CPMI do 8 de Janeiro Mesa: advogado do depoente, José Alexandre Buaiz Neto; repórter fotográfico da Agência Reuters, Adriano Machado; presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA); relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Bancada: deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Foto: Roque de Sá/Agência Senado (Roque de Sá/Agência Senado/Flickr)
Redação Exame
Publicado em 17 de agosto de 2023 às 09h25.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro ouve nesta quinta-feira, 17, às 9h, o hacker Walter Delgatti Neto, preso preventivamente no início de agosto na Operação 3FA da Polícia Federal (PF). Ele é investigado por suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Foram apresentados seis requerimentos para a convocação de Delgatti no colegiado.
Os deputados e senadores afirmam que o depoimento do hacker visa a responder dúvidas sobre o envolvimento dele na "promoção dos atos criminosos contra a democracia e as instituições públicas brasileiras" e a relação com aqueles que "instigaram e financiaram os grupos e ações relacionados à trama golpista".
A CPMI também quer entender qual é a relação do hacker com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), outro alvo da Operação 3FA. "A oitiva do Walter Delgatti Netto, conhecido como 'hacker de Araraquara', poderá auxiliar esta Comissão a esclarecer como a Deputada Carla Zambelli atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022. O depoimento nos parece fundamental para a investigação dos fatos desta Comissão de Inquérito", afirmou a relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), no pedido de convocação apresentado.
Ontem, Delgatti prestou depoimento à PF na âmbito da operação 3FA. Na saída, o advogado do hacker afirmou que recebeu R$ 40 mil de Carla Zambelli para invadir o sistema do CNJ. “Ele faz prova de que ele recebeu valores de Carla Zambelli. Segundo Walter, o valor total chega próximo a R$ 40 mil. Se não me falha a memória, foi próximo a R$ 14 mil em depósito bancário e o restante em espécie”, disse o advogado Ariovaldo Moreira.
Em depoimento à Polícia Federal no dia 27 de julho, Delgatti culpou a deputada diretamente pela invasão do sistema do CNJ e inserção da ordem de prisão fraudulenta contra Moraes. Segundo a PF, o hacker disse que recebeu pagamentos de assessores da deputada, por transferências via Pix, no valor de R$ 13,5 mil como "contraprestação para ficar à disposição da parlamentar".
Segundo a PF, entre os dias 4 e 6 de janeiro deste ano, 11 alvarás de soltura foram indevidamente inseridos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, plataforma administrada pelo CNJ. Também foi incluído um mandado de prisão falso para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Delgatti é apontado como autor do ato.
Delgatti ainda afirmou, no depoimento de julho, que encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que lhe perguntou sobre a viabilidade de acessar o código fonte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e invadir a urna eletrônica. Segundo o hacker, "isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal".
Em coletiva após a operação, a deputada tentou blindar o ex-presidente da Operação 3FA. "O presidente Bolsonaro absolutamente não teve nada a ver com isso. Boa tarde", disse Zambelli ao encerrar a entrevista. A deputada afirmou que contratou o hacker para demandas próprias, de redes sociais e site.
Em 28 de julho do ano passado, Zambelli publicou nas redes sociais uma foto com Delgatti. "O homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro. Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito. Em breve, novidades", escreveu na legenda.
Delgatti ficou conhecido por hackear trocas de mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, hoje senador pelo Paraná, e do ex-procurador da República e deputado cassado Deltan Dallagnol.
Com codinome "Vermelho", ele já havia sido preso, em julho de 2019, na Operação Spoofing. À época, ele admitiu aos investigadores ter hackeado o celular de diversas autoridades do País. O hacker também afirmou que repassou o conteúdo das supostas mensagens entre Moro e Dallagnol ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, sem cobrar contrapartidas financeiras para repassar os dados. O caso ficou conhecido como "Vaza Jato".
O depoimento de Walter Delgatti Neto na CPMI do 8 de Janeiro acontece nesta quinta-feira, 17, a partir das 9h. A oitiva será transmitida pelo Youtube do Senado e da Câmara.
Com Estadão Conteúdo.