Haddad: "uma pessoa que doa esse volume de recurso para uma campanha de vereador de 2008 não mantém contato com esse vereador?", questionou (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 12h35.
São Paulo - O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), pediu "cuidado" com os vazamentos de escutas, ao comentar as gravações telefônicas que citam uma suposta doação eleitoral de R$ 200 mil ao atual secretário de Governo, Antonio Donato.
"Temos que tomar uma série de cuidados", disse Haddad, em entrevista à Rádio Estadão nesta segunda-feira, 04. "A escuta contra o Donato diz de uma doação para a campanha dele de 2008. Ora, uma pessoa que doa esse volume de recurso para uma campanha de vereador de 2008 não mantém contato com esse vereador?", questionou.
"Essa pessoa manteve, se é que teve um dia, amizade, frequentou a casa, participou da campanha do ano passado?", indagou Haddad, que afirmou que o Ministério Público "vai ter todo o tempo do mundo" para esclarecer os fatos.
Uma escuta telefônica revelada pelo programa Fantástico, da Rede Globo, cita o secretário de Governo de Haddad, que teria recebido o valor do auditor Luis Alexandre Camargo Magalhães. O auditor é um dos quatro servidores da Prefeitura presos na semana passada acusados de formar um esquema de propinas para permitir sonegação de impostos na gestão Gilberto Kassab (PSD).
O prefeito disse que esteve com Donato duas vezes no domingo. "Ele diz o seguinte: como é que uma pessoa que participou da minha campanha em 2008 com esse volume de recurso, que é compatível só com grandes empresas, como uma pessoa física pode fazer esse tipo de doação e perder contato com você, não ter nenhum grau de relacionamento, amizade, familiaridade", contou o prefeito.
Haddad afirmou que Donato disse ainda ter sido procurado pelos envolvidos no esquema de propina. Eles disseram estar sendo perseguidos pela Controladoria Geral do Município. O secretário teria respondido que não haveria condescendência, mas que caso não tivessem cometido erros não precisariam se preocupar porque não haveria perseguição política.
"Com toda a determinação, com toda a transparência, temos que, sobretudo nesse momento, levar em consideração tudo que vier à tona para pisar em solo firme e conseguir punir quem realmente tenha que ser punido", disse o prefeito.
Ele mencionou, durante a entrevista, uma escuta que apontava que a sala usada para cobrança de propina seria do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). "Estávamos investigando isso e descobrimos que a sala não era do prefeito Kassab. A sala era alugada de uma entidade filantrópica pelo irmão do secretário Rodrigo Garcia, do governo do Estado", disse Haddad.
"Então não tem nada a ver, aparentemente, com o prefeito Kassab, e a escuta diz que a sala era do prefeito Kassab", afirmou Haddad, utilizando o caso como exemplo para reforçar que as escutas precisam de investigação.
Esquema de propina
Na entrevista à Rádio Estadão, Haddad enalteceu o papel da Controladoria Geral do Município nas investigações e disse ter esperança de recuperar os recursos desviados dos cofres da Prefeitura. "Tenho muita esperança em receber esses recursos de volta por duas razões: os bens estão bloqueados. Já tem R$ 80 milhões em patrimônio imobiliário que estão bloqueados", disse.
A segunda razão seria a colaboração e o desembolso das construtoras envolvidas no esquema. "Não é porque pagou propina chantageado que não vai pagar o que deve ao município. Vamos chamar as empresas que colaborarem com as investigações para fazer os depósitos do que devem."
"Conseguimos identificar um núcleo de corrupção na cúpula da Secretaria de Finanças que operou pelo menos de 2009 a 2012, podendo ter começado antes, e que deu um rombo para os cofres públicos de centenas de milhões de reais", reiterou o prefeito.
Ele apontou ainda que acredita que o caso terá "mais novidades". "Esse caso é enorme, de proporções que nem nós acreditávamos que fosse possível."