Remédio: em lugar de remédios que agem controlando apenas os sintomas mais graves, como delírios e alucinações, os pacientes recebem uma medicação capaz de melhorar também os demais efeitos. (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2013 às 17h47.
São Paulo – Uma doença mental que acomete pelo menos 1% da população, a esquizofrenia poderá ser tratada, em um futuro próximo, por um método mais eficaz do que o sistema convencional. Os testes estão sendo feitos com pacientes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Em lugar de remédios que agem controlando apenas os sintomas mais graves, como delírios e alucinações, os pacientes recebem uma medicação capaz de melhorar também os demais efeitos, como perda de memória, déficit de atenção e depressão, problemas que, frequentemente, condenam o portador desse mal ao isolamento social.
Após mais de uma década de pesquisa, cientistas brasileiros e canadenses descobriram que o componente de um antigo remédio usado para o controle da hipertensão arterial sistêmica grave, o nitroprussiato de sódio, mostrou ser eficiente também contra as disfunções no cérebro das pessoas afetadas pela esquizofrenia.
“A esquizofrenia é uma doença multidimensional, com sintomas psicóticos caracterizados por delírios e alucinações, mas que tem também outros sintomas negativos e cognitivos”, explica o cientista brasileiro Jaime Hallak, professor da FMRP.
O especialista é um dos coordenadores dos testes que estão sendo feitos em Ribeirão Preto, seguindo as descobertas desenvolvidas em conjunto com a Unidade de Pesquisa em Neuroquímica da Universidade de Alberta, Canadá, onde o trabalho é coordenado pelo cientista Serdar Dursun.
O trabalho já ganhou o reconhecimento científico com uma publicação na revista Archives of General Psychiatry/JAMA Psychiatry. E os testes feitos em pacientes do HC de Ribeirão Preto vêm demonstrando êxito, informou Hallak. Ele prevê que daqui a quatro ou cinco anos já esteja disponível em toda a rede de saúde do país o tratamento com base no nitroprussiato de sódio.
Hallak observou ainda que essa enfermidade costuma surgir no auge da adolescência ou no período de maior preparação para a vida adulta. E entre 50% a 60% dos pacientes apresentam uma resposta parcial ao tratamento.
Já em relação aos testes no HC de Ribeirão Preto, o cientista informou que a medicação à base do nitroprussiato de sódio indicou melhora de todos os sintomas da doença e sem apresentar efeitos colaterais. Após constatar evidências de melhoras que duraram até três meses, os pesquisadores estudam, agora, os efeitos com aplicações endovenosas de doses repetidas.
O que se buscou foi regular a presença do óxido nítrico, que é um gás na comunicação do sistema neurotransmissor, conforme informou Hallak. “Conseguimos resultados bem impactantes, e isso tem chamado a atenção dos pesquisadores mundo afora”, salientou ele. Para o cientista, a nova descoberta e os desdobramentos desse conhecimento, com novas experiências, podem provocar uma revolução no setor.