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Horário de TV estimula troca entre partidos e governos

Critério mais valorizado nos acordos interpartidários não é o programa de governo ou a identidade ideológica, mas o tempo que cada sigla tem no horário eleitoral gratuito

Haddad: em São Paulo, o governo federal negociou com o  PP, de Maluf, o apoio ao candidato. (Elza Fiúza/ABr)

Haddad: em São Paulo, o governo federal negociou com o PP, de Maluf, o apoio ao candidato. (Elza Fiúza/ABr)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2012 às 08h56.

São Paulo - Às vésperas das convenções municipais que definirão as coligações dos candidatos a prefeito, os partidos abriram a temporada de negociações e ofertaram espaço nos governos, vagas no Legislativo e ajuda para eleger vereadores de legendas aliadas, com o objetivo de angariar segundos a mais na propaganda eleitoral gratuita, no rádio e na TV.

O critério mais valorizado nos acordos interpartidários não é o programa de governo para as cidades ou a identidade ideológica entre as legendas, mas o tempo que cada sigla tem no horário eleitoral gratuito, que, na realidade, custará R$ 606 milhões em renúncia fiscal para o governo.

Os governadores têm cedido espaço nas secretarias em troca de alianças com seus candidatos nas capitais. Os prefeitos que concorrem à reeleição condicionam a manutenção dos aliados em seus governos ao apoio a suas candidaturas. Parlamentares chegam até a se licenciar da Câmara dos Deputados ou da Assembleia para permitir que um suplente assuma a sua cadeira no Legislativo e, em troca, apoie certa candidatura a prefeito.

As alianças pelo País reproduzem a disputa pelo PP, de Paulo Maluf, promovida por PT e PSDB, em São Paulo, na semana passada. Para conseguir 1 minuto e 35 segundos na TV, ao pré-candidato José Serra (PSDB), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sinalizou com a Secretaria de Habitação, com capacidade anual de investir R$ 1,5 bilhão.

Mas o governo federal atravessou a negociação e entregou para o PP, de Maluf, a Secretaria de Saneamento Ambiental, do Ministério das Cidades, que tem orçamento de R$ 2,2 bilhões. A articulação deixou o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, com um minuto a mais de tempo de TV que o adversário tucano.

A ação do governo federal também se reproduziu a favor do candidato petista em Salvador (BA), Nelson Pelegrino. O líder estadual do PR, o ex-governador baiano César Borges, foi nomeado vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal. Pelegrino e Borges reuniram-se na quinta-feira para tratar da coligação.

Os governadores também entram com o peso da máquina para atuar a favor dos seus candidatos. O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), atuou a favor de sua candidata em João Pessoa, Estelizabel Bezerra. Foi a campo e costurou acordo com o PC do B em troca da Secretaria Executiva de Meio Ambiente.


Sem apoio do governador, o PMDB, do pré-candidato José Maranhão, ofereceu ao PTB até vaga na Câmara. O presidente municipal da sigla, Benjamin Maranhão, é deputado e se licenciará abrindo espaço para o suplente, Armando Abílio, do PTB.

Governos - Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) costurou frente com 15 partidos para apoiar o seu candidato em Recife, Geraldo Júlio, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico. A ação garante a ele, por enquanto, o maior tempo de TV. As legendas que apoiam a candidatura ocupam espaços no governo: o PR, por exemplo, tem a Secretaria de Turismo, o PP a de Esporte, e o PTB, o Detran.

A mesma fórmula foi reproduzida por Cid Gomes (PSB), no Ceará, onde o governador empregou capital político para desamarrar o apoio a Elmano de Freitas, candidato do PT, com o qual rompeu, na disputa em Fortaleza. Fechou alianças com dez partidos em torno de Roberto Cláudio, que terá quase três minutos a mais na TV que o petista.

Em Porto Alegre, o candidato à reeleição, José Fortunati (PDT), construiu arco de alianças de 11 partidos, como PTB, PP e PMDB, que têm cargos no governo. O prefeito chegou a dizer que seria "incoerente" a permanência em seu governo de secretários que apoiassem outro candidato. Ele ofereceu espaço para o PT, que terá candidato próprio, em troca de aliança. Na última segunda-feira, ao confirmar o apoio ao prefeito, os dirigentes do DEM pediram "posição de destaque" na gestão Fortunati.

Também candidato à reeleição, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), formou aliança com 18 partidos, que deve dar a ele mais de um terço de todo o tempo de TV da corrida carioca.

As legendas que estão com ele fazem parte do seu governo, com pastas que vão da Pessoa com Deficiência até Administração e Ciência e Tecnologia.

Para o marqueteiro Nelson Biondi, mudanças na lei eleitoral que restringiram showmícios e outdoors aumentaram a importância da exposição na TV: "Nas cidades grandes, a TV é praticamente a única forma de expor o candidato. O tamanho da coligação tem relação direta com a importância que a TV ganhou".


Biondi destaca que o mais importante não é o bloco de propaganda com todos os candidatos, mas as inserções, de 15 ou 30 segundos, na programação. "O horário eleitoral pega o cara na condição de eleitor. Já nas inserções o eleitor assiste como consumidor, está mais desprevenido."

Segundo o cientista político Fabiano Santos, do Iesp (Instituto Estudos Sociais e Políticos da Uerj), além do tempo de TV, os candidatos querem mostrar capacidade de agregar. "É a sinalização para eleitorado e sociedade de ampliação do arco, capacidade de agregar forças", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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