Suspensão da fundação ocorre após pressão de servidores (Paulo Pinto/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 16h42.
Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 16h42.
Em nota conjunta com o Ministério do Planejamento, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou a suspensão temporária da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), alvo de críticas do sindicato e dos funcionários. A medida ocorre após protestos e é um dos pontos centrais da crise na gestão do presidente do órgão, Marcio Pochmann.
Em comunicado oficial, o IBGE e o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) afirmaram que estão mapeando modelos alternativos, que podem envolver mudanças legislativas em diálogo com o Congresso Nacional. O texto reforça que qualquer decisão futura será discutida com o instituto, o Executivo e o Legislativo.
“[O MPO e o IBGE] Resolvem, em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”, diz a nota.
Além disso, o Ministério do Planejamento garantiu que dará apoio ao IBGE por meio da Lei Orçamentária Anual (LOA), destinando recursos para a realização do Censo Agropecuário de 2025. Até então, o orçamento federal não previa verbas para essa pesquisa.
A crise no IBGE teve início em setembro, quando o Sindicato Nacional dos Servidores do Instituto (Assibge) descobriu a criação da fundação, que até então era tratada como sigilosa. Segundo Bruno Perez, diretor da Assibge, a proposta foi elaborada em julho, mas só veio a público dois meses depois.
Desde então, servidores passaram a contestar a fundação, apontando que sua criação representaria risco à qualidade dos dados e à autonomia técnica do IBGE. Além disso, alegam que enfrentaram medidas antissindicais, como criminalização de greves e uso da comunicação institucional contra o sindicato.
Nesta quarta-feira, funcionários organizaram um protesto em frente à sede do IBGE no Rio de Janeiro, rejeitando a criação da fundação e denunciando o que chamam de “medidas autoritárias” da gestão de Marcio Pochmann, que nega a existência de uma crise.
Os servidores temem que as pesquisas da nova fundação passem a competir com as do IBGE, reduzindo a autonomia do órgão e colocando em risco a qualidade dos levantamentos.
A suspensão da fundação foi anunciada logo após Marcio Pochmann participar de um evento em Brasília, onde apresentou o plano de trabalho do IBGE para 2025.
Na última sexta-feira, a direção do instituto solicitou ao Ministério Público a apuração de denúncias sobre supostas consultorias privadas prestadas por servidores. Em resposta, funcionários da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) publicaram uma carta defendendo-se das acusações e alegando que os comunicados da presidência representam ataques aos servidores.
Durante o evento em Brasília, Pochmann negou qualquer perseguição.
“As denúncias chegaram até nós, e nosso papel foi solicitar apuração dentro dos instrumentos internos do IBGE, além de encaminhá-las ao Ministério Público. Não há qualquer questionamento ao trabalho dos nossos servidores, pelo contrário. Mas, ao receber denúncias, meu dever é mandar apurar”, afirmou.
A direção do IBGE atribui o agravamento da crise à repercussão dessas investigações.
Enquanto a crise se intensifica, Marcio Pochmann iniciou uma viagem por diversas cidades para divulgar o plano de trabalho do IBGE para 2025. Servidores criticam a falta de diálogo, alegando que não foram consultados sobre as diretrizes do planejamento.
O itinerário começou na segunda-feira, em Belém (PA), passou por Recife (PE) e Brasília (DF), e segue para Vitória (ES) e Porto Alegre (RS) nos próximos dias. O IBGE também prevê atividades internacionais, cujos detalhes ainda não foram divulgados.
A insatisfação dos servidores já resultou em demissões em cargos estratégicos. Na última semana, 136 servidores vinculados às diretorias de Pesquisas Econômicas, Geociências e Tecnologia da Informação assinaram uma carta aberta criticando a gestão de Pochmann, que consideram “autoritária, política e midiática”.
O descontentamento também levou à saída de quatro diretoras. Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, da Diretoria de Pesquisas, pediram exoneração devido à falta de diálogo com a presidência. Em seguida, Ivone Lopes Batista, da Geociências, e Patricia Amorim Vida Costa, diretora-adjunta da mesma área, também entregaram seus cargos.
As mudanças na liderança do IBGE são mais um reflexo do desgaste na relação entre a presidência e os técnicos do instituto, que é referência em pesquisas sociais e econômicas, mas enfrenta sucessivas crises nos últimos anos.