPR, defende Janot:
"Representante de 1.300 membros do Ministério Público Federal, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) vem a público repudiar os ataques absolutamente sem base e pessoais ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, proferidos em deliberada série de declarações, nos últimos dias, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes.
Em primeiro lugar, e desde logo, é deplorável que um Magistrado, membro da mais alta Corte do País, esqueça reiteradamente de sua posição para tomar posições políticas (muito próximas da política partidária) e ignore o respeito que tem de existir entre as instituições, para atacar em termos pessoais o Chefe do Ministério Público Federal. Não é o comportamento digno que se esperaria de uma autoridade da República.
O furor mal contido nas declarações de Gilmar Mendes revela objetivos e opiniões pessoais (além de descabidas), e não cuidado com o interesse público. Rodrigo Janot foi duas vezes nomeado para o cargo de PGR depois de escolhido em Lista Tríplice pelos seus pares, a última delas com consagradora votação de quase 80% de sua classe.
Em ambas as indicações foi aprovado pelo Senado Federal por larga margem, tudo isso a demonstrar o apoio interno e externo que teve, mercê de seu preparo técnico, liderança e história no Ministério Público Federal. O trabalho do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, nestes quase quatro anos de mandato, por outro lado, foi sempre impessoal, objetivo, intimorato e de qualidade.
Não por outro motivo tem o apoio da população brasileira. O Ministério Público não age para perseguir ninguém, e não tem agendas que não o cumprimento de sua missão constitucional. Tampouco, todavia, teme ou hesita o MPF em desagradar quem quer que seja, quando trabalha para o cumprimento da lei e promove a justiça.
O Procurador-Geral da República assim tem agido em todas as esferas de sua competência, promovendo o combate à corrupção e liderando o Ministério Público Federal na complexa tarefa de defender a sociedade. Se isto incomoda a alguns, que assim seja. O MPF e suas lideranças jamais se intimidarão. Estamos em uma República, e ninguém nela está acima da Lei".