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Ibama paralisa operações de Belo Monte por morte de peixes

A decisão foi tomada após o Ibama encontrar entre fevereiro e março, uma tonelada de peixes mortos foi retirada do local

Hidrelétrica de Belo Monte parcialmente concluída 05/04/2016 (Governo/Divulgação)

Hidrelétrica de Belo Monte parcialmente concluída 05/04/2016 (Governo/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de março de 2018 às 12h54.

Última atualização em 13 de março de 2018 às 15h20.

Brasília — A concessionária Norte Energia, dona da hidrelétrica de Belo Monte, foi notificada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para que paralise os testes e operações de suas novas turbinas, até que apresente uma solução definitiva para evitar a morte de peixes no lago da hidrelétrica. Entre fevereiro e março, uma tonelada de peixes mortos foi retirada do local.

A decisão foi tomada após o órgão ambiental averiguar que, a cada teste e acionamento de suas máquinas, Belo Monte tem causado a mortandade de milhares de pescados, inclusive no período de desova.

A decisão do Ibama, conforme apurou o Estado, foi tomada na última sexta-feira, após técnicos terem confirmado que o problema tem sido recorrente e que, mesmo após medidas tomadas pela empresa para acabar com o problema, a situação persiste.

A morte dos peixes ocorre por causa da força que os rotores das turbinas geram no fundo do reservatório. Ao entrarem em operação ou mesmo durante sua fase de testes, as turbinas sugam os peixes.

Cada máquina acionada em Belo Monte tem 611 megawatts de potência, e sua paralisação significa um impacto pesado no planejamento do setor elétrico.

Uma turbina da usina equivale a praticamente tudo o que será entregue pela hidrelétrica de São Manoel, construída na fronteira do Mato Grosso com o Pará, com capacidade de atender cerca de 2,5 milhões de pessoas.

O projeto de Belo Monte prevê que 18 turbinas com essa capacidade vão entrar em operação até meados de 2019. A concessionária já acionou oito dessas estruturas e espera a liberação do setor elétrico para entrar com a nona máquina em atividade. O Ibama, no entanto, aponta que as regras de acionamento não têm incluído medidas que protejam os peixes do Rio Xingu e quer parar os testes.

Entre janeiro e fevereiro, quando a Norte Energia colocou sua oitava máquina para rodar, o Ibama já havia notificado a empresa para que tomasse medidas e resolvesse o problema. Na semana de 16 e 24 de fevereiro, relatórios apresentados ao Ibama apontaram que 395 quilos de peixes (936 unidades de várias espécies) foram retirados mortos do rio.

Um dia depois, em 25 de fevereiro, a concessionária informou que usou duas técnicas para acabar com a mortandade. Uma consistia em fazer a injeção de ar com alta pressão no tubo de sucção das turbinas para espantar os peixes. A outra se apoiou em utilização de uma equipe de mergulho. Dois mergulhadores entraram na máquina e seguiram pelo interior do tubo de sucção até as pás da turbina, na tentativa de afugentar os peixes. Mas não deu certo, segundo o Ibama.

Nos dias seguintes, entre 25 de fevereiro e 5 de março, foram coletados 1.072 peixes mortos, equivalentes a 508 quilos. "As medidas propostas pelo empreendedor foram testadas (...) e se mostraram ineficientes", conclui o parecer do Ibama, apontando que as medidas "não indicam redução significativa nas taxas de perecimento de peixes".

Grade

O relatório técnico menciona casos de mortes de peixes ocorridos no acionamento da hidrelétrica de Teles Pires, na Amazônia, problema só solucionado com a instalação de uma "grade anticardume".

Procurado pela reportagem, o Ibama não comentou o teor de sua notificação. A Norte Energia confirmou que houve morte de peixes em fevereiro "acima dos valores esperados para esse momento do ano."

A empresa informou que "aplicará recursos para implantar e desenvolver barreiras e outras soluções tecnológicas que evitem a entrada de cardumes de peixes no tubo de sucção". Sobre a paralisação da usina, declarou que a medida "geraria graves efeitos à população local e às regiões para onde a produção da usina é escoada, o que resultaria em elevação dos custos das tarifas e prejuízos ambientais, decorrentes do acionamento das termoelétricas."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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