Pires, bairro encravado na mata: famílias com crianças e idosos não têm condições de seguir a pé até o centro da cidade e aguardam para serem resgatadas (Mariana Desidério/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 27 de janeiro de 2019 às 11h37.
Última atualização em 28 de janeiro de 2019 às 11h22.
Brumadinho (MG) — Famílias que vivem em locais mais distantes do centro de Brumadinho estão sendo evacuadas com o risco de rompimento de uma segunda barragem na cidade. Na sexta-feira, uma barragem de rejeitos de minério de rompeu e a lama invadiu a cidade, deixando 37 mortos. A barragem que corre o risco de romper agora é de água.
No bairro de Pires, que fica encravado na mata, com estradas de terra e casas simples, famílias com crianças e idosos não têm condições de seguir a pé até o centro da cidade e aguardam para serem resgatadas. Não havia carro da prefeitura, da vale ou dos bombeiros disponível para o resgate. Muitos moradores relataram falta de informação sobre o novo alerta e não sabiam para onde seguir.
Além da dificuldade de locomoção, há resistência de parte dos moradores. Um grupo de Bombeiros está passando a pé de casa em casa para alertar as famílias.
"Algumas resistem porque estão em lugares altos e dizem que a água não chega. Mas elas correm o risco de ficarem ilhadas aqui", afirmou o tenente Braga, do Corpo de Bombeiros.
EXAME acompanhou um grupo de cinco voluntários que foi até a região de Pires. O objetivo inicial era levar alimentos para uma casa com pessoas que haviam sido deslocadas de suas casas na parte baixa da cidade. No entanto, com o alerta dos Bombeiros, os voluntários passaram a tentar convencer as famílias a saírem do local. Dentre os voluntários, havia três pessoas que vieram do Rio de Janeiro e um morador local, que trabalha na quadra poliesportiva da cidade, João Paulo Brandão Dourado Vieira.
Cássia Figueiredo vivia com o marido e o filho pequeno na parte baixa da cidade e se abrigou na casa de parentes no bairro de Pires após o alerta emitido na madrugada de hoje. "Toda vez que tem enchente é isso. Minha avó que também morava na beira do rio foi levada para Belo Horizonte", diz Cássia. A cidade de Brumadinho está acostumada com as enchentes.
Na casa com Cássia estavam sete pessoas, sendo duas crianças. Duas adolescentes e um homem visivelmente alcoolizado seguiram na Kombi com os voluntários. As jovens foram levadas para a casa de um deles, que as conhecia de um trabalhão voluntário com jovens vulneráveis. O restante seguiria de carro em seguida.
"Eu não vou para abrigo", disse um dos moradores ao ser abordado. Outra mulher avisava que tinha crianças e um deficiente em casa. "Não tenho como descer sozinha com eles", disse. Ela ficou aguardando resgate.
Mais à frente, os voluntários tentaram convencer uma mulher grávida a sair de casa. Ela disse que sairia com o marido depois. Famílias com idosos também foram encontradas e ficaram no local esperando resgate. A cada tentativa de convencimento, a tensão na Kombi (que estava com problemas na embreagem) aumentava, com o medo de a barragem se romper e todos ficarem ilhados no bairro.
Na volta, os bombeiros pediram que os próprios voluntários retornassem em seguida para continuar a retirar os moradores, pois não havia carro oficial designado para isso. Eles tinham um ônibus na região, mas o veículo não passava pelas ruas do bairro.