Fernando Haddad: petista voltou a citar a elite brasileira: "estão cometendo um erro" (Leonardo Benassatto/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de outubro de 2018 às 14h51.
Rio - O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, criticou na manhã desta sexta-feira, 19, parte da elite brasileira que vota em Jair Bolsonaro (PSL) acreditando que ele será "tutelado por generais", caso eleito. "Todo mundo finge que não está vendo. O que está acontecendo é que todo mundo sabe quem é o Bolsonaro, mas acha que ele vai ser tutelado pelos generais, que não vão deixar ele fazer maluquices. 'A gente cuida dele para ele não aprontar'", declarou.
"Só que não é assim que acontece quando você dá uma caneta de presidente para uma pessoa com as características dele. Não funciona assim. Sobretudo no Brasil, em que as instituições não têm esse poder que pensam que têm", disse Haddad. "Vejam o caso que está acontecendo com quem deveria estar atuando nas eleições e não está, por medo. Jornalista ameaçado, ministro do Supremo ameaçado. Teve general aliado do Bolsonaro que ameaçou ministro de impeachment e prisão. É nessa circunstância que estamos vivendo. E as pessoas acham que vão tutelar? Não vão. A elite brasileira está cometendo um erro."
Sobre a denúncia publicada na quinta-feira, 18, pelo jornal Folha de S.Paulo, de que empresas compraram pacotes de disparos de milhões de mensagens via WhatsApp de apoio a Bolsonaro e contra o PT, ele afirmou que um posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diante desta "tsunami cibernética" poderá mudar o rumo das eleições.
"Vai ter um desequilíbrio muito grande daqui para a frente se a Justiça fizer vista grossa para o dinheiro de caixa dois. A Justiça deveria se debruçar sobre isso", sublinhou o candidato do PT. "Hoje saiu pesquisa do Datafolha que me dá 41 pontos, e o Vox Populi dá 47. Vamos supor que eu tenha 44 ou 45: estou a cinco pontos de vencer meu adversário. Uma ação ilegal como essa pode impedir trajetória de reversão da vantagem dele. Estamos fazendo uma campanha de esclarecimento sobre quem ele é."
Haddad criticou o armamento da população proposto pelo adversário, via flexibilização do Estatuto do Desarmamento, e apontou o risco de o Brasil virar um "Estado miliciano" e que seria uma "volta à Idade Média". "Cortar direitos e armar a população é privatizar a segurança pública. Qualquer governante de país desenvolvido que falasse isso seria ridicularizado. Estamos num grande risco, que é o de aumentar a violência."
Ele instou a TV Globo, a Band, o SBT e a Record a "abrir o microfone" a ele diante da recusa de Bolsonaro em participar de debates. Afirmou que a oferta demonstraria um "compromisso com a democracia" das emissoras, e que negá-lo a isso indicaria um apoio delas a Bolsonaro.
Haddad afirmou que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva compareceu a todos os debates nos segundos turnos que disputou.
O candidato do PT deu entrevista depois de falar a uma plateia de apoiadores no Clube de Engenharia, no Rio, num ato convocado pela Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes), a Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) e outras instituições.