FERNANDO HADDAD: apesar de algumas igrejas já terem declarado apoio ao capitão reformado, o PT tem informações de que o posicionamento não é homogêneo (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2018 às 05h53.
Última atualização em 15 de outubro de 2018 às 07h43.
A campanha petista continua tentando reconquistar parte do terreno perdido para o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Agora, um dos focos é o eleitorado evangélico. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, terá um encontro com grupos evangélicos nesta semana, visando angariar apoio. Apesar de algumas igrejas já terem declarado apoio ao capitão reformado, o PT tem informações de que o posicionamento não é homogêneo.
Além do corpo-a-corpo, o partido também fará uma ofensiva na TV e nas redes. A ideia é mostrar que o programa petista está alinhado com o que prega o cristianismo e explorar a veia dos costumes. De acordo com o jornal, o casamento de 30 anos de Haddad será comparado ao histórico de divórcios de Bolsonaro. A mensagem: se há uma família tradicional na disputa é a de Haddad.
Na semana passada, foi a vez dos católicos. O candidato petista se reuniu com a Confederação Nacional de Bispos do Brasil e se comprometeu com cinco pontos levantados pelos bispos: combate à cultura da violência, defesa da democracia, fortalecimento dos órgãos de combate à corrupção, proteção ao meio ambiente e a preservação da vida, contra a legalização do aborto.
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou em rede social que a diferença entre Bolsonaro e Haddad sobe de 6% entre os católicos para 40% entre os evangélicos.
Na última pesquisa de intenção de voto do Ibope quando ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda era apresentado como candidato petista, de final de agosto, 31% dos evangélicos declaravam voto em Lula, ante 23% para Bolsonaro. Já no último levantamento do instituto antes do primeiro turno, 46% dos evangélicos manifestaram intenção de votar no capitão e 12% em Haddad.
Uma semana antes do primeiro turno, Bolsonaro recebeu o apoio oficial de importantes lideranças evangélicas, como o do bispo Edir Macedo, que comanda a Igreja Universal do Reino de Deus e é dono da emissora Record.
Coincidência ou não, o endosso de Edir Macedo foi sempre decisivo para a vitória. Em 1989, no segundo turno, ele apoiou Fernando Collor de Mello por ser o candidato que melhor rivalizava com Lula. “Era o medo de ‘um comunista’ ou ‘anticristo’ ganhar as eleições”, afirma o mestre em ciências da religião pela PUC-SP Rafael Lopez Villasenor em sua pesquisa “A estratégia política da Igreja Universal do Reino de Deus: um estudo sobre as eleições presidenciais 1989, 1994 e 2002”.
Em 1994 e 98, a igreja de Macedo apoiou Fernando Henrique Cardoso. O quadro mudou em 2000, quando o bispo Carlos Rodrigues, então deputado pelo PL, articulou uma aproximação com o petista. Edir Macedo e a Universal viriam a apoiar Lula e Dilma nos três pleitos seguintes. Quando perguntado por eleitores nas redes sociais para quem daria seu apoio nesta eleição, Macedo respondeu com apenas uma palavra “Bolsonaro”.
No fim de semana, Haddad disse que Edir Macedo adota um “fundamentalismo charlatão”. Um alento para o petista: apenas 4,5% dos evangélicos declara escolher candidatos a partir da indicação do pastor ou da igreja, segundo pesquisa da PUC-SP/INTERCOM. Segundo a pesquisa, 46,81% disseram que decidem o voto por identificação com o discurso ou as propostas do candidato. O problema: o discurso e as propostas com maior aderência, claramente, são os de Jair Bolsonaro.