Violência policial: o número de mortos pela polícia entre 2013 e 2014, é maior do que a quantidade de feridos - 528 mortos, ante 390 feridos (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 10h29.
São Paulo - A pesquisa aponta um contraste entre as estatísticas de homicídios dolosos e as de letalidade policial na cidade de São Paulo.
Enquanto os assassinatos sofreram queda de 72,21% nos últimos 15 anos, as mortes decorrentes de ação policial avançaram 7,95%, segundo dados do sistema municipal PRO-AIM e do Estado.
Em 2014, foram 1.661 homicídios dolosos, índice inferior ao registrado no ano 2000, quando houve 5.979 assassinatos na capital paulista. Já a letalidade policial aumentou no período, subindo de 327 para 353 casos notificados.
O índice de letalidade registrado no ano passado é o maior da série histórica. Ele representa 21% do total de morte violenta intencional (MVI), uma categoria do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que mede o impacto das mortes provocadas por policiais.
A média nacional é de 5%, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública - feito pelo Fórum.
O resultado de São Paulo é considerado "significativo" pelo estudo. Para aferir o quanto a letalidade policial representa no universo de assassinatos, o índice de MVI agrega dados de homicídios dolosos, de lesão corporal seguida de morte, de latrocínio, de vitimização policial e de morte decorrente de ação policial, tanto em serviço quanto de folga.
"O peso das mortes cometidas por policiais é muito alto. Uma a cada cinco pessoas que são mortas na cidade de São Paulo é pela polícia", afirma a socióloga Jacqueline Sinhoretto, coordenadora do Gevac.
Feridos
O estudo mostra ainda que o número de mortos pelas polícias paulistas, entre 2013 e 2014, é maior do que a quantidade de feridos.
Foram 528 mortes no período, ante 390 feridos.
"O treinamento de tiro defensivo da Polícia Militar é para não atirar nas áreas vitais. Seria esperado um número de feridos superior ao de mortos. Essa é a orientação da PM", argumenta Jacqueline. "Mas o que verificamos nos dados não é isso. O que evidencia que alguma coisa no uso da força policial não está funcionando bem."
Para o consultor de segurança pública e coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, no entanto, os números não contrariam a orientação da polícia.
"O treinamento do policial é para dar dois tiros seguidos no tórax do opositor. A chance é muito maior de matar do que de ferir", afirma. "Policial não é treinado para atirar na perna ou no braço."
Segundo o coronel, a orientação para efetuar dois disparos é porque o agente "não pode se dar ao luxo de dar um tiro e errar" em confrontos. "Infelizmente, é a dura realidade. Por que o policial porta arma? Porque há uma série de condições de conflito em que essa arma pode ser necessária para neutralizar a pessoa."