(Evaristo Sá/AFP)
João Pedro Caleiro
Publicado em 5 de maio de 2020 às 18h42.
Última atualização em 5 de maio de 2020 às 19h33.
Um escândalo político, uma emergência de saúde pública e uma crise econômica não bastarão para levar ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro, de acordo com a Eurasia.
Em nota enviada nesta terça-feira (05), a consultoria de risco político avalia que o afastamento entrou de vez na agenda diante das acusações do ex-ministro Sergio Moro de interferência na Polícia Federal.
31 representações para tirar Bolsonaro do cargo já foram protocoladas, das quais 24 anteriores ao escândalo. É a maior média para um presidente neste ponto do mandato, mas nenhuma delas foi aceita por enquanto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodigo Maia, que tem essa prerrogativa.
Bolsonaro também vem promovendo uma escalada de tensão institucional ao apoiar manifestações antidemocráticas e adotar uma retórica cada vez mais agressiva contra os outros poderes e a imprensa.
No entanto, a Eurasia calcula em apenas 25% a chance de que ele não termine seu mandato. Para um presidente ser afastado, a consultoria vê três pré-requisitos básicos: a perda de apoio no Congresso, a perda de apoio popular e a perda de credibilidade no manejo da economia em meio a uma crise.
Fernando Collor em 1992 e Dilma Rousseff em 2016 cumpriam todas as condições, enquanto Michel Temer era extremamente impopular, mas conseguiu manter uma coalizão estável.
Bolsonaro não cumpre os requisitos, apesar da fraqueza dom o Congresso. A consultoria destaca que ele foi eleito com uma plataforma anti-establishment, não goza da confiança dos líderes partidários, e que suas tentativas recentes de cortejar o centrão tem potencial limitado.
A avaliação é que a força do presidente está em sua base de apoio relativamente sólida. Os números estão em queda: de acordo com a última pesquisa XP/Ipespe, a avaliação positiva do governo foi de 31% para 27%. Mas a Eurasia estima que para um impeachment, esse nível teria que cair abaixo de 15% e lá ficar por um tempo. Isso é considerado improvável - mas não impossível.
"A polarização política no Brasil e nos EUA dá vários exemplos de como alegações podem ser 'reformuladas' de acordo com diferentes narrativas. Mas se a pandemia no Brasil continuar a se deteriorar de forma significativa nos próximos meses, e os sistemas de saúde públicos em estados grandes como São Paulo e Rio de Janeiro colapsarem, o presidente poderá levar a culpa", diz o texto.
A avaliação é que se o impeachment acontecer, seria na segunda metade deste ano, no auge da crise econômica. Mas três fatores jogam a favor de Bolsonaro no Congresso. Parlamentares hesitam em abrir um impeachment no auge da pandemia, e há preocupação com as consequências de um novo afastamento quando as cicatrizes do último ainda não foram curadas.
Finalmente, há o problema de entregar o poder a um general, Hamilton Mourão, que ao contrário dos vices de Collor e Dilma, não é um político experiente com bom trânsito no Legislativo.
Bolsonaro permaneceria no entanto, em um cenário de forte deterioração fiscal, mesmo com um time econômico com credibilidade suficiente para evitar, pelo menos, uma crise financeira - caso este time não seja demitido, algo que a consultoria também considera improvável.
"Tudo isso sugere que o cenário mais provável para o Brasil no ano adiante é um presidente enfraquecido, mas não deposto. De um ponto de vista de reformas e de elaboração de políticas, este é provavelmente o pior equilíbrio".