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Impacto e desafio: liderando a era da IA no setor público

OPINIÃO | A habilidade dos líderes de navegar neste novo paradigma não apenas determinará a relevância futura das instituições públicas, mas também a qualidade da interação entre estado e cidadãos no mundo influenciado pela IA

IA: A compreensão do uso da IA vai além de reconhecê-la como um simples motor de eficiência (SvetaZi/Getty Images)

IA: A compreensão do uso da IA vai além de reconhecê-la como um simples motor de eficiência (SvetaZi/Getty Images)

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 13h19.

A revolução da Inteligência Artificial (IA) já cruzou a fronteira do setor privado. E neste trajeto está redefinindo o mundo com uma velocidade e escala sem precedentes, forçando uma reavaliação urgente de como as instituições públicas operam e interagem com os cidadãos.

Líderes públicos enfrentam o imperativo de entender profundamente e se adaptar rapidamente a essa nova realidade para elaborar políticas e estratégias que respondam efetivamente à transformação acelerada da sociedade. A IA não é apenas uma uma ferramenta operacional. Por ser uma tecnologia de propósito geral, a utilização da IA acarreta um fenômeno que redefine as fundações da sociedade e da governança pública, tornando essencial para todos os gestores compreenderem seu potencial disruptivo e preparar as instituições para uma necessária transição.

A compreensão do uso da IA vai além de reconhecê-la como um simples motor de eficiência. É preciso enxergá-la como um catalisador de mudanças que podem redefinir como os serviços públicos são projetados e entregues. Aplicações recentes de IA, especialmente a partir dos modelos generativos, têm o poder de simular e prever resultados de políticas antes de sua implementação, proporcionando um nível de análise e preparação antes inalcançável. Quando utilizada corretamente, ela vai permitir que os profissionais públicos se concentrem em trabalhos mais complexos, estratégicos e de maior valor.

No entanto, sua adoção carrega desafios significativos, como questões de viés algorítmico, privacidade e desemprego tecnológico, que demandam respostas astutas e proativas. Os líderes públicos precisam reconhecer a sua importância e lidar com os riscos rapidamente, como estabelecer alianças estratégicas com especialistas em IA e capacitar as instituições públicas a não apenas acompanhar, mas liderar essa nova fase da era da transformação digital.

E o contexto favorece. De acordo com um levantamento do site britânico Tortoise Media, realizado em 2022, o Brasil está na 39ª posição mundial no que diz respeito à capacidade de desenvolver tecnologias de inteligência artificial. Já em relação à implementação de políticas públicas para o desenvolvimento de IA, ficamos na 28ª colocação, sendo o país sul-americano mais bem posicionado em ambos os recortes.

Se conseguirmos ser mais eficientes haverá mais tempo para lidar com problemas mais complexos da sociedade, e não apenas a tarefas diárias, muitas vezes administrativas e burocráticas, de pouco valor para os cidadãos. Se integrarmos corretamente a IA ao fluxo ordinário de trabalho, veremos melhorias dramáticas no custo de operação da máquina pública. Mas se conseguirmos colocar os cidadãos no centro e refletir sobre as causas dos problemas com evidências, podemos utilizar a IA para auxiliar na criação de processos de trabalho inovadores de grande impacto.

Para isso, os líderes públicos devem promover um ambiente de experimentação e colaboração com diversos atores, como o setor privado e academia, permitindo que instituições públicas antecipem e moldem o impacto do uso da IA nas políticas públicas e, em consequência, na sociedade.

Aliás, o cidadão vem mostrando cada vez mais sua aptidão pelo assunto. Os gastos dos brasileiros com IA cresceram 120% nos cinco primeiros meses de 2023, segundo um levantamento do Itaú Unibanco publicado pela EXAME.

Estamos numa corrida contra o tempo para considerar os avanços tecnológicos de forma que ele resulte na valorização das capacidades humanas e na promoção do bem-estar coletivo. A habilidade dos líderes de navegar neste novo paradigma não apenas determinará a relevância futura das instituições públicas, mas também a qualidade da interação entre estado e cidadãos no mundo influenciado pela IA.

É neste sentido que o CLP lançará no dia 30 de novembro um guia para o uso da IA pelo setor público. O material, construído em parceria com a Microsoft, visa apresentar ferramentas que facilitem a atuação dos servidores nesse universo em constante mudança, visando maximizar os benefícios desta tecnologia revolucionária.

Parte da inspiração para futuras aplicações utilizando IA surgiram da experiência em imersões internacionais que realizamos recentemente em países como Finlândia, Estônia e Singapura. Entre os casos, destacam-se o uso da IA para otimizar o tráfego e melhorar os serviços de emergência, economizando recursos e melhorando a vida dos cidadãos. Além destes, agências governamentais estão explorando o uso de IA generativa para automatizar a criação de conteúdo público, desde documentos legais até material educativo, economizando tempo e recursos. Para líderes públicos, viabilizar projetos-piloto de IA, sem necessariamente ter a capacidade operacional para criar modelos, é um passo crucial. Isso pode envolver parcerias com startups e universidades, criando uma simbiose entre a inovação de origem privada e as necessidades públicas, estimulando o crescimento econômico e aprimorando serviços.

Esses exemplos ilustram a necessidade vital e imediata de os líderes públicos promoverem e facilitarem o uso consciente e estratégico da IA. Ao adotar essa tecnologia com discernimento, destreza e visão de futuro, as lideranças podem garantir que a IA seja uma alavanca para o progresso público e não apenas uma nova onda de desafios técnicos e jurídicos a serem superados.

Por Tadeu Barros, diretor-presidente do CLP; e Wesley Vaz, Auditor-chefe de governança e inovação do TCU e professor da Fundação Dom Cabral;

*As opiniões contidas no texto são pessoais e não expressam o posicionamento institucional do Tribunal de Contas da União

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